Vide
ZédeJesusBarrêto , Salvador |
08/07/2014 às 22:14
Ozil observa o capitão David Luiz
Foto: Reuters
Sim, amigos. Foi 7 x 1 para a Alemanha. Caiu a ficha ?
Agora me diga, depois desse massacre, dessa humilhação histórica, dizer o quê, escrever o quê ?
Antes de mais nada, lembrar que foi a maior derrota brasileira de todos os tempos... e numa Copa do Mundo ! Pior! Numa Copa jogada em território brasileiro, com um estádio cheio, hino nacional cantando na goela, as arquibancadas em verde-amarelo, um jogo semifinal. Não, nos meus 66 anos de vida nunca tinha visto algo parecido nem imaginava um dia ver.
Sim, amigos, o Mineirazzo desse 8 de julho de 2014 foi pior, muito mais vergonhoso do que o Maracanazzo de 1950, quando perdemos a final para o Uruguai por 2 x1, de virada, numa partida em que fomos melhores em campo a maior parte do jogo e em toda a competição.
Ora, contra a Alemanha não jogamos nada, já perdíamos de 5 x 0 aos 28 minutos do primeiro tempo. Fomos engolidos, vaiados, tomamos olé dos ‘gringos’, um chocolate, ficamos ‘de bobinho’ na roda, sem pernas, sem força mental, entregues e apreciando Schweinsteiger, Kendira, Kross, Ozil, Muller a passear em campo, a trocar passes como se estivessem brincando de baba com uma equipe de escola primária, tal era a superioridade deles os ‘alemão’.
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Bem, quem acompanha esses escritos ‘Na Varanda da Copa’ sabe muito bem que sempre achei possível uma derrota brasileira, até porque a equipe de Felipão não jogou uma só boa partida nessa copa. Apontei defeitos graves como o vazio no meio campo, a falta de ocupação de espaço e de um homem na meiúca para pensar o jogo. E a falta de treinamentos, de um esquema tático, de jogadas ensaiadas. Vivíamos de lampejos, soluços aqui e ali, individuais.
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Então, quando soube que Felipão tinha escalado Bernardo para substituir Neymar, comentei com os amigos: ‘ Nos fudemos!’ Mas não imaginava tamanha goleada.
Ora, quem vem acompanhando a Copa sabe muito bem que a força da equipe alemã é sua organização tática, a troca de passes no meio campo esperando a brecha para penetrar e finalizar , a ocupação dos espaços com inteligência e variação de jogadas e jogadores.
Por isso, imaginávamos que a seleção de Felipão entraria com três volantes – Luis Gustavo, Fernandinho e Paulinho -, mais Oscar e/ou William um pouco mais adiante, e Hulk ou o inútil Fred (querido do treinador) entre os zagueiros adversários. Assim, povoaríamos o meio campo, faríamos pressão marcando a saída de bola alemã e, com o avanço também dos laterais, incomodaríamos o goleirão Neuer. Mas... qual o quê !
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O passeio
Até começamos o jogo a fustigar a defensiva alemã, sem proveito nas finalizações chochas, de fora. Mas, já aos 10 minutos, tomamos um gol de cabeça tolo, na cobrança de um escanteio, quando Júlio Cesar não saiu do chão para cortar o cruzamento, David Luis estava mal posicionado e Maicon não apareceu para impedir a testada de Muller – 1 x 0. Pensei: quanta falta faz o Tiago Silva e como o David se deu mal jogando mais pela direita, com o Dante pelo lado esquerdo.
Mal observava esse problema de posicionamento defensivo na equipe e, em seis minutos apenas, dos 22 aos 28, os alemães fizeram quatro gols tabelando, penetrado com facilidade pelo miolo de nossa defesa como se estivesse passeando num zoológico num domingo à tardinha:
Aos 22’, o veterano Klose recebeu livre na frente da pequena área e tentou duas vezes para fazer, após rebote de Julio Cesar, o seu 16 º gol em copa do mundo, transformando-se agora no maior artilheiro de todas as copas – 2 x 0. Pane Geral ! Kross, vindo de trás, livre, marcou aos 24 e 25 minutos, com a defesa brasileira olhando a trama que veio de longe: 3 x 0 e 4 x 0. Todos diante da tela da tevê ainda se olhavam, perplexos, quando Khendira ampliou, fácil, de chapa: 5 x 0. Olhei pro cronômetro que marcava 28 minutos de jogo, somente. Deus’pai!
O que estava acontecendo? Sò um time jogava em campo. O outro era um grupo de ‘pernas de pau’, correndo feito malucos, de forma desorganizada, sem ver bola. Um desolo.
Na segunda etapa, ora vejam, o Felipão trocou Fernandinho por Paulinho e ainda o troncudo e bundudo Hulk pelo lépido Ramires. Mas cadê o Oscar, onde estaria o Fred, o que foi fazer o pequenino Bernardo naquele jogo de adultos?
Começamos bem, apertando, tentando o gol, chutando, mas então nos deparamos com o paredão Neuer, o melhor goleiro da competição e do planeta. Três ótimas defesas. Os alemães, de rubronegro, já fechadinhos, só esperavam o nosso erro para ampliar o placar em contragolpes, sem fazer muita força: 6 x 0 aos 23’, gol de Schuerlle, que entrou faminto no lugar de Klose, completando um passe rasteiro e limpo do veteraníssimo lateral Lahm. O mesmo Schuerlle, penetrando pela esquerda encheu o pé e Juilo Cesar só assustou-se com as redes a balançar pela sétima vez – 7 x 0. O gol de honra foi de Oscar, aos 45, fechando o pano.
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Chororô
Muito choro nas arquibancadas, nas ruas, dentro das casas brasileiras, crianças, marmanjos e velhinhas, lágrimas a rodo também em campo, o consolo dos alemães de alma lavada (nunca imaginaram conseguir tal façanha histórica), além de explicações e desculpas sem nexo de atletas e do treinador Felipão, capaz de pérolas, tipo ‘Fizemos o nosso melhor’; ‘Não estou arrependido de nada’ e ‘ O culpado fui eu’. Oh! Pança e bolso cheios.
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Lições ?
- Não, não podemos nem devemos esquecer esse dia. Precisamos mudar muita coisa no futebol brasileiro. Há muito deixamos de ser os melhores do mundo. Estamos atrasados técnica e taticamente.
- É hora de reformular nossos métodos de trabalho. Desde a escolha dos garotos para as divisões de base dos nossos clubes, hoje com critérios errôneos (mais estatura e menos habilidades) e objetivando apenas ganhar dinheiro com a venda dos meninos para o exterior.
- Essa geração ‘Felipão’ ficará marcada para sempre, estigmatizada por uma derrota, uma goleada inimaginável e inexplicável para o futebol penta-campeão do mundo. Alguns deles ainda terão chances em próximas copas, como Neymar, Oscar, David Luis, Tiago ...
- Faltaram treino, aplicação, planejamento, estratégia de jogo e categoria a muitos dos nossos jogadores, mal escolhidos, mal convocados, mal escalados. Tivemos jogadores em campo com dificuldade de dominar um bola, brigando com a ‘menina’.
- Ou alguém imaginava ser possível ganhar a Copa jogando com um goleiro superado, com Maicon de lateral, Oscar, Hulk, Paulinho fora de forma, a grossura de Hulk, a apatia e inoperância de Fred, a estatura de Bernardo, sem inteligência no meio campo e muito menos ainda no banco e vestiários. Ora ! Bai,bai, pai !
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Mas a Copa não acabou, nem mesmo pra o arrumadinho de Felipão. Sábado tem mais um jogo pela disputa do terceiro lugar – Brasil x seleção derrotada no confronto desta quarta entre Argentina x Holanda. Jogo bom de ver esse. Olho na tevê.
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Sei não, depois do vexame brasileiro, acho que vai dar na final Alemanha x Holanda. Será o mais justo, foram as duas melhores equipes da Copa até agora. Ou não?
A não ser que as preces do Papa Chico cheguem aos céus e o ‘anjo’ Messi decida fazer dos seus milagres.