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ITABUNA: NENÉM E OS LENDÁRIOS BOTAFO E JANÍZAROS, p WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário é radialista, advogado e jornalista
Walmir Rosário , Salvador | 21/02/2023 às 11:52
Associação Atlética íItabunense
Foto: WR
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Jesuíno José da Conceição era o seu nome de batismo, mas todos o conheciam como Neném. Em campo, não escolhia a posição: ponta-direita, lateral-direita e quarto zagueiro pouco importava, ele apenas atendia à determinação do técnico. Atleta de fôlego corria no campo os 90 minutos e a prorrogação, se fosse necessário. No fim do jogo ainda apresentava muita disposição.

Neném passou por vários times amadores como o Botafogo do bairro da Conceição, onde foi vice-campeão em 1958, bicampeão pelo Janízaros, Flamengo e Seleção de Itabuna nos anos de 1964, 65 e 66. Como profissional, passou pelo Itabuna Esporte Clube, Vitória da Conquista, Confiança de Aracaju e Fluminense de Feira. Em todos eles colecionou amigos entre os jogadores, torcedores e dirigentes.

Neném era daqueles que gostavam do futebol alegre e jogado com amor. Como profissional aceitou ganhar apenas um salário-mínimo no Itabuna, apesar de receber muito mais nos times amadores. E fez isso para atender ao apelo de dirigentes como Zelito Brandão Fontes, que considerava um dos baluartes do Itabuna Esporte Clube, ao lado de outros, a exemplo de Charles Henri.

Jogava bola porque gostava, principalmente ao lado de craques da qualidade de Fernando Riela, Santinho, Mágua, Wilson Longo, Armandinho, Luizinho, Betinho, e outros jogadores espetaculares de sua geração. Encarava o futebol como coisa séria, tanto que se empenhava com muita seriedade nos treinamentos e nos jogos, para a alegria de dirigentes e treinadores.

Dono de uma saúde invejável, Neném costumava, nos dias de jogos, sair correndo de sua casa, no bairro da Conceição, até o campo da Desportiva. Dizia ser o preaquecimento. Nos treinos físicos fazia o mesmo e era sempre o escolhido para puxar a fila, o que causava certo desespero em outros atletas nem tão corajosos ou que não gostavam muito da educação física.

Esse empenho nas partidas e o fato de não se “mascarar” lhe valia o apoio da torcida, o que considerava fundamental nos jogos na Desportiva, principalmente na hora de encarar times grandes. Com a mesma determinação com que jogava contra um adversário do campeonato de amadores, enfrentava times do Rio de Janeiro ou Salvador, a exemplo do Flamengo, Bonsucesso, América, Madureira, ou Bahia e Vitória.

Apesar de ter trabalhado com técnicos experientes como Paulo Emílio, Ivo Hoffmann, dentre outros, admitia que naquela época os próprios jogadores discutiam entre eles a forma de jogar. Geralmente os técnicos apenas davam as camisas e os incentivavam. Na seleção amadora de Itabuna, dentro de campo, eram eles quem resolviam, sob a liderança de Tombinho.

Na avaliação de Neném, jogar no interior exigia bem mais do que atuar na capital, onde os times eram protegidos da Federação Bahiana de Futebol. Para vencer um jogo, não só era preciso jogar bem, precisavam se defender da marcação dos jogadores adversários, bem como dos árbitros, que já vinham determinados a fazer valer a decisão dos dirigentes da capital.

Neném ressaltava a péssima qualidade dos campos do interior, onde prevaleciam buracos de até 30 centímetros e gramados imprestáveis. Ele dizia gostar dos gramados que pareciam uma mesa de sinuca, onde a bola rolava macia. Disse-me certa vez que se antes houvesse televisão, onde os atletas do interior pudessem ver os jogos de grandes equipes, eles teriam aprimorado técnicas e jogado muito mais.

Mas nem sempre tudo são flores na carreira de um jogador, seja ele amador ou profissional. Neném jogou como ponteiro-direito, lateral-direito e encerrou a carreira como zagueiro. Em 17 de julho de 1968, jogando pelo Itabuna Esporte Clube contra o Bahia, Neném teve a infelicidade de marcar dois gols contra e o Itabuna perdeu pelo placar de 3X2. De início a torcida pega no seu pé, mas como ele tinha um grande saldo positivo logo esquece e Neném joga outras partidas brilhantes.

Mas apesar de todas essas facilidades tecnológicas, ele critica a falta de campos de futebol nos bairros, responsáveis pela revelação de inúmeros craques. Outro problema citado por Neném é a falta de visão dos dirigentes de Itabuna, que poderiam arregimentar bons jogadores em toda a região e treiná-los, colocando-os para disputar posição, em vez de contratá-los fora.

Neném admite não ter ganhado muito dinheiro com o futebol, mesmo com as oportunidades que teve. E não foi por falta de chances, já que foi convidado para jogar em equipes do Rio de Janeiro e da Venezuela, onde abundavam os petrodólares. Um exemplo é que o empresário Mituca permaneceu nove dias em Itabuna aguardando sua resposta, negativa, por sinal.

E Neném era uma pessoa querida por todos por onde passou. Era uma presença obrigatória no Bar Avenida, onde se falava muito de futebol e política e no Beco do Fuxico. Além do futebol, Neném foi comerciante de gado, fazendas e açougues, e deixou muitas saudades no meio desportivo baiano.