Esporte

O revezamento ‘12 mil x 300’ da tocha olímpica no Brasil

Existe uma preocupação com a qualidade da chama
Agência Globo , Rio de Janeiro | 04/07/2015 às 19:03

Tal como ocorre em uma das provas mais tradicionais da competição olímpica de atletismo, o revezamento 4 x 100m, a troca de “bastão” no percurso da chama olímpica também requer treino e atenção. No 12 mil x 300 (serão doze mil condutores, substituídos a cada 300 metros) do revezamento da tocha, o desafio é assegurar um “beijo” perfeito para não deixar o fogo apagar.

Porém, muito além dos cuidados técnicos para que tudo dê certo, a transferência da chama de um condutor para outro será, por aqui, uma atração à parte. E colorida, bem brasileira, como jamais ocorreu. Cada “beijo” da tocha, quando um condutor acende a peça de quem seguirá adiante, revelará tons em amarelo, azul e verde, que representam não apenas a bandeira do Brasil como também as marcas dos Jogos do Rio.

— Fechada, a estrutura é completamente branca. Ao ser aberta, ela aumenta um pouco de tamanho e é possível observar quatro camadas que são referências ao Brasil. A parte mais inferior é o nosso chão, com imagem que lembra um calçadão de Copacabana estilizado. A seguir, a tocha tem um espaço em azul, que remete aos nossos mares. O verde que aparece a seguir é uma referência às nossas florestas. A parte superior, com a chama, representa nosso céu e o próprio sol que nos ilumina — contou a diretora de Marketing do Comitê Organizador dos Jogos, Beth Lula.

O engenheiro e designer Gustavo Chelles, responsável pela concepção da tocha da Rio-2016, explica que a tocha é formada por vários segmentos, com um eixo central por onde passa o gás que alimenta o queimador. Eles são montados nesse eixo, e há um sistema mecânico onde se faz a abertura. Na hora em que ela libera a válvula de gás na parte de baixo, esse mecanismo é acionado, e a tocha se abre através do movimento de uma mola e um pistão de ar, que amortecem a abertura lentamente, aumentando o tamanho de 63,5cm para 69cm:

— Na hora em que é feita essa abertura para receber a chama de outra tocha, os segmentos se abrem e revelam a essência de brasilidade. Estamos nos esforçando para que ela seja o mais leve possível, para que a experiência de carregar a tocha seja boa.

A preocupação agora é desenvolver as estruturas internas que vão permitir a queima da chama olímpica de forma segura, sem oferecer risco aos condutores. O mecanismo que permitirá a travessia da tocha da Rio-2016 está sendo produzido na Europa. É lá também que os dispositivos de abastecimento e queima de combustível são elaborados.

A fabricação será de responsabilidade da empresa espanhola Recam Làser S.L., a mesma envolvida na confecção da tocha das Olimpíadas de Barcelona, em 1992. Participaram do edital de gestão de produção 11 empresas de vários países, todas com alguma experiência olímpica.

— No final, escolhemos a melhor proposta, não apenas em termos comerciais, mas técnicos também. Tem que ser uma combinação de qualidade e preço — disse Beth Lula, diretora de Marketing do Comitê Organizador Rio 2016, sem revelar os valores.

Serão 12 mil exemplares do modelo, que serão dados ou vendidos aos condutores. Eles serão selecionados pelos patrocinadores, como o Bradesco, que anunciou ontem a sua campanha da escolha dos clientes que conduzirão a tocha olímpica, e pelo Comitê Organizador, que elegerá pessoas com histórias de superação.

Como a chama percorrerá todos os estados brasileiros, em cerca de 300 cidades de diferentes climas, o escritório paulista trabalha em conjunto com o espanhol desde o início do ano para que o fogo jamais se apague nas mais diferentes condições climáticas, seja numa ventania ou num temporal. Eles fazem reuniões por teleconferência. Os brasileiros estiveram em Barcelona em maio, e os espanhóis também já vieram aqui. Ainda não está definido se a tocha passará por algum percurso subaquático.

— O desenvolvimento da chama é o mais importante. A chama que você desenvolve para Barcelona não é a mesma para o Brasil. Você muda as condições atmosféricas. No Brasil, ela vai passar por várias lugares frios, quentes, úmidos e secos. É bem desafiador fazer com que a chama se comporte da mesma forma em vários ambientes de clima diferente. Há uma série de testes feitos para simular as condições extremas da chama, para se ter certeza de que não vai dar problema — explicou Gustavo Chelles. — As condições já são feitas pensando no pior que pode acontecer durante o revezamento. Queremos que o combustível não seja tóxico nem danoso. Existe uma preocupação com a qualidade da chama.