No mesmo dia do aniversário de Salvador o Bahia fez 3x1 no Santos, no Maracanã
ZédeJesusBarrêto , Salvador |
30/03/2016 às 11:54
Bahia campeão brasileiro de 1959
Foto: DIV
Como esquecer? Acabara de fazer 11 anos, a bola era sua vida e o tricolor sua paixão.
O título de primeiro campeão brasileiro, ganhador da IªTaça Brasil em cima do Santos de Pelé, lhe deu a noção exata do que era o estado de felicidade humana. Não esqueceria jamais aquele 29 de março de 1960, os 3 x 1 em pleno Maracanã, coração aos pulos, aquela vontade de gritar para o mundo: Campeão!
A cidade do São Salvador da Bahia comemorava seus 411 anos de fundada. Aquele título era um presente para seu povo festeiro. E que festa foi !
Acompanhara todos os jogos da campanha vitoriosa e dorida pelas fugidias ondas sonoras do surrado e único rádio da família, a válvulas, montando no juízo o filme de cada jogada em cima da narrativa oral do acontecido em campo. Lembra-se do gramado do maraca, o maior do mundo encharcado, a equipe santista, sem Pelé, estafada de umas daquelas vitoriosas e lucrativas excursões pelo velho mundo, e o time baiano voando em campo, com Marito e Biriba atiçando pelas beiradas, o jogo no papo.
O Bahia ganhou o título, de fato, uns três meses antes, ainda em 59, com aquele gol de Alencar ao apagar das luzes, nos 3 x 2 da Vila Belmiro, a baianada assombrando o país. Só foi ver as imagens do lance décadas depois, em VT, mas tinha-o desenhado na memória, frame a frame, de acordo com a locução daquela ‘noite memorável’ no sul maravilha.
A partida estava encardida, o poderoso Santos da melhor linha atacante de todos os tempos – Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe – e que não sabia o que era perder em casa chegara ao empate e pressionava de todo jeito nossa defensiva comandada por Henricão e Vicente. Já roera todas as unhas e, àquela altura, implorava aos céus para que o árbitro soprasse logo o apito final e acabasse com aquela aflição medonha. Afinal, fizemos uma partida exemplar e aquele empate já seria um feito, uma honra.
Daí, o goleirão Nadinho segurou mais uma tentativa da dupla Pelé/Coutinho e, com o adversário todo avançado, vislumbrou o avante Léo Briglia livre no meio campo, acionando-o; a bola chegou rápida e o meia logo ao dominar percebeu o deslocamento veloz de Alencar pela meia esquerda e enfiou aquela bola alongada e rente à grama que já deixou o artilheiro cearense no mano-a-mano com o último zagueiro, o da sobra, que ficou para trás. Alencar encarou o goleiro e poderia muito bem ter rolado pra direita onde o veloz Biriba entrava livre berrando “dê, seu filho da puta!”. Alencar fez que dava mas não deu, driblando o arqueiro, rolando pro gol vazio e caindo estatelado no chão de tanto prazer, logo amassado por Biriba, pelos companheiros de campo, por todos que estavam no banco de reserva e por um alucinado Osório Villas Boas que berrava pro goleador: ‘Não levanta, Alencar, fica estirado aí, faz que está machucado, o jogo acabou!’.
Sim, as lágrimas daquelas que lavam a alma descendo, conseguimos!
A partir dali tivera a certeza do título. Repetia, sonhava, ‘vamos ganhar!’