Lembranças de uma tragédia do futebol brasileiro
NARA Franco , da redação em Salvador |
05/07/2017 às 11:28
Itália 3x2 Brasil
Foto: DIV
O estádio foi demolido. As lembranças do jogo mais trágico do futebol brasileiro hoje vivem nas imagens de televisão e na memória de jogadores e torcedores. Eu tinha 10 anos quando vi Paolo Rossi destruir a melhor seleção brasileira que vi jogar. Acho que a derrota de 3-2 do Brasil para a Itália em 1982 só perde em dramaticidade para os 2-1 do Uruguai na final da Copa de 1950.
A imprensa italiana festeja hoje, e com razão, o feito da seleção campeã do mundo na Espanha. Não eram os favoritos com nunca são. Começaram com três empates como sempre começam. Na segunda fase bateram Argentina e Brasil, que até àquela derrota vinha encantando o mundo do futebol. Cresceram quando tinham que crescer e levaram o título de forma bem pragmática.
Quando, caro leitor amante do futebol, veremos de novo na seleção um meio-campo com jogadores do nível de Sócrates, Cerezo, Falcão e Zico? Quem viu, viu. Quem não viu, nunca mais. Um meio-campo sem os temidos volantes? Aquele time comandado por Tele Santana criou a expressão "joga bonito", que até hoje é citada oela imprensa estrangeira em referência ao Brasil (pelo menos até o ridículo 7-1 da Copa de 2014).
Eu revi o jogo recentemente e fica evidente, alguns muitos anos mais velha, que o Brasil não jogou tão bem. A defesa falhou horrores e a seleção não sabia jogar pelo regulamento. Era um time extremamente ofensivo, de toques rápidos e jogadas plásticas. Mas naquele dia específico encarou uma seleção fechadinha e sem medo. Até hoje eu lembro do gol do Falcão que me fez pular no colo de um amigo da minha mãe enlouquecida (para uma criança de 10 anos). Mas nada deu certo naquele dia. Nada. Cerezo cruzou uma bola na entrada da área. Todas as bolas cruzadas tiveram rumo certo e o goleiro italiano, na época com 40 anos, fez uma defesa inacreditável no fim do jogo, quando Serginho Chulaoa acertou uma cabeçada que muitos viram dentro do gol. O empate classificaria o Brasil é o jogo estava 3-2.
Há 35 anos morria o futebol romântico e o Brasil entraria em crise existencial. A idéia, dali para frente era jogar como os europeus. O projeto começou em 1986 e teve seu ápice naquela aberração que foi o Brasil de 1990.
Depois da derrota do Sarriá veio um silêncio estarrecedor e uma tristeza nacional. Como em 1950, que muitos dizem ter sido uma seleção melhor que a de 1958. Essa eu não vi e não temos registros. Mas reza a lenda que após o segundo gol do Uruguai o Maracanã ficou mudo. Calado. Dizem que a torcida - 198 mil pessoas - deixou o estádio em silêncio total tamanho o impacto da derrota. O mesmo teria acontecido em 1982 caso o jogo fosse no Brasil. Não dava para acreditar.
Anos depois, no São Paulo, o técnico Tele Santana mostrou que era possível jogar bonito e ganhar títulos. Foi duas vezes campeão mundial de clubes com o São Paulo jogando de forma ofensiva contra equipes do porte de Milan e Barcelona. Foi a redenção de um dos melhores técnicos brasileiros.
Devíamos a ter aprendido com 50 e 82. Em 2014 também acreditamos que seria fácil. E nossa seleção nem chegava ao dedo mindinho desses dois times. Ironias do futebol. A seleção brasileira mais amada e admirada dos últimos anos, não foi campeã.