Entre 7 e 18 de setembro de 2016, o Planeta Esporte estará voltado para o Rio. Menos de um mês após a festa dos astros das Olimpíadas - de 5 a 21 de agosto -, será a vez de outras estrelas, não menos importantes, brilharem em pistas, piscinas, ginásios e campos: os atletas dos Jogos Paralímpicos. A partir deste domingo, faltam 500 dias para que o país seja a sede das Paralimpíadas.
Se nas Olimpíadas serão mais de dez mil atletas de 205 países, nas Paralimpíadas serão 4.350 desportistas de 178 nações. De qualquer forma, serão os dois maiores eventos poliesportivos da história do esporte do país. Incluindo as novidades paratriatlo e paracanoagem, haverá 23 esportes, que assim como os Jogos Olímpicos, terão suas disputas na Barra, Copacabana, Deodoro e Maracanã, reutilizando a maioria das instalações olímpicas.
Brasileiro recordista de medalhas paralímpicas, com 15 (dez ouros, quatro pratas e um bronze), o nadador Daniel Dias, de 26 anos, nascido com má formação congênita dos braços e da perna direita, é da classe S5 (S se refere à palavra natação em inglês). Ele lembra de ter participado da campanha brasileira pela conquista da sede, em 2009, em Copenhague.
- A importância (dos 500 dias) é o fato de que teremos as Paralimpíadas em casa. É muito bacana, é uma alegria para nós atletas, por integrarmos este movimento. Parece que a escolha foi ontem - declarou ele, que este ano terá o Mundial de Glasgow, em julho, e o Parapan, em agosto. - Espero aumentar minha coleção de medalhas. Treino forte, e as medalhas são consequência disso.
No atletismo paralímpico, não faltam heróis verde-amarelos, como a velocista Terezinha Guilhermina, de 36 anos. Especialista nos 100m, 200m e 400m, ela tem seis medalhas paralímpicas (três ouros, uma prata e dois bronzes). No último fim de semana, no evento Mano a Mano, no Jockey Club Brasileiro, Terezinha, da classe T11 (cegueira total), fez uma apresentação em que Usain Bolt atuou como seu guia por 50m. Encantada, disse que isso demonstrou o respeito dele pelos paralímpicos. Antes de 2016, ela vai aos Jogos Para-Pan-Americanos, em agosto, em Toronto, no Canadá, e ao Mundial, em Doha, no Qatar, em outubro.
- Vai ser uma experiência singular ter, daqui a 500 dias, uma festa na nossa casa, com a maioria da torcida em português, e espero que a cereja do bolo fique para nós. Que fiquem todas as cerejas - riu ela. - Treino para obter o melhor, e isso chegará antes e durante as Paralimpíadas de 2016. Eu me preparo para chegar, fazer uma festa, correr e subir ao pódio dançando, para cantar o hino nacional.
Sétimo no quadro de medalhas das Paralimpíadas de Londres-2012 (21 ouros, 14 pratas e oito bronzes), o Brasil espera subir mais dois degraus.
- O objetivo em 2016 é o quinto lugar no quadro de medalhas, pelo número de ouros, depois do sétimo lugar em 2012 e do nono em Pequim-2008 - explica o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons. - Se queremos subir mais duas posições, teremos de ultrapassar os Estados Unidos e a Austrália, que são duas potências. É uma meta ambiciosa, mas os resultados de 2013 e 2014 nos mostram que estamos no caminho certo.
Segundo o dirigente, para que a delegação brasileira que irá ao Para-Pan-Americano de Toronto, em agosto, repita o primeiro lugar do Rio-2007 e de Guadalajara-2011, o CPB não conta apenas com os craques.
- Há a geração pós-Londres-2012, somada aos mais conhecidos. Estes jovens, por exemplo, são Verônica Hipólito, paralisada cerebral, e Lorena Spoladore, cega, no atletismo; Talisson Glock, amputado, na natação; Bruna Alexandre, amputada, no tênis de mesa - citou Parsons. - Todos já são campeões ou pelo menos medalhistas em Mundiais adultos. Nós ligamos competições do escolar ao alto rendimento, e eles têm apoio financeiro. Nosso CT de atletismo e natação, em São Caetano (SP), serve aos experientes e aos jovens.
Internacionalmente conhecido depois de ter superado o astro sul-africano Oscar Pistorius na final dos 200m nas Paralimpíadas de Londres, e após ter os títulos mundiais dos 100m, 200m e 400m em 2013, Alan Fonteles, de 22 anos, tirou um ano sabático, em 2014, para, como disse, se preservar para o Mundial de 2015 e a Rio-2016.
- Muita gente vai ver atletas paralímpicos competindo, correndo, nadando, e vai pensar: "Posso fazer esporte. Eles conseguiram. Eu também consigo." Muitos vão nos ver como exemplo. Nossa visibilidade e as Paralimpíadas vão ajudar muitas pessoas - previu Fonteles, que, se estiver bem fisicamente, tentará uma vaga também nas Olimpíadas do Rio.
Aos 26 anos, Daniel Dias crê que, com as Paralimpíadas em casa, os atletas terão mais visibilidade e patrocínio:
- Somos atletas tanto quanto os outros, e é uma boa chance para mostrarmos isso. E que o Rio se torne uma cidade acessível (a deficientes), assim como outras capitais.
I dealista, Terezinha já revela talentos paralímpicos no instituto com seu nome, em Maringá (PR), onde treinam 13 atletas deficientes de 13 a 50 anos:
-O esporte paralímpico para mim é a diferença entre a Terezinha que sonhava para a Terezinha que realiza sonhos. Consegui entrar por portas que, antes, toda forma de preconceito fechava. O esporte permitiu que me tornasse uma profissional, que pudesse viver do esporte. Se eu não fosse atleta, certamente seria alguém que investiria em um.