Esporte

Dirigentes dos principais clubes do Brasil criticam MP do Futebol

Sessão foi realizada na tarde desta terça-feira, no Senado
Agência Globo , Brasília | 12/05/2015 às 18:04

Alguns representantes dos principais clubes de futebol se juntaram num discurso uníssono contra a MP do Futebol em sessão da comissão mista - formada por deputados e senadores - criada para debater e votar o texto do governo. A sessão foi realizada na tarde desta terça-feira, no Senado. A medida estende até vinte anos o prazo para pagamento das dívidas dos clubes que, em contrapartida, terão que dar transparência aos seus balanços, criar departamento de futebol feminino, além de acabar com as reeleições seguidas do mesmo dirigente à frente do clube.

O ministro do Esporte, George Hilton, já afirmou que o texto da MP é inegociável. Mas, mesmo deputados do PT admitem que o texto passará por muitas modificações para ser aprovada no Congresso. O fato de que, passados 30 dias, nenhum clube aderiu à proposta, é o argumento que comprova que as regras impostos não foram aceitas.

— É próprio do Congresso fazer alterações em propostas enviadas pelo governo, está dentro das nossas prerrogativas. A tendência é ter mudanças significativas na MP — afirmou o deputado Vicente Cândido (PT-SP), ligado a cartolas do futebol.

A audiência reuniu os dirigentes dos principais times da série A do Brasil e também times da série D, como Jacupiense e 13 de Campina Grande, da Paraíba. Deputados e senadores da chamada bancada da bola acompanharam as falas dos dirigentes, entre eles o senador Zezé Perrela (PDT-MG), vinculado ao Cruzeiro, e os deputados Silvio Torres (PSDB-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e José Rocha (PR-BA).

A reclamação geral dos dirigentes de clubes é em relação ao que consideram intervenção do estado prevista na MP. Daniel Diniz Nepomuceno, presidente do Atlético Mineiro, defendeu o "enxugamento" da MP e criticou o "intervencionismo" previsto nela. Segundo ele, a proposta tem que caminhar no sentido de encontrar soluções para as dívidas dos clubes.

O deputado José Rocha (PR-BA) cobrou que Nepomuceno e dirigentes que apresentassem sugestões de alterações no texto enviado pelo governo. O dirigente do Atlético respondeu que defende anistia de novas multas, maior número de meses para o pagamento da dívida renegociadas ( a MP fala em 20 anos) e que não haja qualquer tipo de intervenção, citando o exemplo do investimento em futebol feminino.

— Isso não cabe na MP. Nada contra o futebol feminino, mas o clube tem que decidir. E se eu preferir investir no futebol soçaite — disse Nepomuceno.

O senador Zezé Perrela (PSDB-MG), também fez duras críticas à MP.

— Essa do futebol feminino é um verdadeiro jabuti (nome dado a um assunto estranho ao tema de um projeto ou proposta de lei) Se a gente conseguir patrocinador, perfeito. Mas investir só porque a dona Dilma quer? Não sou mais presidente do Cruzeiro, mas se fosse jamais iríamos entrar nisso — disse o tucano.

O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Junior disse que a MP está com uma estrutura "equivocada, e que o que, tirando a parte que trata do refinanciamento das dívidas dos clubes, todo o restante é "inadequado e extemporâneo".

— As ligas aqui estão sendo praticamente impostas, quando são de geração espontânea. O que importa é alongar a dívida e melhorá-la. Outra coisa: é temerário, pelas circunstâncias dos clubes que as punições sejam personalíssimas nos dirigentes — disse Bolzan.

Segundo ele, se um dirigente renegocia a dívida, deixa o clube e depois outro dirigente deixa de cumprir as regra, o que fez a negociação não pode ser o penalizado e sim quem deixou de pagar.

— Somos a favor do refinanciamento que estava sendo negociado no Proforte. Do jeito que está na MP, não atende aos clubes — acrescentou o presidente do Grêmio.

O presidente do Avaí, de Santa Catarina, Nilton Macedo, também bateu na MP do Futebol.

— Como está terá consequências danosas ao futebol — afirmou Macedo.

O advogado Luiz Felipe Santoro, que representa o Corinthians na audiência, afirmou ser raro um clube não fechar o ano com déficit. Ele disse que o clube é favor do pagamento das dívidas, mas discordou das contrapartidas. Santoro afirmou também que, um exemplo da falta de recursos dos times, é que nenhum dos presentes à reunião tem 100% dos direitos de seus atletas.

O ex-deputado e atual dirigente da CBF, - entidade crítica da MP do governo, Walter Feldmann afirmou que o texto foi elaborado distante da possibilidade de resposta dos clubes.

— Uma MP que é feita para parcelar as dívidas e ter contrapartidas, entrou em outros campos que são inaceitáveis: futebol feminino, futebol de base, 70% apenas para pagar os jogadores, os trabalhadores, a questão da intervenção e centralização no sistema financeiro, uma conta só, a perspectiva de criação de liga, o envolvimento de toda a estrutura de organização do futebol. Ou seja, através dessa MP o governo, ao invés de fazer tudo o que fez com os outros setores, que é acertar as dívidas com contrapartidas e pagamento, entrou para reformular o futebol brasileiro, que não é uma função do estado brasileiro — disse Feldmann, otimista que, uma emenda substitutiva do relator, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), seria aprovada se o que a CBF considera excesso for retirado do texto.