Veja a entrevista com Júlio César e seu desejo de ser o goleiro em 2014, no Brasil
Globo , London |
05/02/2013 às 09:22
Júlio César treina para o amistoso na Inglaterra
Foto: Getty Images
Longe da seleção brasileira há quase um ano, Julio César retornou ao grupo convocado por Luiz Felipe Scolari. Vai reaparecer com a amarelinha no jogo de quarta-feira, às 17h30m (de Brasília), contra a Inglaterra, em Wembley. Mas antes de pintar a oportunidade, o goleiro traçou um projeto de carreira. Saiu do Inter de Milão de maneira conturbada e aceitou a proposta do modestro Queens Park Rangers. Foi no último colocado da Premier League que o arqueiro se destacou fechando o gol e ganhou uma nova chance na equipe nacional.
E foi justamente a escolha pelo QPR que deixou Julio César, de 32 anos, empolgado no bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM. Os olhos do goleiro encheram de água e brilharam como o de um garoto de 18 anos, recém-convocado para seleção brasileira.
- Foi tudo projetado na minha cabeça. E isso que é o bacana. Uma cobrança comigo mesmo. E hoje eu posso falar que sinto orgulho de mim mesmo. Foi uma vitória particular. É o que mais me motiva. Foi uma coisa que eu acreditei. Eu me olhei no espelho e disse: "Você vai conseguir". É um projeto que está se consolidando e só vai se firmar de vez quando o meu nome estiver na lista final.
Titular da seleção brasileira então comandada por Dunga na Copa de 2010, disputada na África do Sul, Julio César foi tido como um dos culpados pela eliminação para a Holanda, no dia 2 de julho, nas quartas de final do torneio. Por conta disso, o goleiro afirmou que a sua história com a amarelinha ainda não foi finalizada.
- Está aberta. Pela minha trajetória na Seleção, eu posso dizer que tem um capítulo aberto e que eu posso preencher com um final feliz. Vou escrever o capítulo final. Todo livro tem começo, meio e fim. Tenho a chance de começar a escrever esse final. A minha história deu apenas uma pausa - disse o jogador.
Entrevista
Na entrevista, Julio César falou da vaga em aberto no gol, da chegada de Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira no comando da Seleção e dos problemas vividos por Mano Menezes à frente do time canarinho. Na opinião do arqueiro, a ausência do Brasil das eliminatórias foi altamente prejudicial ao antigo treinador. Além disso, ele ainda explicou o problema nas costas que o atrapalhou durante a Copa de 2010 e fez questão de desmentir uma suposta cirurgia de hérnia.
GLOBOESPORTE.COM: Como viu a disputa pela camisa 1 quando não vinha sendo convocado?
JULIO CÉSAR: As minhas esperanças aumentaram quando vi que tantos jogadores foram utilizados e ninguém havia ficado com a posição. Outros tiveram a chance, mas o Mano não apontou um dono da posição, um atleta definitivo. Por isso, muitos acharam que por eu ter uma trajetória, uma história, a minha convocação com o Felipão poderia ser certa.
Felipão e Parreira dão um peso maior à Seleção?
É normal que as pessoas pensem isso porque são dois profissionais campeões do mundo e com histórias importantes na Seleção. O Mano é um excelente treinador e não podemos questionar o trabalho dele nunca. Mas o fato de não ter tido a oportunidade de treinar a seleção antes, de ter perdido as Olimpíadas, a Copa América... As pessoas começam a questionar o trabalho. O que dificultou o trabalho dele é que o Brasil não jogou as eliminatórias. Isso é ruim para a Seleção, para montar uma nova equipe, criar uma identidade. As eliminatórias são difíceis, o clima de disputa não aconteceu. A cobrança é sempre grande. Com o Felipão e o Parreira, as pessoas resgatam tudo o que eles já sabem da Seleção, o clima, a confiança.
O Felipão te ligou antes da convocação? Como foi?
Ele me ligou. Fiquei feliz com a ligação. Em nenhum momento ele disse que ia me convocar. Ele disse que ia observar, queria saber como eu estava fisicamente, a minha motivação de voltar à Seleção. Foi um papo agradável e fiquei feliz. Só de o treinador da Seleção te ligar e falar que está te observando é uma responsabilidade ainda maior para você retribuir a confiança que é depositada em você. Quando desliguei pensei comigo: "vou focar, fazer o trabalho e quem sabe não estar na primeira lista". Isso tudo é um ponto favorável para mim. O fato de ter sido convocado pelo Felipão, de ter ganho uma Copa América com o Parreira, facilitou. Todo treinador tem o seu goleiro de confiança. O Felipão tinha o Marcos. O Parreira tinha o Dida. O Dunga era comigo. O Luxemburgo era com o Fábio Costa. Todo mundo sabe que existe isso no futebol.
O que mudou no Julio César de hoje para o goleiro que foi convocado pela última vez no início de 2012?
No futebol, a cada dia que passa, você amadurece mais. No futebol, você tem o momento bom, o momento complicado. Nos momentos complicados é que você precisa mostrar força. Nos momentos de adversidade você precisa tirar coisas positivas para aprender lá na frente. Estou mais bem preparado do que naquela partida contra a Bósnia. Muito mais maduro. O momento que estou vivendo hoje, jogando num time considerado modesto do Campeonato Inglês, num campeonato de alto nível, tudo é novidade. É uma nova motivação. Uma série de coisas que foram somadas para eu estar jogando bem. É o fato de o time estar em último lugar e eu tendo que ajudar o meu time a não cair para a Segunda Divisão. É mais ou menos como aquele momento que eu vivi no Flamengo, quando eu lutei para não cair em três dos quatro anos como profissional. Tudo muito nesse período.
Você montou uma academia para trabalhar em casa. Como tem sido esse treinamento por conta própria?
Como é um time modesto, ele não joga muitas competições. Joga o Campeonato Inglês, a Copa da Inglaterra e a Copa da Liga Inglesa. Estamos fora das duas últimas. Temos dois dias de folga e procuro sempre treinar em casa. Faço sempre um exercício para não ficar parado.
Muitas pessoas afirmam que você tem um problema crônico nas costas. Qual é a verdade em toda essa história?
Isso me persegue. Já expliquei umas mil vezes. Tenho uma protusão discal. Muitas pessoas citaram que eu operei hérnia de disco, mas nunca fiz isso na minha vida. O que eu tenho que fazer é um trabalho de prevenção porque muitos goleiros têm isso e tiveram que operar. Se eu fizer a prevenção, eu não preciso operar. É como um jogador que opera o joelho, por exemplo. Ele precisa fazer uma manutenção. Se eu mantiver o trabalho, o problema não vai me incomodar.