Esporte

Jogadores do futebol de 5 do ICB estreiam na Paralimpíada

todos os jogos da modalidade serão disputados no Centro Olímpico de Tênis, com ingressos à venda a partir de R$ 50
Texto & Cia , Salvador | 08/09/2016 às 22:56
Cassio Reis
Foto: Rodrigo de Oliveira

Os jogadores de futebol de 5 do Instituto de Cegos da Bahia (ICB), Cassio Reis, de 27 anos, e Jeferson Gonçalves, o Jefinho, de 26, estreiam AMANHÃ, 9, na Paralimpíada do Rio de Janeiro. Em jogo contra o Marrocos, eles representarão o Brasil no futebol de 5, versão do esporte para deficientes visuais (o que não se aplica ao goleiro). Todos os jogos da modalidade serão disputados no Centro Olímpico de Tênis, com ingressos à venda a partir de R$ 50.

Sem perder uma partida sequer desde os Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004, quando a modalidade se tornou olímpica, o país conta com os baianos na busca do tetracampeonato. Veteranos, o pivô Jefinho e o fixo Cassio disputam suas terceira e segunda Paralimpíadas, respectivamente. Em sorteio realizado em abril deste ano, os tricampeões olímpicos ficaram no grupo A e enfrentarão a Turquia, no dia 11, e o Irã, no dia 13, pela primeira fase. Os classificados de cada grupo se enfrentam até chegar à final, no sábado, 17.

O Brasil convocou sua maior delegação da história, com 287 atletas, e aposta em esportes como natação, atletismo e futebol de 5 para tentar ficar entre os cinco melhores colocados do evento esportivo. A 15ª edição dos jogos acontecerá de 7 a 18 de setembro, na cidade do Rio de Janeiro, e contará com mais de 170 países.

 

Atletas

Nascido em Candeias, no interior do estado, Jefinho perdeu a visão aos sete anos, devido a um glaucoma. Aos 12, entrou para o time do ICB - Instituto de Cegos da Bahia - e foi considerado revelação, tanto que dois anos depois estreou com a camisa da seleção brasileira. Em 2010, foi eleito o melhor jogador do mundo.

Cassio, de Ituberá, cidade a 320 quilômetros de Salvador, parou de enxergar aos 14 anos, em decorrência do descolamento de retina, seguido de catarata. Também começou a carreira no time do Instituto, em 2009, e é visto como um atleta dedicado e rigoroso com a sua rotina de treinos, priorizando sempre o esporte e sua atuação.

Juntos, eles também já conquistaram o Mundial da IBSA (sigla em inglês da Federação Internacional de Esportes para Cegos), na Inglaterra, em 2010, e no Japão, em 2014; os Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, em 2011, e Toronto, em 2015; e a Copa América da IBSA, realizada na Argentina em 2009 e 2013.

 

Trabalho em equipe

Treinador do Instituto dos Cegos da Bahia desde 1983, Gerson Coutinho, de 61 anos, reconhece que os meninos têm uma habilidade nata e se dedicam muito aos treinos físicos e técnicos, mas ressalta a importância do trabalho em equipe.

"Conseguimos transformar um jogo na pequena quadra do ICB em uma modalidade de alto rendimento. Hoje, todos os nossos jogadores têm bolsa e vivem do esporte", afirmou Gerson, que foi convidado a assistir aos jogos da Paralimpíada e fazer relatórios dos mesmos. Ele chega à Vila Olímpica – onde já estão os atletas – nesta quinta-feira, 8.

A intenção inicial de Coutinho não era "treinar atletas", mas, sim, dar aulas para ajudar os alunos a terem melhor mobilidade e mais independência. Ele já ensinou outras modalidades no Instituto e atualmente trabalha em parceria com o professor Antonio Bahia, que não poderá ir aos jogos em virtude de outros compromissos.

Jefinho e Cassio simbolizam o trabalho de incentivo ao esporte realizado no ICB, que também oferece oficinas de música e bengala, estúdio de gravação, produção Braille e cursos de informática aos atendidos. Tudo para conseguir atingir o objetivo do Instituto, que é a inclusão do deficiente visual na sociedade como cidadãos com direitos iguais a exercer e deveres a cumprir. 

 

Futebol de 5

Com direito a gols e dribles impressionantes, quatro atletas cegos e um goleiro que enxerga normalmente compõem um time de futebol de 5. O arqueiro, assim como os atletas-guia, do atletismo, e os calheiros/bochas, integra o elenco de apoio que auxilia os jogadores com visão comprometida. Quem joga na linha fica vendado para deixar todos em condições de igualdade, já que cada um possui um grau diferente de deficiência visual.

A bola tem guizos e cada time também tem um chamador, que fica atrás do gol adversário orientando seu time a atacar corretamente. Se houver falta ou pênalti, ele bate nas traves com um objeto metálico, para indicar a posição do gol através do barulho. Por isso, o silêncio da torcida é fundamental – a não ser na hora do gol, claro. As partidas duram 50 minutos, com 25 minutos cada tempo.

O esporte pode ser jogado em uma quadra de ginásio ou grama sintética, com as mesmas medidas do futebol de salão, mas a bola não sai da linha, pois existem barreiras.

 

História do Instituto de Cegos da Bahia

O Instituto foi inaugurado, oficialmente, no dia 30 de abril de 1933, em um casarão doado pelo então prefeito, Americano Costa, no bairro do Barbalho, centro de Salvador. Idealizada pelo professor Alberto de Assis, a organização surgiu da vontade de amparar deficientes visuais que viviam pelas ruas da capital baiana sem qualquer tipo de assistência. 

No início, aqueles que iam ao ICB em busca de instrução viviam no local com suas famílias em regime de internato e garantiam seu sustento trabalhando na confecção de vassouras. Em 1937, foi criada uma escola preparatória até o 5º ano do antigo curso primário. Se o aluno quisesse continuar os estudos, tinha que ir para o Instituto Normal, atual Instituto Central de Educação Isaías Alves Geral (ICEIA). Funcionou assim até 1959, com a construção de um novo prédio, em terreno situado no fundo da sede principal, com acomodações mais amplas e confortáveis.

Quando a inclusão social se tornou responsabilidade da Secretaria de Educação do estado, em 1961, as crianças que não enxergavam começaram a ser alfabetizadas e integradas às classes regulares, o que ainda prevalece. Já em 1998, com a criação do Centro de Intervenção Precoce (CIP), bebês que apresentassem problemas de visão poderiam ser atendidos, pela primeira vez, logo após o nascimento. Hoje, além do CIP, o Instituto também atua por meio de mais quatro divisões - os Centros de Educação Complementar (CEC), Tecnologia da Informação (CETIN), Apoio Terapêutico (CAT) e Centro Médico Oftalmológico (CMO).

Hoje, a instituição realiza, gratuitamente, cerca de 4,5 mil procedimentos por mês, gerais ou regulares (pessoas em tratamento). Sem limite de idade, os beneficiados são baianos que possuem baixa visão, cegueira, surdocegueira ou múltipla deficiência. Para saber mais sobre a história e o trabalho do ICB, acesse o site oficial.

 

Colaboração

Qualquer pessoa, em qualquer época do ano, pode ajudar o Instituto de Cegos da Bahia, mas poucos sabem disso. A colaboração pode ser financeira, através do site do ICB, ou por depósito em conta (ver dados abaixo). Há, ainda, a possibilidade de doar produtos – em bom estado de conservação – para a realização de um brechó. Neste, o dinheiro captado será todo revertido para a instituição. Mais informações pelo telefone (71) 3017-1800.

Dados bancários:

 

Banco Bradesco

Agência: 3662-5

Conta corrente: 11305-0