Memória esportiva
Extra , RJ |
14/08/2016 às 15:52
Myrea Luis, a lendária jogadora cubana
Foto: DIV
Todos os brasileiros que acompanharam o vôlei nos anos 90 já devem ter odiado Mireya Luis. Tricampeã olímpica e bicampeã mundial, a cubana era a responsável por comandar suas companheiras não somente nas vitórias contra a seleção, como também nas provocações. Considerada a maior jogadora de vôlei de todos os tempos, Mireya foi a mentora de uma das frases que tirava do sério a equipe brasileira: “Salta chica!”. Sempre que as cubanas bloqueavam um ataque, o deboche era certo.
Teve um motivo especial (se emociona). As pessoas pediam que escrevesse um livro, mas não me inspirava escrever sobre mim e muito menos as minhas memórias. Só que, um ano antes de começar a escrever o livro, minha mãe falou comigo que não lhe restava muito tempo na terra. Então, conversamos sobre o livro e resolvemos que era a hora de escrevê-lo.
Como é ser considerada a melhor jogadora de vôlei de todos os tempos?
Isso não me engrandece. O mais importante é que as pessoas sintam que posso ser um exemplo para elas. O importante não é ser a melhor, mas transmitir uma mensagem. Quero que as pessoas se sintam capazes de fazer o mesmo que fiz. Que elas podem jogar o mesmo voleibol, que possam ter três medalhas olímpicas, ser capitã de uma equipe, ser mãe. E que possam levar uma vida digna sem ostentar grandes coisas. Simplesmente, compartilhar com os outros.
Algum dia pensou que seria a melhor do mundo?
Não! Eu só queria jogar.
E como surgiu a rivalidade entre Brasil e Cuba?
Não existe um momento determinante. O nível esportivo do Brasil foi crescendo, a capacidade da equipe, e elas começaram a ver que podiam ser campeãs. Aí que cresceu a rivalidade, porque nós também queríamos ganhar e elas começaram a nos fazer frente. Quando o Bernardinho assumiu como técnico do Brasil, ele mudou a forma de a seleção jogar, treinar. E aí passaram a acreditar que podiam ser campeãs olímpicas e mundiais.
E a famosa expressão “salta chica”, que desestabilizava as brasileiras? De onde ela veio?
Todos os brasileiros me dizem: Salta chica, salta chica (risos). A frase surgiu no momento em que dizíamos coisas para provocar as brasileiras. Por exemplo: elas atacavam, nós bloqueávamos e eu dizia: Salta chica, salta chica! E acabou que se transformou em uma frase popular.
Depois de tantas brigas, ficou algum ressentimento?
Claro que não. Adoro todas elas, o respeito é grande entre nós. Há dois anos, vim passar o carnaval no Rio e sambamos na Marquês de Sapucaí. No próximo ano, quero voltar de novo para dançar com minhas amigas.
Cuba sempre mostrou um preparo psicológico melhor do que as brasileiras, tanto que exploraram essa vantagem. Como era feito o trabalho de fortalecimento mental?
Temos um programa educativo muito forte, essa preparação vem desde que começamos na escola. Esse trabalho de fortalecimento psicológico vem da educação, dos valores que te ensinam na família, dos valores que vêm de seu primeiro treinador, tudo isso te faz mais forte. E essa soma de valores desperta para a vida, faz com que a gente saiba onde quer chegar.
Qual sua análise sobre o atual momento vivido pelo vôlei cubano e brasileiro?
Cuba está muito por baixo, exceto no vôlei de praia masculino. Os motivos são vários. Há a saída dos atletas para outros países e a impossibilidade de termos uma seleção treinando por um logo período. Hoje, a questão econômica move muito o ser humano e nós temos sofrido com esse embate de grandes somas de dinheiro. Já o vôlei do Brasil vai bem. Sempre manteve seus treinadores, sua torcida, tem uma liga nacional que nós não temos, patrocinadores. Em Cuba, temos estrutura, mas falta essa parte mais profissional.