O nosso principal ideal ao longo de todos esses anos de luta foi remover o despotismo e a tirania que aprisionava o clube mais popular da Bahia
Tasso Franco , da redação em Salvador |
10/09/2013 às 07:58
Fernando Schmidt é empossado novo presidente do Bahia
Foto: Correio
Fernando Schmidt tomou posse nesta segunda-feira, à noite, como novo presidente do Bahia, eleito com 67% dos votos em pleito contra Rui Cordeiro e Antonio Tillemont, Schmidt foi oficializado como novo comandante executivo do Esquadrão em clima de festa, diante de centenas de torcedores, ex-jogadores, correligionários e novos conselheiros.
"Clube era um feudo. Removemos a tirania que aprisionava o clube mais popular do Brasil, enterramos a ditadura do Esporte Clube Bahia. Emoção toma conta do meu coração, mas minha responsabilidade fala mais alto. Mas hoje colocamos a terceira estrela. O Bahia quase foi destruído. É com você, torcedor, que vou contar para ganhar mais esse jogo difícil. Volto à presidência com a sabedoria e revigorado com a paixão que tenho por esse pavilhão azul, vermelho e branco", disse Schmidt, com semblante emocionado.
DISCURSO NA ÍNTEGRA
Meus caros amigos e amigas tricolores,
Pra não dizer que não falei das flores, este meu agradecimento oficial, já na condição de presidente eleito do Esporte Clube Bahia, vem soprado com os ares da Primavera Tricolor.
E não podia ser outra a estação para marcar o fim dos dias sombrios, de aflição e medo, que pairou sobre este nosso clube e sua mágica, apaixonada e, sobretudo, heróica torcida.
Como em outra Primavera, a de Praga, nos idos de 1968, a Primavera Tricolor, em 2013, simboliza as grandes mudanças na estrutura política e administrativa do Esporte Clube Bahia em 82 anos de sua gloriosa história.
O nosso principal ideal ao longo de todos esses anos de luta foi remover o despotismo e a tirania que aprisionava o clube mais popular da Bahia. Popular, mas não do povo, não de sua torcida.
O Esporte Clube Bahia era um feudo, uma capitania hereditária, um butim dividido entre comparsas que se locupletavam não só de suas rendas, mas, de sua tradição, de suas conquistas, e de sua história.
O torcedor era apenas um espectador, que devia contentar-se em encher as burras da tesouraria, depois de fechado o borderô em Pituaçu, na velha ou na novíssima Fonte Nova.
Pra que o povo? Esta é a pergunta clássica dos que não respeitam a pluralidade, não acreditam na democracia, e não querem a liberdade, porque usam o poder para subtrair e não ter que prestar contas a ninguém.
Ditadura, meus caros amigos e amigas tricolores, não rima com competência, com seriedade, com transparência.
Ao lado de bravos companheiros e companheiras de luta nós enterramos, no dia 7 de setembro de 2013, a ditadura no Esporte Clube Bahia.
Não vou citar os nomes de todos esses combatentes, porque teria que passar horas e horas lendo uma lista interminável.
Que é, no fundo, toda a torcida do Bahia que ansiava e provocou todo esse processo de mudança.
Não cito nomes para não correr o risco de cometer injustiças, esquecendo de pessoas que nem mesmo conheço, mas que sei que, a seu modo, lutaram e sonharam com este dia: o dia da liberdade do Esporte Clube Bahia.
Mas não posso deixar de homenagear alguns que não estão aqui, no mundo físico, mas inspiraram nossa persistência.
Nosso profundo agradecimento a Antonio Miranda, a Edmundo Pedreira Franco, a Luiz Osório Vilas-Boas, lutadores desse bom-combate.
E especialmente o meu abraço ao presidente Antonio Pithon, impossibilitado de vir aqui por problemas de saúde, e que foi vítima de uma campanha maldosa para destruir a sua reputação de homem íntegro, sério e competente.
Não destruíram não, Pithon. Este momento, todas as mudanças que se operam no Esporte Clube Bahia, esta minha posse, é o recado de que o bem, mais uma vez, venceu. E você, Pithon, é o vencedor.
Aos jogadores e treinadores do Bahia de todos os tempos, minha sincera homenagem por terem construído, de fato, a mística deste clube: de ter nascido para vencer, de nunca temer adversários, de reverter causas impossíveis.
Homenagem que simbolizo em três nomes: Osni Lopes, treinador e jogador vitorioso pelo Bahia, líder do sindicato dos atletas; Bobô, o maestro de nosso segundo campeonato Brasileiro; e o mestre Evaristo de Macedo, mais que um treinador, um apaixonado pelo Bahia, e nosso comandante do título da segunda estrela, em 1988.
A emoção toma conta do meu coração neste instante, mas confesso que o meu senso de responsabilidade fala também muito forte.
A situação financeira do Bahia é crítica, as dificuldades são gigantescas, a crise é muito grave. O Bahia quase foi destruído pela usura e pela ganância.
Está na hora de refundá-lo em bases democráticas, com competência, com transparência, com profissionalismo.
Não haverá soluções mágicas nem sou o super-homem. Vamos ter que redobrar os nossos esforços para vencer todas as adversidades.
Repetindo Drummond, vamos de mãos dadas.
O Bahia não é meu, não será de nenhum diretor, de nenhum conselheiro.
O Bahia é da sua torcida, a quem rendo minha grande homenagem nestas palavras. A você, torcedor, peço não só a colaboração e uma dose extra de paciência, mas uma vigília permanente para que nunca mais deixem que esmaguem as flores do nosso jardim.
Se ninguém nos vence em vibração, é com você, torcedor, que vou contar pra gente ganhar mais este jogo, difícil, duro. Uma peleja contra as adversidades e contra todos os interesses escusos que se defrontam com os interesses do nosso Bahia.
Volto a ocupar a presidência com a sabedoria dada pelos anos e revigorado pela paixão que me amarra a este pavilhão azul, vermelho e branco.
Mas quero advertir aos que ainda estão acoitados na espreita, que também tenho a couraça endurecida pelos embates ao longo da vida, contra a ditadura que escureceu o céu anil deste país e, mais recentemente, contra a tirania que sombreou o nosso distintivo tricolor.
Com o meu vice Valton Pessoa, os nossos diretores, a nossa equipe de trabalho, conselheiros, sócios, Embaixadas Tricolores e todos os torcedores, vou lutar, com todas as minhas forças, para garantir a democracia para sempre no Bahia.
Perguntam-me qual será o meu primeiro ato como presidente eleito. Respondo: pedir ao nosso Conselho Deliberativo que nomeie o Dr. Carlos Rátis como Grande Benemérito do Esporte Clube Bahia pelo seu extraordinário trabalho, e de sua equipe, na construção desta Primavera Tricolor.
Parafraseando a belíssima letra do Hino da Independência da Bahia: Nunca mais o despotismo regerá nossas ações, porque com tiranos não combinam “Tricolores” corações.
Assumo o compromisso, neste curto mandato presidencial, de devolver o clube ao lugar de onde ele nunca deveria ter saído: junto ao coração, morada sagrada, de cada torcedor, de cada torcedora, deste meu, deste nosso, Esporte Clube Bahia.
Muito obrigado!
Salvador, 9 de setembro de 2013