O último adeus a Maradona entra para a história do futebol mundial e dos grandes fenômenos emocionais da Terra
Tasso Franco , da redação em Salvador |
27/11/2020 às 10:21
Diego Maradona
Foto: REP
Nesses meus longos anos de jornalismo - mais de 50 - nunca tinha assistido a uma comoção coletiva como a que vi pela TV e pela internet no velório e sepultamento de Diego Armando Maradona, o ídolo argentino sepultado ontem nos arredores de Buenos Aires.
Creio que nem mesmo os especialistas em esporte daquele país cuja população é apaixonada pelo futebol e por sua seleção esperassem pelo que aconteceu. A Argentina - em peso - parecia em estado de histeria, de compaixão, de dor, como se quizesse desabafar, quizesse dizer ao mundo que está viva apesar dos seus desastrosos e sucessivos governos.
A morte de Maradona chocou os argentinos e os amantes do futebol. Era único, um espetáculo, dentro e fora de campo. Que outro ídolo deste esporte fumava um charuto e ia para uma cadeira cativa torcer pelo seu time, gritar, brigar, incentivar os atletas? Que outro ídolo parecia imortal ficava à beira da morte e se recuperava?
Imaginava-se que morreria velho a partir dos 80 anos de idade como outros idolos do futebol argentino, aprontando das suas e sempre dando a volta por cima.
Os argentinos ficaram tão chocados com sua morte aos 60 anos de idade mesmo conhecedores dos seus dramas pessoais que foram como se tivessem perdido um pai a última esperança em suas vidas, o último ídolo, a última estrela.
Seria isso mesmo? O que aconteceu? Que fenômeno foi aquele que vimos sem precedentes na história do futebol? Na história da Argentina. Nem Perón, nem Evita conseguiram tanto.
Maradona dizia que não queria ser exemplo para ninguém. E não era mesmo. Irreverente, abusado, enolveu-se com drogas, com a máfina napolitana, mulherengo, encrenqueiro, borracho, mas amado pelo que fez com a bola dentro de campo.
Um craque sem precedente. Um mágico da bola. Um Dios como era chamado. E seu gol de mão na Copa do Mundo que resultou no apelido 'la mano de dios" ninguém nunca contestou de verdade.
Nem o papa Bergolio com quem esteve há poucos anos e beijou-lhe as faces. Que outros dios poderia ter feito isso com o papa o representante de Dios na terra. Solo outro dios.
Dois outros dios também se encontraram algumas vezes o dios argentino da bola e o dios cubano Fidel Castro, outro que não deve ser um exemplo, mas que é amado por milhões de pessoas pelo mundo afora.
A partida de Maradona deixa um vazio enorme na Argentina (e no mundo da bola). Quando vai surgir um novo Maradona? Dificil imaginar.
A Seleção Argentina a partir de agora ficará com uma responsabilidade ainda maior dentro de campo. O espectro de Maradona vai acompanhá-la onde se apresentar e os torcedores estarão no Obeslisco comemorando ou cobrando.
O mundo da bola - é verdade - não acabou. Segue seu caminho como o mais emocionante dos esportes, o mais apaixonante, um carma, um Deus. E nós, torcedores e admiradores a apreciar os nossos ídolos - modestos que sejam - e os dios da bola mundiais.