Matheus Santana deixou César Cielo sem medalha de ouro individual no Troféu Maria Lenk, encerrado ontem, na piscina do Fluminense. Na decisão dos 100 m livre, última chance para o campeão olímpico e mundial, quem brilhou foi o atleta do Unisanta, de apenas 19 anos. Ele ganhou o ouro com 48s78, deixando Cielo com a prata, com 48s97. Assim, Cielo encerrou a competição no Rio também com pratas nas provas individuais dos 50m borboleta (perdeu para Nicholas Santos) e nos 50m livre (prova vencida por Bruno Fratus). Além disso, o Minas, seu clube, que terminou a competição em segundo lugar (2.133), atrás do Pinheiros (2.138,5), também ficou com a prata nos 4x100m livre, e ouro nos revezamentos 4x100m medley, e 4x50m livre.
— Eu vim para me desafiar dentro da condição que cheguei aqui. Gostei dos 50m borboleta, mas queria mais nos 100m e nos 50m livre. Acho que de uma forma geral, os nadadores saem daqui com a cabeça que para o Mundial de Kazan, temos de nadar melhor do que isso — disse Cielo, que não vai aos Jogos Pan-Americanos, em Toronto, em julho, porque priorizará o Mundial na Rússia, em agosto. — Até agora tínhamos de nadar bem. Depois do Maria Lenk, temos de nadar especialmente bem. É hora de tirar os melhores tempos. Minha motivação até muda. Brinco que agora é que vou treinar de verdade. A vaga ta garantida, o Mundial está aí e a brincadeira começa de verdade.
Além das provas individuais, ele está de olho no revezamento 4x100m livre. Contando com os tempos do Torneio Open, em dezembro, e do Troféu Maria Lenk, a melhor formação de 4x100m livre é Bruno Fratus (48s57), César Cielo (48s58), Matheus Santana (48s78) e Marcelo Chierighini (49s06). O quinto na lista dos 100m livre é João de Lucca, com 49s15. Caso Cielo não dispute os Jogos de Toronto, Matheus pode ganhar a sua chance de brilhar no Pan. A Confederação Brasileira Desportos Aquáticos (CBDA), no entanto, só confirmará as seleções que vão para o Pan e o Mundial no fim de abril.
— Esse é o revezamento que a gente imaginou. Mas seria interessante que pudessemos treinar lá, todos juntos, já que três estão nos Estados Unidos (ele e Matheus treinam no Brasil). Casar com uma competição, um Grand Prix, por exemplo. E acho que esse treino de campo deve rolar antes do Pan — disse Cielo, já que o quarteto principal nunca nadou junto. — É para acostumar com essa troca, se familiarizar. Conhecer o estilo do nado de cada um. Na época do Flamengo, a ordem era sempre eu e o Nicholas (Santos), e o pessoal brincava que éramos o rezamento kamikaze. Mas não era pelo fato de que abríamos com os mais fortes. Era pelo fato de que a gente já se conhecia pela braçada. Eu olhava e sabia com qual braço ele ia chegar. Já antecipava a ação do cara e confiava na chegada dele.
Cielo explica que esse tempo de reação pode fazer diferença, se somados no conjunto, para uma medalha. A última medalha de revezamento do Brasil em Olimpíada (e Mundial) foi o bronze, com o 4x100 m livre, em Sydney-2000.
— É nisso que precisamos pensar, até porque os Estados Unidos fazem escola. A troca dos caras é muito boa, de todos. A gente não vê ninguém trocando mais do que 0,20 segundos. Quando treinava em Auburn (EUA), eles falavam que o ideal era esse tempo ser entre 0s10 e 0s15. Uma saída rápida e segura. Ninguém quer sair 0s0 ou 0s2 porque é arriscado. Mas também, a gente precisa voltar para aquela forma que os quatro estavam. Eu nadando 47 segundos alto.
Matheus, que vai para o revezamento, também vai nadar os 100m livre, pois Cielo desistiu da prova. Cielo comentou que este ano vai se dedicar aos 50m livre, aos 50m borboleta, além dos 100 m livre para o revezamento e que nas Olimpíadas não nadará os 100m, concentrando suas energias nos 50m livre e revezamento 4x100m livre.
— Recuperei a prova na segunda metade, voltei forte e deu certo — resumiu Matheus, sobre o ouro na prova mais importante de ontem. - Estou muito feliz com o revezamento (ele tinha o quarto tempo e conseguiu melhorar a marca, ficando em terceiro) e se o Cesar não nadar os 100 m lá, em Kazan, posso nadar essa prova também. Agora é treinar para conseguir uma medalha. Estou cada dia mais confiante. Esse tempo que fiz hoje (ontem) não é o meu melhor. Temos de nos unir bem para chegar no pódio.
Bruno Fratus disse que o revezamento, se confirmado com os quatro nomes, será o melhor time possível. Mas que é preciso abaixar os tempos para 47 segundos para pensar em medalha:
— Não se ganha competição no papel. Não adianta só somar tempo e fazer previsão. Temos de nos preparar para nadar bem.
Marcelo Chierighini, que treina com Bruno nos Estados Unidos, tem o quarto tempo do grupo (feito no final do ano passado, 49s0). Falou que ainda não está nadando o tempo ideal. E que os quatro precisam melhor:
— Aqui não mostramos o que podemos fazer de melhor. Não adianta falar muito, sabe? Tem de treinar.
De acordo com Ricardo de Moura, superintendente técnico da CBDA, esse treino conjunto entre os velocistas deverá acontecer nos próximos dois meses nos Estados Unidos. Já a a aclimatação para o Mundial será feita em Portugual.