Esporte

Emanuel sonha com sua sexta Olimpíadas

Curitibano quer buscar sua sexta olimpíada nos Jogos do Rio
Agência Globo | 23/03/2015 às 19:03

Medalhista de ouro em Atenas-2004, de prata em Londres-2012 e de bronze em Pequim-2008, o curitibano Emanuel, que completará 42 anos mês que vem, quer buscar sua sexta olimpíada nos Jogos do Rio, em 2016. Caso consiga carimbar seu passaporte novamente, ele igualará o recorde de participações olímpicas de três atletas brasileiros: o cavaleiro Rodrigo Pessoa, o mesatenista Hugo Hoyama e o velejador Torben Grael, que estiveram presentes em seis edições dos Jogos.

A grande diferença da marca de Emanuel para o recorde desses outros três nomes brasileiros é que a história do curitibano nas Olimpíadas se confunde com a do próprio vôlei de praia. Desde que o esporte entrou no programa olímpico, em Atlanta-1996, Emanuel não ficou fora de nenhuma edição sequer. De lá para cá, ele acompanhou de perto a evolução da modalidade, sendo responsável por algumas das principais mudanças no estilo de jogo nos últimos anos.

— Ao lado de Ricardo, em Atenas-2004, criamos um novo estilo de jogo baseado em um bloqueador alto (Ricardo) na frente e um defensor ágil (Emanuel) atrás. Antes, não existia muito essa preocupação. Os fundamentos não eram bem definidos entre os jogadores. Víamos duplas com dois jogadores baixos; outras, com dois altos. Depois da nossa campanha em Atenas, duplas do mundo inteiro começaram a adotar o nosso estilo de jogo, que virou padrão no vôlei de praia mundial — conta Emanuel.

Cultura esportiva será principal legado da rio-2016

A campanha bem sucedida em Atenas foi fruto de uma “preparação perfeita”, como afirma Emanuel. Pela primeira vez, uma dupla do vôlei de praia utilizou estatísticas em seu treinamento. O trabalho psicológico também fez parte desse pacote de planejamento, que foi criado com base nos erros e acertos das experiências vividas em Atlanta-1996 e Sydney-2000.

— Imagina... Em Atlanta, o vôlei de praia não tinha ideia do que eram as Olimpíadas. Não foi só a primeira vez para os jogadores. Tudo era novidade também para os treinadores, juízes, organizadores... Muita coisa mudou de lá para cá. Em Atlanta, eu tinha apenas um treinador, que era também o preparador físico, nutricionista, psicólogo. Em Londres-2012, eram onze profissionais trabalhando para a dupla— conta Emanuel.

Apesar de o esporte ter mudado muito desde Atlanta, é justamente dessa sua primeira experiência no megaevento que Emanuel lembra quando perguntado sobre o legado das Olimpíadas. A sensação de ter visto pela primeira vez os principais atletas do mundo competindo em grandes instalações esportivas criou no jogador de vôlei de praia uma vontade a mais de fazer parte dos Jogos e seguir em frente na sua vida de atleta.

— Lembro de ter visto em Atlanta o time de vôlei da Itália de perto. De repente, os jogadores que eu tinha como referência estavam ali na minha frente. Via também as instalações esportivas e ficava maravilhado... Dava vontade de competir nas outras modalidades. Senti orgulho de ser atleta e fazer parte daquilo. E esse lado cultural dos Jogos será o principal legado esportivo da Rio 2016, independentemente das instalações que estão sendo construídas — aposta. — Os brasileiros vão ver de perto os melhores atletas do mundo, as delegações passando pela cidade. Vão ter contato com modalidades que nem sabiam que existiam... Viver uma experiência olímpica na pele é algo único. Os brasileiros vão passar a ver o esporte de uma maneira diferente depois da Rio 2016.

Mesmo com suas cinco Olimpíadas, a primeira lembrança que vem à cabeça de Emanuel ao pensar na Rio 2016 é o Pan-Americano do Rio, em 2007, no qual também foi campeão, ao lado de Ricardo. Ele lembra que a energia era totalmente diferente. Existia um clima de positividade para com os atletas brasileiros não só por parte das torcida, mas também entre os organizadores e voluntários.

— O atleta brasileiro é muito passional, principalmente nos esportes coletivos. O nosso poder de superação é muito motivado por influências externas. Então, com o apoio da torcida, nossas chances de medalhas aumenta — acredita.

500 dias: período para ligar o alerta

Na Rio 2016, o Brasil terá duas vagas (no masculino e no feminino) no vôlei de praia. Uma será decidida pela posição da dupla no ranking mundial. A outra fica à critério da Confederação Brasileira de Vôlei. Após o último ciclo olímpico, ao lado do capixaba Alison, que lhe rendeu a medalha de prata em Londres-2012, Emanuel resolveu reatar com o baiano Ricardo, com quem foi medalha de bronze em Pequim-2008 e campeão em Atenas-2004. A parceria foi retomada no ano passado, uma década após o título olímpico. Apesar de admitir que começaram a preparação um pouco atrasado para as Olimpíadas, Emanuel afirma que a experiência dos dois otimiza o treinamento.

— Um ciclo olímpico de treinamento perfeito dura três anos. A 500 dias dos Jogos, é um período para se ligar o alerta. Quando estiver faltando um ano, a gente entra em uma corrida acirrada. O sprint final do treinamento acontece a seis meses das Olimpíadas. Retomei a parceria com o Ricardo em agosto do ano passado. Portanto, não tivemos esses três anos de preparação juntos. Mas somos dois atletas muito experientes. Sabemos o que funciona e o que não funciona. Então, não perdemos muito tempo, conseguimos dar uma qualidade muito grande ao nosso treinamento — explica.

As Olimpíadas são um evento de excelência. Portanto, os atletas precisam estar no auge de seus desempenhos. O caminho para uma medalha de ouro não é palpável. E isso interfere demais nas emoções de um atleta. Na cabeça de Emanuel, a melhor maneira para se lidar com a ansiedade pré-Jogos é treinando:

— Em qualquer Olimpíadas, tenho que chegar com um desempenho de excelência. E uma maneira para tentar materializar isso é investir pesado no treinamento dos fundamentos. Ajudo a controlar minha ansiedade treinando para ser o melhor no ataque, na defesa, no bloqueio, no saque... É uma maneira para quantificar o quanto aprimorei minha técnica e, consequentemente, me sentir mais confiante em quadra.

A Rio 2016 deve ser a despedida de Emanuel das Olimpíadas como atleta, mas o curitibano não consegue enxergar sua vida longe do esporte e do megaevento. Após se aposentar das quadras, ele pretende seguir trabalhando com o esporte. Para isso, já é graduado em marketing e fez dois cursos de gestão esportiva. Fisgado pelo espírito em Atlanta-1996 e campeão em Atenas-2004, ele quer continuar contribuindo para o esporte nacional.