Foi diante do Santos, na vitória por 3 a 0 na decisão do Campeonato Brasileiro de 1983, que o Flamengo alcançou o maior público da história da competição, com 155.523 torcedores no Maracanã. No próximo domingo, no mesmo estádio, hoje com capacidade oficial reduzida praticamente à metade (78.838 lugares), e contra o mesmo rival, o rubro-negro tenta alcançar uma meta bem mais modesta: apenas o melhor público presente da atual edição do torneio. No entanto, mesmo com a alta procura por ingressos pela torcida, superar o recorde do São Paulo (59.612 torcedores contra o Coritiba, no Morumbi, na 13ª rodada) não deve ser uma missão fácil.
Nesta quarta-feira, foi decidida a carga de ingressos para o jogo de domingo, quando o Flamengo buscará sua terceira vitória seguida na competição: 54.497 bilhetes. Considerando que o público total no Maracanã costuma ser entre 10% e 15% superior ao pagante, será preciso vender praticamente todos os ingressos para que a maior torcida do país, no maior estádio brasileiro, alcance um objetivo que deveria ser natural: confirmar sua força na arquibancada.
Para piorar, um anticlímax marcou a abertura das bilheterias do Maracanã, nesta quarta-feira: a revolta de torcedores pelo fim das entradas para o setor Norte, o mais barato (R$ 60, valor inteiro), causou uma confusão no fim da manhã, na bilheteria 4, que obrigou a concessionária que administra o estádio a interromper o atendimento por cerca de duas horas. Na confusão, houve vidros quebrados, barreiras derrubadas e até um princípio de incêndio no interior do guichê. O Maracanã registrou a ocorrência na 17ª DP.
A maior parte dos ingressos do setor Norte foram vendidos para sócio-torcedores, desde domingo, e via internet, na terça-feira. Quando a venda na bilheteria foi reaberta, já com a situação normalizada, à tarde, só havia ingressos para os setores Sul (R$ 70), Leste e Oeste (ambos a R$ 100). Na última parcial divulgada nesta quarta, mais de 27 mil ingressos já tinham sido adquiridos.
Mesmo que toda a carga à venda se esgote, não será possível para o Flamengo quebrar o recorde de público pagante no Brasileiro. No mesmo jogo contra o Coritiba, o São Paulo vendeu 58.482 ingressos, uma diferença de apenas 1.130 para o público total. Resta uma esperança, remota, de o Flamengo ter, contra o Santos, a maior lotação do futebol nascional em 2015. A marca também é do tricolor paulista, com 66.639 torcedores contra o Cruzeiro, em maio, pela Libertadores. Ainda assim, será preciso uma afluência quase perfeita, já que a carga total disponível para Flamengo x Santos é de 69.907 lugares, 15.410 acima dos ingressos à venda.
A diferência entre público pagante e presente no Maracanã se deve, basicamente a três fatores. Um deles é inevitável: as 4.318 cadeiras cativas, que fazem parte da história do estádio e ajudaram a viabilizar sua construção, não entram na conta do público pagante. O outro se deve à gratuidade garantida pela legislação estadual a idosos (acima de 65 anos), menores de 12 e portadores de necessidades especiais, contingente que ocupa, em média, 10% do público total do estádio. Contra o Santos, por exemplo, há 7.839 gratuidades disponibilizadas, inclusive para a torcida visitante. E, por fim, há a necessidade de separação de um setor equivalente a pouco mais de sete mil lugares - 10% da capacidade total - para a torcida visitante.
- O Maracanã tem todo interesse de que o Flamengo bata esse recorde, mas essa série de fatores, o principal deles relacionado à lei da gratuidade no Rio, que é bem diferente de outros estados. Quando você abre o estádio já descontando 7.839 gratuidades, esse é o primeiro ponto que impede o recorde de público, porque a gratuidade tem um impacto no público total, já que nem todas são utilizadas, no máximo 70%, e você não pode vender as demais - comentou o diretor de marketing do Maracanã, Marcelo Frazão.
Segundo o major Sílvio Luiz, comandante do Grupamento Especial de Policiamento de Estádios (Gepe), mesmo que haja uma ocupação pequena do setor destinado aos santistas, não há como ceder mais espaço à torcida do Flamengo.
- O Estatuto do Torcedor é bem claro, é preciso haver barreiras físicas entre a torcida local e a visitante, e isso é feito no Maracanã com uma grade fixa que delimita aquela espaço de cerca de 7.300 lugares, que equivale a 10% do público total - observou o comandante do Gepe.
Frazão acredita que a solução pode vir de uma mudança na alocação dos torcedores de fora do Rio, em jogos em que não haja perspectiva de pouco público visitante. A alternativa, no entanto, depende da aprovação do Gepe e de que o time rival abra mão da totalidade dos ingressos a que tem direito.
- Isso já foi tentado no jogo do Flamengo contra o León (pela Libertadores de 2014), mas não houve autorização do Gepe. Talvez seja o momento de retomar essa discussão. O Maracanã tem um entendimento de que é possível destinar, por exemplo, um pedaço da arquibancada Oeste Inferior, próximo ao setor Sul, e talvez ali você consiga acomodar a torcida visitante, em casos muito específicos. Não seria contra um Corinthians ou um Cruzeiro, mas contra times que tradicionalmente não trazem muitos torcedores ao Rio.