São raras as vezes em que um surfista se muda com toda a família para o exterior em busca da evolução. O natural é que ele procure o seu caminho sozinho, assim como já ocorreu com nomes como Adriano de Souza, o Mineirinho, que viveu alguns anos na Califórnia. Com a água salgada circulando em seu DNA, Filipe Toledo fugiu à regra e tem colhido os frutos em tempo recorde. Mudou-se com os pais, os irmãos e o cachorro de Ubatuba, no litoral paulista, para San Clemente, nos Estados Unidos, bem ao lado do pico de Trestles, que recebe uma das etapas do Circuito Mundial de Surfe (WCT). A evolução pôde ser notada em poucos meses e hoje ele se considera um surfista mais completo.
- Estou me sentindo mais a vontade, mais tranquilo. Vida nova tem aquela energia muito boa. Me senti muito bem nos outros campeonatos, logo depois já ganhei o US Open e fui para Maresias sem pressão nenhuma. Acho que essa mudança para Califórnia resultou em muita coisa boa. E ter feito isso com toda a família me deixa muito mais confortável. A família é o ponto principal e todo mundo está gostando de morar nos Estados Unidos. A Califórnia é um lugar que eu me sinto muito bem. Sinto que ganhei muita experiência em pouco tempo e melhorei em pequenos detalhes que fazem a diferença no final. No ano que vem, vou treinar bastante para estar na corrida pelo título - disse Filipinho.
Campeão de duas etapas Prime do ranking de acesso, US Open, em Huntington Beach, na Califórnia, e o WQS de Maresias, em São Sebastião (SP), Filipe Toledo terminou 2014 na liderança do WQS (Divisão de Acesso). O jovem de 19 anos também teve um bom desempenho na elite do surfe (WCT), terminando o ano na 17ª posição do ranking. Em sua segunda temporada entre os melhores do mundo, ele ficou em quinto lugar em Pipeline (Havaí) e em Peniche (Portugal) e em nono nas etapas de Fiji, Hossegor (França) e Margaret River (Austrália). Desfalcou apenas a sétima etapa do WCT, no Taiti, por conta de uma lesão no tornozelo direito, mas voltou na parada seguinte, que, curiosamente, era em Trestles, o seu novo lar.
- Apesar de ter sofrido uma lesão e ter perdido uma etapa (Taiti), este ano foi muito bom para mim. Acho que depois da minha mudança para a Califórnia tudo começou a mudar. A minha vida mudou e o meu desempenho também. Consegui bons resultados. Estou muito feliz de ter terminado em primeiro no WQS e estar bem no ranking do WCT. Estou amarradão de ter um título que outros brasileiros já conquistaram - analisou o paulista de Ubatuba.
Filho de Ricardo Toledo, bicampeão brasileiro (1991 e 1995), Filipinho respira surfe desde que se reconhece por gente. O pai, que hoje trabalha como professor de educação física, foi um dos que mais ajudaram na decisão de mudar de país, mesmo tendo fortes raízes com Ubatuba. Foram dois anos de planejamento até o veredicto final.
Um dos principais destaques do "Brazilian Storm" ("Tempestade Brasileira"), apelido dado à nova geração de surfistas brasileiros, Filipinho diz que puxou de Ricardo o espírito guerreiro, a determinação e a vontade de lutar com todas as suas forças pelo seu objetivo. E o próximo já foi traçado: conquistar o título mundial. Esperança que se renovou ainda mais após o feito histórico do amigo Gabriel Medina, que tornou-se o primeiro brasileiro campeão mundial no Havaí.
- Se Deus quiser, eu vou conquistar o título mundial no ano que vem. Vou dar meu máximo para estar lá em cima, no topo do WCT, como o Gabriel esteve esse ano. Espero estar junto com os brasileiros lá também. E que 2015 seja um ano tão abençoado como 2014.