Foi com a atitude de um touro indomável que o Atlético de Madrid conseguiu superar as estrelas do Real Madrid e iniciar a temporada como acabou a passada: com espírito e credenciais de time vencedor. O apito inicial foi como o abrir de uma porteira e os merengues não conseguiram segurar uma equipe entrosada e amparada por uma multidão, no primeiro encontro com sua torcida, no Vicente Calderón. Assim os colchoneros venceram por 1 a 0, foram campeões da Supercopa da Espanha e celebraram o título diante do maior rival, que já teve seus planos de “ano perfeito”, com seis troféus, frustrados.
No Calderón, o touro leva o vermelho com ele, e não pode ver branco em sua frente. Os aplicados colchoneros entraram em campo ainda com a final da Champions na cabeça. Naquele dia, o Real levou a melhor. Nesta sexta-feira, deu o troco. As estrelas foram apagadas. Cristiano Ronaldo entrou somente no intervalo e não conseguiu ajudar o Real a derrubar a muralha que o adversário formou após abrir o placar no primeiro minuto de jogo, com Mandzukic mandando para o fundo das redes um passe de cabeça de Griezmann - brilharam os novos contratados. O filme foi diferente do que naquela noite em Lisboa e toda a pressão dos merengues, até o segundo final, não adiantou.
Simeone foi, mais uma vez, o centro das atenções. O técnico é o grande craque do Atlético. Só que nesta decisão, não ficou marcado só pelo bom desempenho de sua equipe. Depois de uma discussão com o árbitro, ainda aos 25 do primeiro tempo, o argentino foi expulso e teve de assistir ao resto da decisão nas arquibancadas, atrás do banco de reservas de seu time. Na saída, Simeone inflamou a torcida, que o acompanhou. O Atlético segue entrosado fora de campo, e pelo que mostrou nesta Supercopa, está na briga como favorito aos títulos da Champions e do Campeonato Espanhol.
O árbitro abriu a porteira, ou melhor, apitou o início de jogo para uma decisão que já começou esquentada. Indomável, o Atlético começou em ritmo alucinante - com trinta segundos de jogo já era possível sentir o cheiro do gol no Vicente Calderón. Foi com apenas um minuto no relógio que os colchoneros praticamente empurraram o Real Madrid para dentro das redes e abriram o placar. Griezmann desviou de cabeça para Mandzukic. O croata ganhou da defesa na corrida e chutou forte, sem chances para Casillas: 1 a 0.
Depois do gol, o “touro” acalmou dando a impressão de que esta era exatamente a tática de Simeone. Pressão alucinada nos primeiros minutos para marcar o gol. Quando conseguiu, o time se retraiu, assim como na partida de ida, deixando o Real com a posse de bola e esperando os contra-ataques.
Os colchoneros mostraram como é difícil passar por sua defesa. Embora o Real parecesse dominar com a posse de bola absoluta, não conseguia tirar proveito e ultrapassar a muralha formada por Miranda e Godín, com a ajuda dos inspirados Tiago e Gabi. E se a atenção em Simeone já não era suficiente pelo time bem montado, ele resolveu chamar um pouco mais. Aos 25 minutos, o técnico foi expulso após discussão com o árbitro. A queixa do argentino foi pela demora pela autorização da volta de Juanfran, que havia saído machucado de campo. Com um a menos, o Atlético quase sofreu um gol.
Por coincidência ou não, o Real melhorou após a saída de Simeone. James Rodríguez, substituindo Cristiano Ronaldo, chamou a responsabilidade. Percebendo a dificuldade em penetrar na área do Atlético, o colombiano passou a arriscar de fora da área, e foi o que chegou mais perto de empatar, em três oportunidades. Bale, por outro lado, não teve um primeiro tempo feliz, e perdeu a melhor oportunidade do time. Cara a cara com Moyá, dentro da área, ele chutou para fora.
O duelo ficou menos brigado e mais jogado. O Atlético não ampliou a vantagem porque o Real contou com a eficiência de Casillas, em chute de Raúl Garcia de fora da área, desviado para fora, e com a sorte. No escanteio, o mesmo Raúl cabeceou sozinho por cima do gol. Rodríguez continuou guerreiro solitário do outro lado e quase marcou em chute de fora da área, que passou muito perto do gol de Moyá.
A entrada de Ronaldo no intervalo encheu os torcedores do Real Madrid de esperança, e, de fato, o português chegou a levar perigo ao gol do Atlético, mas não bastou. Os colchoneros continuaram jogando mais atrás, e, mesmo assim, tendo as melhores oportunidades. Raúl Garcia, o melhor em campo para os donos da casa, quase marcou logo no início, outra vez. O chute do atacante parou na trave, e a bola bateu rente à linha.
O Atlético, aliás, perdeu um caminhão de gols e deixou seu torcedor preocupado. A situação lembrava bastante a final da Champions, quando os colchoneros dominaram e viram tudo ir por água abaixo com o gol de Sergio Ramos, aos 48 do segundo tempo. Mas, aos poucos, eles foram anulando o perigo. James, melhor do Real na primeira etapa, foi substituído por Isco, não conseguiu render no meio depois da entrada de CR7.
Foi de encher os olhos também a atuação de Griezmann. Depois de ficar no banco 57 minutos no jogo de ida, o francês brilhou com a assistência do gol da partida e foi o principal puxador de contra-ataques na segunda etapa. Saiu cansado e aplaudido de pé no Calderón.
Os minutos finais foram dignos de uma decisão entre dois times grandes, e nobres rivais. Na bola, Real e Atlético deve ter causado alguns ataques cardíacos em torcedores na noite desta sexta-feira. As estrelas do Real ainda conseguiram botar medo no Atlético em jogadas individuais perto da área de Moyá, mas sem sucesso. Os colchoneros conseguem a revanche, em grande estilo, e começam o ano campeões.