A CPI do Senado que investiga irregularidades no futebol brasileiro aprovou nesta quinta-feira a quebra do sigilo bancário e fiscal do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero. A devassa nas contas de Del Nero abrange o período de 12 de março de 2013 para cá.
Na pauta da CPI, havia também requerimentos para convocar Del Nero e o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, mas eles não foram analisados. Nesta quinta, foram convocados apenas o empresário e ex-presidente do Flamengo Kléber Leite, e o presidente da Nike do Brasil, Cristian Corsi. A data dos depoimentos ainda não foi marcada.
Também foram aprovados requerimentos solicitando informações ao Tribunal de Contas da União (TCU), à Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro e à própria CBF. Ao TCU, a CPI pediu informações sobre repasses do Ministério do Esporte às federações esportivas. À Junta Comercial, cópias do estatuto e de contratos da CBF. À confederação, a comissão solicitou contratos e a movimentação financeira da entidade com as federações estaduais e seus dirigentes.
O relator da CPI, senador Romero Jucá (PMDB-RR), defendeu que não houvesse convocações ou quebra de sigilo no momento, alegando que é preciso primeiro analisar as informações requisitadas para depois saber o que perguntar e o que procurar nos dados sigilosos. Acabou prevalecendo o entendimento de que os requerimentos nesse sentido seriam votados e aprovados, deixando para depois a definição do calendário de quando essas medidas serão colocadas de fato em prática.
— A gente trazer alguém aqui sem ter informações apenas para ouvir a versão da pessoa (convocada), sem ter condição de cruzar informações ou, de certa forma, discordar do posicionamento que fizer, teremos dois trabalhos: chamar, e depois chamar de novo quando tivermos esses dados em mãos — afirmou Jucá, acrescentando em outro momento:
— Quebrar o sigilo sem ter as informações que a gente quer procurar, eu não sei se seria a melhor forma de proceder.
O presidente da CPI, o senador Romário (PSB-RJ), afirmou que, no momento oportuno, Del Nero e Teixeira serão convidados a falar na CPI.
— Não é o momento ideal para chamá-los. Mas vocês podem ter certeza: palavra dada será cumprida. Da minha parte, serão convidados aqui, porque são pessoas que têm muito a nos contar sobre o futebol brasileiro dos últimos anos — disse Romário.
Além de Del Nero, a CPI aprovou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do empresário Wagner José Abrahão, no período que vai de 17 de maio de 2007 a 31 de maio de 2015. Romário apontou que, segundo reportagens da imprensa, ele é parceiro comercial da CBF em diversos contratos e também é suspeito de participar de negócios ilícitos.
Também foram aprovados convites para que falem na CPI: o presidente do Vasco, Eurico Miranda; a procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, responsável pela investigação que levou à prisão de vários dirigentes da Fifa; sete jornalistas fizeram reportagens ou escreveram livros sobre corrupção no futebol; um deputado e um ex-senador que já participaram de outras CPIs que investigaram irregularidades no futebol.
A CPI aprovou ainda a criação de um grupo de trabalho formado por três senadores para ouvir Charles Blazer, cartola dos Estados Unidos detido por envolvimento com o esquema de corrupção na Fifa. Também solicitou ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), o general José Elito, a indicação de um oficial de inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) para auxiliar os trabalhos da CPI.
A próxima reunião da CPI será na terça-feira da próxima semana, quando serão ouvidos alguns dirigentes de federações estaduais. Segundo Romário, ainda não foi definido quais dirigentes falarão na sessão.