Teme-se por novos confrontos entre estudantes e a PM
ZédeJesusBarrêto , Salvador |
21/06/2013 às 18:12
Felipão, técnico do Brasil, coloca Hernanes no lugar de Paulinho
Foto: Globo
Já estamos no inverno. Teremos um sábado invernado, escurecido ou iluminado?
Há sim manifestações de rua marcadas para este sábado de Copa das Confederações, de clássico na Fonte Nova, Brasil X Itália, casa cheia.
Afinal são duas equipes tradicionais, são nove títulos mundiais em jogo, não há registro na minha memória de ter acontecido antes, em Salvador, um duelo dessas duas seleções. Tudo bem que o jogo em si não decide muita coisa, as duas equipes já estão classificadas para a fase seguinte da competição, o que se vai saber com o resultado em campo é quem fica em primeiro lugar e quem vai pegar logo de cara Espanha.
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Confrontos fora !
O que a gente torce mesmo, e espera, é que as manifestações, mais que justas, válidas, históricas... não debandem para confrontos com a polícia, que está encarregada de impedir que os manifestantes se aproximem do estádio. Isso é uma determinação do governo (Federal, Estadual) a partir do acordo legal estabelecido com a FIFA.
Isso são fatos (se justos ou não...), mas foi decisão de governo. O que se sabe é que grupos, dentro do movimento, querem forçar o enfrentamento, não se sabe bem com que objetivos. Invadir o estádio, parar o jogo, a competição? Querem um mártir? Algum propósito político escuso, oculto ?
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Desfalques
Quanto ao jogo em si, alguns desfalques nas duas equipes podem mudar o comportamento em campo. A Itália não contará com Pirlo, sem dúvida hoje o seu melhor jogador, o capitão, o maestro, um dos melhores meiocampistas do planeta, o homem que raciocina, põe a bola onde quer, dá o ritmo da equipe e que cobra, sempre com perfeição, todas as faltas, escanteios ... Sem Pirlo, a Itália perde um pouco da razão, da cabeça. Também não joga o companheiro de Pirlo no meio campo, De Rossi, suspenso. Então, com os substitutos, a Itália até pode ganhar em pegada, em força, mas perde muito a qualidade.
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Pela seleção brasileira, não devem jogar o zagueiro David Luiz, com o nariz quebrado no jogo passado, e o meia Paulinho, com o tornozelo inchado. Pela lógica, deve entrar o zagueiro baiano Dante, do Bayern Munique campeão europeu, no lugar do David; e certamente o Hernanes substituirá o meia Paulinho.
Dante é um bom jogador, até mais clássico do que David, porém menos vigoroso, menos dinâmico e está desentrosado com o Tiago Silva. Vai ter de cuidar do buliçoso Balotelli, um risco. Hernanes se solta mais do que Paulinho, é menos disciplinado taticamente, gosta de atacar mais, chuta mais em gol.
Vamos ver no que essas mudanças vão resultar no gramado, no decorrer da partida.
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Tabela
No outro jogo da rodada, sábado, pelo Grupo A, um México x Japão apenas para pra cumprir tabela. Babinha.
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No domingo, já pelo Grupo B, a toda-poderosa Espanha, com o time titular, encara a Nigéria, no Castelão do Ceará; e o Uruguai vai tentar golear, com a maior diferença de gols possível, a fraquinha e simpática equipe do Tahiti.
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Se tudo correr nos conformes, Brasil, Itália, Espanha e Uruguai devem ser os finalistas desta Copa das Confederações brasileira, tão tumultuada fora dos estádios pela instabilidade política que vivemos, com manifestações populares nas grandes cidades do país.
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Simpático Tahiti
Sobre a maior goleada da história da Copa das Confederações até aqui ( time B da Espanha 10 x 0 Tahiti ), em ritmo de treino, valeu a pena ver e ouvir as arquibancadas a torcer pelos tahitianos, a gritar as palavras de ordem que estão nas bocas, pelas ruas, e a entoar o hino nacional no gogó... No final, o carinho de todos com os derrotados em campo.
Os espanhóis abraçaram respeitosamente cada um dos adversários, como se pedissem desculpas pelo escore. Diferente, bonito.
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Deu a Celeste
O Uruguai 2 X 1 Nigéria, em Salvador, foi um jogo corrido e bom de ver dentro da Arena Fonte Nova, em contraste com os atos de violência e confrontos nas ruas próximas, entre manifestantes e polícia. Teve depredação, carros incendiados, revolta, tiros de chumbo, de borracha, bombas de gás, pancadaria à vontade da polícia do governo baiano a serviço da FIFA, a dois km da Arena Fonte Nova. Feio, deu medo. Tudo errado.
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Nas arquibancadas, a maioria torceu pelos irmãos africanos da Nigéria, mas havia uma torcida uruguaia ativa e bela. O time campeão sulamericano começou em cima, pressionando, e fez um a zero com um gol de canela do zagueirão Lugano (como bate esse rapaz !!!) . Mas os nigerianos buscaram o empate, aos 36’, num golaço de Mikel, que cortou Lugano dentro da área e meteu a canhota , acertando o ângulo. A Nigéria terminou o primeiro tempo melhor em campo, pressionando, explorando a velocidade. Mas, na volta dos vestiários, aos 5 minutos, o trio estelar do ataque uruguaio – Cavani, Suarez e Forlan – funcionou. Forlan concluiu com um chutaço de canhota, pelo alto – 2 x 1, definindo um jogo bem equilibrado até o final.
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Pipocas da Copa :
- Depois do acontecido nas ruas, na noite de quinta, falou-se até em suspensão dos jogos da Copa das Confederações, mas a Fifa logo desmentiu. Desmentiu mas bradou, pressionou, porque dois ônibus das delegações da entidade foram apedrejados em Salvador, nas imediações dos hotéis onde os ‘cartolas’ estão hospedados. Isso não estava no script e o governo comprometeu-se a dar total segurança. Daí ...
- Outro motivo que poderia causar a suspensão dos jogos restantes foi o temor demonstrado por membros da delegação da Itália e jogadores da seleção ‘azzurra’ diante das manifestações. Sentiram-se inseguros e alguns chegaram a dizer que preferiam voltar pra casa a jogar num clima de guerra civil como esse que viram por aqui. Na sexta, alguns desmentidos.
- O certo é que, esses acontecimentos, imprevistos, já causam temor na FIFA pela realização da Copa do Mundo 2014. Fala-se, já, às escondidas, num plano B : a Copa de 2014, caso o governo brasileiro não garanta a segurança exigida pela entidade, poderia acontecer na Alemanha ou na Austrália, preparadas e sem problemas. Imaginem o prejuízo financeiro e moral do Brasil, a repercussão disso no planeta !!!
- Isso já aconteceu uma vez, na Copa de 86. Seria na Colômbia, mas por problemas políticos e insegurança absoluta, foi, de última hora, transferida para o México. A Argentina de Maradona foi campeã.
- Muito se falou sobre o esquema de segurança para a Copa das Confederações.
Uma central de monitoramento foi inaugurada, no Parque Tecnológico da Paralela, com equipes da PM, polícia civil, polícia técnica, federal, rodoviária, Transalvador, Samu, defesa civil... mais de 50 profissionais operando, monitorando 250 câmaras instaladas em toda a capital, tudo pronto para enfrentar qualquer ato terrorista...
Só não contavam com estudantes, manifestantes nas ruas ... grande fiasco !
- Mais tropas das Forças Armadas – Exército, Marinha, Aeronáutica – aquarteladas e de prontidão, treinadas e equipadas para qualquer tipo de ação, até uma guerra ... só que a meninada pegou ‘os homi’ de calça na mão.
- E mais, de prontidão e chave ligada, nos quartéis, para qualquer emergência: quatro tanques de guerra, daqueles utilizados em combate.
Aeronaves de vigilância eletrônica, Caças Mirage, dois super Tucanos equipados com foguetes e mísseis; helicópteros Black Hawk e UH12 Esquilo, prontos para o combate; Lanchas da Capitania dos Portos, corveta Caboclo, Fragata Liberal, navio patrulha Oceânico Amazonas, Navio P 120, Navio P 51 – tudo de combate, com tripulação adestrada, canhões, metralhadoras , baterias anti aéreas...
- Sério !!! Imaginem o custo disso. E pra quê? A molecada nas ruas, desarmada, desmoralizou tudo !
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- O custo da Copa das Confederações, que já consumiu R$28 bi, pode chegar a 33 bi.
A abertura do torneio, em Brasília, teria deixado um prejuízo de 42 milhões aos cofres públicos.
- O entrono da Fonte Nova continua em obras, um lamaçal quando chove, e o tal viaduto que rachou está sendo remendado, um corre-corre ...
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Só pra fechar, noutro tom:
“O futebol é muito rico, podendo ser um instrumento cultural e educativo interessantíssimo, mas os nossos governantes não fazem nada para enriquecê-lo. Vai ter um bocado de eventos, uma espécie de disfarce para a política de segregação e apartheid das arenas que a gente vive hoje “
(do antropólogo e escritor Ordep Serra, sobre a programação, em Salvador, para a Copa das Confederações.