A estrela que brilhou contra o Perú se tornou opaca
ZédeJesusBarrêto , Salvador |
18/06/2015 às 15:46
Neymar, bem marcado por Sanches
Foto: Reuters
Com uma exibição decisiva e de lances genais contra o Peru, na estreia pela Copa América, ele foi glorificado. Não faz semana. Na noite dessa quarta-feira, em Santiago, saiu execrado de campo, após a derrota (1 x 0) contra a boa seleção da Colômbia, 4ª classificada entre as melhores pela FIFA, na frente do Brasil.
Opaco, irritadiço, Neymar parecia outro. Errou tudo o que tentou em campo, teve de longe seu pior desempenho na era Dunga e, pior que tudo: tomou o segundo cartão amarelo, ficou suspenso do jogo de domingo contra a Venezuela, e complicou-se ainda mais depois do encerramento do jogo quando, sem aceitar a derrota e entrando na pilha das provocações dos adversários, envolveu-se numa confusão com alguns atletas colombianos e foi expulso: mais uma partida suspenso, em princípio.
Agora, vai a julgamento pela Comissão Disciplinar da competição e pode ficar de fora do restante da Copa América, o que deve acarretar num grande problema técnico para a equipe, dependente do talento dele, e mais prejuízos financeiros para a CBF.
Mascarado, irresponsável, imaturo, pouco profissional ... Foram algumas palavras usadas pela mídia esportiva para classificá-lo, diante do ocorrido.
Mas o que houve com o astro, com o humano Neymar ?
Para alguns companheiros ele estaria irritado com o tratamento diferenciado, tipo perseguição, que os árbitros praticam com ele. Exemplo disso foram os estranhos cartões amarelos que ele recebeu. O primeiro, na partida contra o Perú, por tentar ‘apagar’ um monte de espuma com que o árbitro marcou o local onde seria cobrada uma falta em favor do Brasil. O jogador achou que aquela quantidade de espuma poderia prejudicar a direção de seu chute. Daí, o árbitro amarelou, achando que foi uma atitude inconveniente. Convenhamos, um cartão aplicado por motivo, no mínimo, inusitado. O outro amarelo, contra a Colômbia, foi injusto, ocorrido quase no último lance da primeira etapa, a única chance de gol criada pelos brasileiros: após boa jogada e cruzamento de Dani Alves, Neymar mergulhou e testou para o gol, de cara com o goleiro que conseguiu defender de susto e a bola, no rebote, bateu no braço do atacante já em queda sobre a linha de gol, não tinha como evitar o toque.
Mas fica a pergunta: Isso teria sido o suficiente para ele entrar em campo estressado, errando passes e até no domínio de bola, logo ele, tão técnico e habilidoso? Ou haveria outros motivos?
Dentro de campo, talvez, escalado de forma equivocada por Dunga como avante metido pelo meio da zaga adversária, de costas para os zagueiros, sem ter com quem trocar passes, fora de suas características, tocando pouco na bola.
Talvez um motivo maior, fora de campo, sim. A Justiça espanhola anunciou, na mesma quarta, dia do jogo, que abriu um processo contra ele, o pai dele (que é seu agente), mais os dirigentes do Santos e do Barcelona pelos negócios nebulosos de sua transação entre o clube brasileiro de origem e o clube catalão, onde joga e tem contrato. São acusados de corrupção e fraude, que envolvem mais de 25 milhões de euros (R$ 85 milhões). Bem, além da quebrada financeira, o fato pode lhe render prisão, sim, pelas leis espanholas. O treinador Dunga, em entrevista depois do jogo, disse que esse acontecimento extra campo poder ter influído no desempenho do atleta, ‘um ser humano, como outro qualquer’.
O fato é que a estrela que brilhava intensamente, há uma semana, de repente escureceu, perdeu o encanto, tornou-se opaca. Luz e trevas, dia e noite, assim é feito a vida neste planeta errante.