O Bahia foi campeão da Taça Brasil
ZedeJesusBarrêto , Salvador |
29/03/2019 às 18:03
Bahia campeão da Taça Brasil
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“Bahia, primeiro Campeão Brasileiro de todos os tempos”
Escrevia Ricardo Serran, em O Globo.
Mais do que vencer o Santos de Pelé, a melhor equipe do planeta, à época, o Bahia conquistava no Maracanã, com um público pequeno naquela noite carioca chuvosa de 29 de março de 1960, a Iª Taça Brasil - primeira competição nacional criada pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos) para ter um Campeão Brasileiro que pudesse, com legitimidade, representar o país na Copa Libertadores da América.
Brasil 3 x 1 Santos, há 59 anos. Tão vivos !
Único Primeiro Campeão Brasileiro. Fazer/ter História orgulha, engrandece.
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Ser baiano é ser Bahia
A conquista do Tricolor aconteceu num momento especial da história do país: o governo JK, a inauguração de Brasília, a Bossa Nova, o crescimento, as liberdades democráticas... Juracy Magalhães era o governador do Estado e Heitor Dias o prefeito de Salvador.
O Brasil acabava de se tornar Campeão Mundial na Suécia, com Garrincha, Pelé, Didi, Nilton Santos... Jogando pra cima a síndrome de ‘vira – lata’ que carregávamos, segundo Nelson Rodrigues.
A conquista do Tricolor coroou também um momento único na História de nossa Bahia. Salvador vivia sua renascença cultural. A Universidade do Reitor Edgar Santos fervilhava. Tornávamos o maior polo de criação do país – Teatro, Música, Dança, Artes Plásticas, Arquitetura, Literatura ... A negritude aflorava e a cidade abrigava uma seleção de professores e artistas vindos de toda parte do mundo para morar, trabalhar, criar, passear... deixando suas marcas na vida da cidade, gerações.
A boa baianidade estava em alta, nas manchetes. O azul, vermelho e branco nas janelas.
Nesse contexto, o Tricolor sagrava-se Campeão Brasileiro, primeiro e único.
Ser baiano era ser Bahia. Significados.
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Na bola, era um timaço !
O jogo contra o Santos, completo, na Vila Belmiro, com gol de Alencar (entrando de bola) aos 44 minutos do segundo tempo, foi um assombro. Leônidas da Silva, então comentarista, assustou-se. O que era aquilo? Não era possível.
O ponta esquerda Pepe, um mito, disse em entrevista: “Nenhum time do mundo venceria o Bahia naquele dia”. Ele estava em campo.
Além de ótimos jogadores, era uma equipe coesa, tinhosa, raçuda, veloz e traiçoeira. Um estilo de jogo que surpreendia. Atrás, um goleiraço, Nadinho, talvez o melhor da história do clube. Um miolo de zaga de respeito, Henricão e Vicente. Os laterais marcavam. No meio campo, a bola no chão, o passe correto, a visão de campo de Flávio e a técnica apurada de Mário Araújo, o camisa 10. Na frente, Alencar, veloz, inteligente e chutador, incomodando os zagueiros, e o experiente e técnico Léo Briglia de ponta de lança, o passe final, a finalização certeira.
Mas o que fazia mesmo a diferença naquele time era a postura dos falsos ponteiros, baixinhos, dribladores, criativos e incansáveis: o loirinho Marito e o pretinho Biriba. Atordoavam. Com a bola subiam em alta velocidade e sem a bola voltaram para fechar o meio, fustigando, recuperando a bola (no Bahia de Evaristo, Campeão Brasileiro de 88, Zé Carlos e Marquinhos faziam isso).
Na final do Maracanã, além da exibição inesquecível de Mário Araújo, o camisa 10, Marito e Biriba estavam endiabrados. No baile do segundo tempo, provocaram a expulsão do lateral Getúlio e do quarto-zagueiro Formiga, por entradas violentas, tontos, sem achar os baixinhos.
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Resumo dos jogos finais contra o Santos:
O primeiro confronto foi na Vila Belmiro, no dia 10 de dezembro de 1959. Bahia 3 x 2 Santos, de virada. Pelé abriu o placar, aos 15 minutos; o Bahia virou com gols de Biriba, aos 26’ e Alencar aos 12 do segundo tempo; Na pressão, o Santos empatou com Pepe, cobrando pênalti duvidoso em Pelé, aos 22 minutos. Mas, aos 44’, num contragolpe puxado por Leo, Alencar na corrida venceu os zagueiros e fez 3 x 2, entrando de bola. Talvez a maior partida da História do clube.
Santos – Manga, Getúlio, Urubatão, Formiga e Dalmo; Zito e Jair da Rosa Pinto; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Téc: Lula.
Bahia – Nadinho, Leone, Henrique, Vicente e Bato; Flávio e Bombeiro, Marito, Alencar, Leo e Biriba. Téc: Geninho.
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A revanche foi na Fonte Nova, no dia 30 de dezembro de 59. Santos 2 x 0, numa noite de Pelé. O negão arrebentou, ninguém conseguiria pará-lo naquele dia. Vi a arquibancada inteira de pé, aplaudindo-o.
Gols de Coutinho, aos 7 e Pelé aos 28 minutos do primeiro tempo.
O Tricolor atuou com o mesmo time do jogo anterior. O Santos: - Laércio, Feijó, Getúlio, Formiga e Dalmo; Zito e Urubatão; Dorval, Coutinho , Pelé e Pepe.
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O jogo extra, definitivo, aconteceu em campo neutro, no Maracanã, na noite de 29 de março de 1960. Campo pesado. O Santos chegado de longa excursão e sem Pelé, machucado, só espiando da boca do túnel, sem acreditar no que via. Em campo, Pagão o substituía.
Deu Bahia 3 x 1. E o título. Garrincha nos vestiários, comemorando com os baianos.
- Gols de Coutinho, aos 27 do primeiro tempo; Vicente, de falta, empatou aos 37. No segundo tempo foi um espetáculo de Marito, Biriba, Mário, Flávio, Léo ... O Bahia voando e o Santos sem pernas. Gols de Léo, a um minuto, e de Alencar aos 31, fechando.
Times: Bahia – Nadinho, Beto, Henrique, Vicente e Nenzinho; Flávio e Mário Araújo; Marito, Alencar, Leo e Biriba. O treinador já era Carlos Volante.
Santos – Lalá, Getúlio, Mauro, Formiga e Ze Carlos; Zito e Mário; Dorval, Coutinho, Pagão e Pepe. Lula o treinador.
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A chegada da deleção em Salvador aconteceu no dia 2 de abril, um fim de semana. Aeroporto cheio, carreata pela Orla, recepção do governador e do prefeito, um Carnaval fora de época na cidade tricolorida.
Não, não dá pra esquecer. Agradeço a graça divina de ter nascido Bahia.
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