ZédeJesusBarrêto comenta a Zebra samurai, show espanhol e Courtois
Tasso Franco , Salvador |
23/11/2022 às 18:26
Vá contando até 7
Foto: REP
Os espanhóis golearam e deram espetáculo, no quarto dia de competição da Copa, um verdadeiro baile ‘flamenco’ com sete gols, futebol coletivo. Os belgas, de quem tanto se fala e espera, só passaram pelo Canadá (1 x 0) por conta do goleiro paredão Courtois, que pegou pênalti e garantiu atrás.
E a Alemanha, hein? Sempre considerada uma das favoritas ao título, perdeu de virada (2 x 1) para a valente garotada do Japão, no que poderíamos chamar de a segunda grande zebra da competição, uma guerreira zebra samurai. No mais, o morrinhento 0 x 0 entre Marrocos e a Croácia do craque Modric, difícil de ver.
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Tá chegando a hora!
No clima de surpresas reinante nos bons gramados de Doha, cabe ao Brasil se precaver, jogar bola e brigar, disputar cada lance com vontade de vencer, sangue no olho, o tempo inteiro, ou ... Copa do mundo exige muita dedicação, aplicação, altruísmo, garra e equilíbrio emocional.
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Tem Brasil em campo
O Brasil estreia nesta quinta-feira, dia 24, às 16h (hora de Brasília), pelo Grupo G, contra a Sérvia, no Estádio Lusail, com capacidade para 80 mil pessoas, localizado a uns 20km/norte do centro de Doha. A Sérvia não está na prateleira de cima do futebol europeu, mas tem uma equipe de futebol coletivo compacto, atletas altos e bem dotados fisicamente, marcação dura, boa defensiva.
Tite optou por uma equipe ofensiva, com dois homens abertos na frente (Raphinha e Vini Jr), um centroavante enfiado no meio da zaga adversária, Richarlison; Neymar e Paquetá flutuando pelo meio campo.
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Fique ligado!
Antes, pelas 7h da matina desta quinta-feira, jogam Suíça x Camarões, no Al Janoub, o outro confronto pelo Grupo G do Brasil.
Às 10h, pelo Grupo H, Uruguai x Coreia do Sul, no Education City. Às 13h, pelo mesmo grupo, enfrentam-se Portugal x Gana, no Estádio 974.
É o fecho da primeira rodada da primeira fase, classificatória, da Copa.
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Courtois garante geração belga
Pelo Grupo F, Bélgica 1 x 0 Canadá, 16h de quarta-feira, no Estádio Ahmadi Bin Ali (40 mil pessoas), arbitragem da Zâmbia
A geração belga, de Courtois (o melhor goleiro do mundo), do meia De Bruyne, Hazard, Lukako, Witzel, Carrasco... comandada pelo espanhol Roberto Martinez, 49 anos, discípulo do holandês Cruijff, entre as melhores seleções européias faz tempo, mas sem títulos, favorita. O Canadá, treinado pelo inglês John Herdman, há 36 anos fora de copas (em 1986, no México, a Copa de Maradona); uma incógnita, mas conta com alguns atletas que jogam no futebol europeu (França, Alemanha, Inglaterra...) e é, hoje, a melhor seleção da área da Concacaf/América Central e Norte, bem treinada.
O Canadá todo de branco, a Bélgica de camiseta vermelha, detalhes e calções pretos.
- Os canadenses começaram melhor, atacando mais. Aos 9 minutos, bola chutada na direção do gol belga, bateu no braço de um zagueiro na área, o VAR alertou, o árbitro foi ver e marcou o pênalti. O craque do time canadense, Alphonso Davies, 22 anos, do Bayern Munique, bateu forte buscando o canto esquerdo, mas parou no gigante Courtois, que evitou o primeiro gol canadense em copa do mundo. Segundo pênalti desperdiçado, ainda na rodada de abertura da Copa.
Aos 22’, num rápido contragolpe puxado por De Bruyne, Hazard deixou Batshuayi de cara, mas ele demorou de finalizar e foi travado na hora do chute, na linha da pequena área. Muito equilíbrio de ações. Muito corpo a corpo, marcação no campo inteiro. O Canadá chegava mais, Courtois trabalhando.
- Gol! 1 x 0 Belgica, aos 44 minutos. Contragolpe rápido, Batshuayi recebeu em profundidade, no meio da zaga, o marcador não alcançou a bola, o atacante ganhou no corpo e o chute saiu forte, na saída do goleiro,
Jogo aberto, ofensivo, corrido; o Canadá até surpreendeu, pressionou, perdeu pênalti, mas... o gol foi dos belgas, no finalzinho do primeiro tempo.
A segunda etapa, as duas equipes fazendo substituições, aconteceu num ritmo mais morno, embora o Canadá continuasse pressionando, atuando com mais jogadores no campo inimigo, em busca de um resultado melhor. Raros lances de área, as defensivas se sobrepujando. Com o relógio andando, os belgas foram se fechando, administrando a vantagem, satisfeitos com o placar de 1 x 0. Os canadenses chegavam, pressionavam mas quando conseguiam varar e marcação e finalizar paravam no Courtois, sempre seguro, um paredão.
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Um baile espanhol
Espanha 7 x 0 Costa Rica, 13h, estádio Al Thumama, em Doha (40 mil pessoas), com muitos vazios nas arquibancadas. Grupo E. Uma das maiores goleadas na história da copas, e logo na estreia.
O jovem time espanhol comandos pelo ex meio-campista Luiz Enrique, 52 anos, uma “la fúria’, com nova geração pintando depois de Xavi, Iniesta, Sergio Ramos, Piquet e cia ... Talentosos garotos, uma aposta do treinador (Petri, Gavi, Olmo, Ascêncio, Eric Garcia...). A Costa Rica do veterano e rodado goleiro Navas, comandada pelo colombiano Luiz Fernando Suarez, 62 anos, querendo surpreender. A Espanha de vermelho (rojo), o time da América Central de branco.
Os espanhóis impuseram desde o começo seu estilo, sua escola de futebol de toque e posse de bola, muita movimentação, troca de posições, controlando as ações com inteligência. Uma academia, uma cadência, bom de ver. O passe como fundamento. Assédio total ao reduto costarriquenho, do começo ao fim.
- Gol! 1 x 0, Espanha. Aos 13 minutos, após uma troca incrível de 10 passes, de prima, costurando, Olmo abriu o placar, deslocando o goleiro. Show de bola coletivo! Beleza, plasticidade, um baile flamenco no início.
- Gol! 2 x 0 Ascêncio, aos 21 minutos, concluindo de primeira, de canhota, no canto, um bom passe de Alba pela esquerda. Objetivo. Amasso español. Os centro-americanos não veem a cor da bola.
O massacre continuou, os europeus não diminuíram o ritmo. Bola circulando no chão, troca incessante de passes de primeira, precisos. Os centro-americanos nem respiram.
Aos 29 min, o eterno lateral Alba foi derrubado na área da Costa Rica, pênalti!
- Gol! 3 x 0, Espanha. Ferran Torres bateu a penalidade deslocando Navas. Prenúncio de goleada (?). Um passeio de ‘la roja’ no primeiro tempo. O goleiro Unai Simon, da Espanha, só espiou o baba.
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Nada mudou na retomada do segundo tempo. Aos 2’, no tic-taque, Ascêncio disparou da meia lua cobrindo travessão de Navas, com perigo.
- Gol! 4 x 0, Ferran Torres, aos 8 minutos. Depois de outra sequência de troca de passes, Torres aproveitou-se de trapalhada defensiva dos centro-americanos e ampliou, passeando.
Aos 10’, Morata entrou no lugar de Ferran Torres (troca de avantes), o treinador Luiz Enrique começou a poupar uns, dar ritmo e chances a outros, mantendo o ritmo e o jeito de jogar da equipe. Balde, Koke, Soler, Williams...
- Gol! 5 x 0 Espanha. Gavi, 18 anos, aos 30 ‘, completando de primeira na área outra vistosa trama coletiva espanhola. Tinha mais. Gols e espetáculo!
- Gol! 6 x 0, Soler, aos 45’, pegando livre, na marca do pênalti, outra boa jogada de troca de passes rápidos pela direita.
- Gol! 7 x 0, Morata, aos 47’, completando outro tic-taque pelo miolo. Ficou de cara, fechou o caixão.
Uma España impiedosa, jogando fácil, simples, bonito e... eficiente. Uma aula de futebol.
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Esqueça ...
Foi um 0 x 0 insosso entre Marrocos x Croácia, abrindo a rodada do Grupo F, no Estádio Al Bayt, às 7h... O time europeu do meia Modric esbarrou na marcação dura dos marroquinos e na própria falta de imaginação.
Mas, na sequência, aconteceu um jogo quente:
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A zebra Samurai!
Que bela surpresa esse jovem e guerreiro time do Japão! Japão 2 x 1 Alemanha, de virada. Jogaço de bola, intenso e ofensivo.
Pelo Grupo E, às 10h, no Estádio Khalifa International (45 mil pessoas), duas escolas de futebol bem distintas: a aplicada e renovada ‘europeia’ Alemanha contra a também renovada equipe japonesa, que se destaca no continente asiático. Disciplina tática, coletividade e bons talentos individuais (Neuer, Rüdiger, Gundogan, Muller, Kimmich, Sané...) contra a força, aplicação e contragolpes em velocidade dos ‘samurais’.
Os alemães, de camisetas brancas, comandados por Hans-Dieter Flick, um ex-meia do Bayern Munique, 57 anos; e o Japão do treinador Kajime Moriyassu, um ex meia-apoiador da seleção nipônica, 54 anos.
Em campo ... foi o Japão que chegou primeiro, com um gol logo aos 7 minutos, anulado pela arbitragem por conta de um impedimento bem marcado. Os europeus com mais posse de bola. Aos 16’, após cobrança de escanteio da esquerda, o grandalhão Rüdiger testou tirando tinta do poste do goleiro Gonda. Os alemães atuavam mais próximos da área adversária, assediando, mas sem pressa. Poucas faltas.
- Aos 30’, o goleiro japonês Gonda dividiu duas vezes com o lateral Raum, derrubando-o. O árbitro apontou o pênalti, direto, em cima do lance, sem auxílio do VAR.
- Gol! 1 x 0 Alemanha, Gundogan, batendo firme e sem firulas a penalidade, abriu o placar.
- E teve ainda um gol de Havertz, completando na pequena área, após mais uma blitz alemã, mas o VAR flagrou posição irregular do atacante, impedido.
Os japas não pararam de correr e os germânicos não arrefeceram a pressão. Placar miúdo diante da superioridade tática e técnica dos alemães no primeiro tempo. O calorão desértico subindo, os alemães derretendo.
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Haja pressão, chances criadas, desperdiçadas ... os alemães não desaceleram. Aos 59’, Bundogan acertou o pé da trave de Gonda.
Mas, o tempo foi passando e os japoneses pareciam menos desgastados com a temperatura ambiente, equilibraram, passaram a atacar também, com mais fôlego. Gonda continuava trabalhando muito, fez quatro ótimas e salvadoras defesas, em sequência, por volta dos 70 minutos.
Como luta, como combate esse time japonês! Aos 73’, Neuer fez uma milagrosa defesa, num chute frontal, cara-a-cara; quase os orientais empataram. Jogo quente, em todos os sentidos. Daí ...
- Gol! 1 x 1 Japão! Aos 74’, Doan completou na frente da pequena área um rebote de Neuer, após pressão japonesa e chute cruzado da esquerda. Empate merecido, os asiáticos estavam mais inteiros em campo. Sobravam em valentia!
- Gol! 2 x 1 Japão, Assano, aos 83 minutos. Na velocidade, no corpo, Assano ganhou na área alemã de Kimmich, pela direita e encheu o pé na saída de Neuer. O gol da virada surpreendente, os asiáticos enlouqueceram ...
Já nos acréscimos, de sete minutos, Goretzka chutou da entrada da área, a bola raspou o poste de Gonda. Pressão dos europeus, inteiros na área japonesa, no desespero, até Neuer. Deu Japão, o improvável acontece.
Um triunfo da alma samurai japonesa. Exemplar.