O relator da MP do Futebol, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), apresentou nesta terça-feira uma versão preliminar do seu parecer desvinculando o refinanciamento das dívidas dos clubes de contrapartidas a serem cumpridas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), como a limitação de mandatos. Leite disse que tomou a decisão para evitar que a judicialização desta parte comprometesse o refinanciamento, mas ressaltou que as contrapartidas continuam a ser exigidas.
– Da forma como estava, se a entidade entrasse com uma medida judicial inviabilizava o parcelamento e agente perderia tudo. Eu mantive as exigências à CBF como regra autônoma. Eu não posso amarrar as regras e colocar uma vinculação que não é devida – afirmou.
A mudança foi criticada durante a apresentação do relatório na comissão especial que analisa o projeto. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) ressaltou que da forma como ficou o texto a CBF teria facilidade em derrubar a medida no Judiciário porque estaria havendo uma interferência direta na instituição.
– É uma armadilha para se derrubar esse artigo inteiro no futuro – afirmou.
O diretor do grupo de jogadores profissionais Bom Senso FC, Ricardo Borges, afirmou que numa análise inicial a mudança não parece positiva. O secretário nacional de Futebol do Ministério do Esporte, Rogério Haman, disse ter “dúvidas” se a alteração proposta pelo relator atende ao objetivo de evitar a judicialização sem comprometer a exigência de contrapartidas da CBF.
O texto apresentado retira a exigência de os clubes usarem recursos próprios para o futebol feminino, que estava prevista no projeto do governo. Otávio Leite disse que a exigência era um “excesso”. No seu parecer, propõe o financiamento do futebol feminino com recursos provenientes de duas loterias que ainda deverão ser criadas, uma raspadinha e outra eletrônica, ambas administradas pela Caixa Econômica Federal.
O relatório flexibiliza ainda as condições do refinanciamento. O governo previa um prazo de transição de três anos nos quais os clubes pagariam parcelas de acordo com suas receitas e suas dívidas. Na prática, as prestações poderiam ser até maiores do que se dividas em 10 ou 20 anos, como está previsto. O novo texto amplia o prazo de transição para cinco anos permitindo que nos dois primeiros anos seja possível ter “desconto” de 50% no valor cheio da parcela, no terceiro e quarto anos o abatimento poderia ser de 25% e no quinto ano de 10%. Os valores descontados nessa fase inicial teriam de ser quitados até o fim do refinanciamento.
Leite muda também o índice de correção dos débitos. A taxa básica de juros, Selic, deixa de ser o indexador e passa a ser o teto, podendo ser aplicado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais 4%, se for mais vantajoso aos clubes.
O texto trata ainda de temas novos como incentivos para ingressos populares e um sistema tributário diferenciado para clubes que se transformarem em empresas. Foi incluído também o direito de arena para árbitros de futebol. Ele propôs ainda alterações na Lei Pelé para ampliar o colegiado que vota nas eleições de clubes e federações. O objetivo é fazer com que os clubes da série B passem a votar na CBF, que atualmente tem colégio eleitoral composto apenas pelos 20 clubes da série A e as 27 federações estaduais.
Como não havia quórum na comissão o texto não foi apreciado. Na próxima semana os parlamentares farão o debate oficial e poderá ainda haver pedido de vista para adiar a votação.
Parlamentares da bancada da bola, como o ex-presidente do Cruzeiro Zezé Perrela (PDT-MG) e o vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, Vicente Cândido (PT-SP), fizeram críticas alegando que algumas das medidas propostas são interferências indevidas na gestão de clubes e federações.