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Ag Globo , RJ |
09/03/2015 às 22:08
Encerrada a parceria com a Unimed, os olhos dos tricolores se voltaram para Xerém. Havia quase uma certeza de que as divisões de base do Fluminense, donas do status de fábrica de jogadores, viveriam sua grande prova. No início do ano, reforços sem tanto currículo ganharam vez. Domingo, as atuações de Gérson e Kenedy contra o Botafogo pareceram um marco.
No clássico, além dos dois, jogaram Marlon, Marcos Júnior e Rafinha. São produtos de uma guinada recente, que tentou criar uma filosofia, um estilo que caracterizasse a escola tricolor.
Hoje gerente de futebol profissional do clube, Fernando Simone comandou a base nos últimos quatro anos. Ele chama de “dicotomia burra” o senso comum de que, na base, formação e busca por títulos não combinam. Defende a cobrança por resultados, mas sem sacrificar características do jogador em função do resultado.
— Lateral é lateral, meia é meia. Não dá, em nome do resultado, para colocar zagueiro de lateral por ser alto — explica. — Queríamos implantar uma cultura de futebol. Não era o resultado pelo resultado. Mas a busca pelo resultado como consequência de um estilo de jogo.
Neste estilo, passou a ser proibido o 3-5-2. O 4-4-2, só com dois meias, nunca com três volantes. E estes últimos, de preferência, deveriam sair para o jogo, sem que fossem transformados em meias por terem boa técnica. Simone garante que, mais do que vitórias, os treinadores passaram a ser cobrados para implantar o estilo.
Num calendário de competições deficientes no Rio, as frequentes viagens à Europa viraram ponto importante de teste dos jogadores. E de negócios. Permitiam confrontos com diferentes escolas e com os clubes mais importantes do mundo. As vitórias deram ao Fluminense a imagem, na Europa, de bom formador. Estava aberto um canal comercial. Recentemente, o presidente Peter Siemsen deixou claro que o clube cultivou relações comerciais com o objetivo de conseguir negócios.
Espinha dorsal mantida
Como em linhas de produção, de acordo com as características e as demandas do mercado, enxergavam-se dois grupos: jogadores com aptidão para mercados internacionais e os talhados para o time profissional do Fluminense. Neste segundo grupo, estavam Gérson e Kenedy.
— O primeiro ponto é ver se o jovem sabe jogar. Depois, se tem característica para o time principal do Fluminense ou se vai se encaixar melhor num clube europeu. Neste caso, trabalhamos o mercado. Mas os torneios no exterior serviram mesmo para melhorar nossos jogadores — diz Simone. — Desde cedo, Marlon, Kenedy e Gérson foram trabalhados para o time principal.
Com o fim da parceria com a ex-patrocinadora, a chegada de reforços sem tanta expressão levantou dúvidas. Afinal, esperava-se que os produtos de Xerém se projetassem. Havia quem defendesse que o clube tinha, em casa, jogadores do nível dos contratados. Agora, a lacuna deixada pela saída de alguns nomes de peso começa a ser preenchida.
— A situação financeira era delicada. Trouxemos jogadores dentro da realidade. E até podia ser verdade que tínhamos, na base, jogadores iguais aos que vieram. Mas não queríamos que os garotos ou os reforços fossem as únicas alternativas. Seria muito peso. Ficou a espinha dorsal, com Cavalieri, Gum, Jean, Wagner e Fred. E, em cada posição do time, há um jogador da base como alternativa — explica Simone.