Há exatos 20 anos, na Espanha, Marcelo Negrão jogou a bola lá no alto, desceu o braço nela, e não houve holandês que conseguisse segurar o foguete. Todo de azul naquele 9 de agosto de 1992, José Roberto Guimarães se atracou com a comissão técnica à beira da quadra e festejou aos berros o primeiro ouro da história do vôlei brasileiro em Olimpíadas.
Duas décadas depois, na Inglaterra, ele estava de azul outra vez, agora com uma faixa amarela que desce das costas para as mangas. Os cabelos estão mais grisalhos, mas a coleção de metais preciosos está mais pesada, com a vitória em Pequim há quatro anos. Nesta quinta-feira simbólica, a seleção feminina deu de presente ao treinador a chance de lutar pelo terceiro ouro. Com autoridade, o Brasil despachou o Japão na semifinal por 3 a 0 (25/18, 25/15, 25/18) e avançou para decidir os Jogos de Londres contra os Estados Unidos.
Com pelo menos a prata garantida, a delegação do Brasil em Londres iguala sua melhor campanha em Olimpíadas, com 15 medalhas asseguradas, mesmo número de Pequim 2008 e Atlanta 1996.
Para o vôlei, a missão de transformar a prata em ouro será dura. As americanas passaram batidas pelas coreanas na outra semi, já venceram o Brasil na primeira fase e chegam à final carregando o favoritismo na revanche da decisão de Pequim. Em 2008, o 3 a 1 no último jogo consagrou seis jogadoras que estão em Londres em busca do bi: Sheilla, Jaqueline, Fabiana, Thaisa, Paula Pequeno e Fabi. A bola sobe no sábado, às 14h30m (de Brasília), com transmissão ao vivo do SporTV e acompanhamento de todos os lances em Tempo Real no GLOBOESPORTE.COM.
- Dia 9 é um dia especial, né. E neste momento é mais especial ainda. A cada etapa que avançamos, procuramos lembrar do que já passamos aqui. Estávamos chegando ao fundo do poço, voltar para o Brasil daquela maneira ia arrebentar com a gente. Na angústia, o time se juntou. Mas o dever ainda não está cumprido, elas sabem disso - avisou Zé Roberto, que pode se tornar o primeiro tricampeão olímpico da história do esporte brasileiro se vencer a final.
Em busca do terceiro triunfo, Zé Roberto já é o único técnico do mundo campeão olímpico no masculino e no feminino. O americano Hugh McCutcheon, que ganhou o ouro em Pequim com os homens, pode igualar o feito se vencer a final de sábado. Enquanto as brasileiras tentam chegar ao topo do pódio pela segunda vez, para a equipe feminina dos EUA a conquista seria um feito inédito.
Apoio do início ao fim
Do lado de fora da Arena de Vôlei, os brasileiros tomavam conta. Era verde e amarelo por todos os lados, e dentro do ginásio o apoio foi constante. Espalhados pelas arquibancadas, os torcedores entoavam o tempo todo cantos que as atletas já decoraram há muito tempo: "Ê, lê lê ô", "sou brasileiro com muito orgulho", e daí em diante. Com a mesma trilha sonora de sempre, as meninas foram para cima do Japão.
Com uma pancada de Thaisa pelo meio, o Brasil pulou na frente e deu início a uma longa troca de viradas entre os dois times. Ninguém conseguiu abrir mais de dois pontos até a primeira parada, quando a seleção de Zé Roberto vencia por 8/7, com Dani Lins distribuindo bem o jogo entre as atacantes. Assim foi até a segunda parada, com o placar sempre colado, e o Brasil vencendo por 16/15. Na volta, finalmente um respiro com dois pontos de vantagem no erro das japonesas. E um lindo rali que terminou no bloqueio de Sheilla abriu 18/15, forçando o técnico Masayoshi Manabe. Não adiantou, porque o paredão estava erguido. Em mais um bloqueio, agora com Fabiana, a equipe verde-amarela abriu 20/16 e, aí sim, respirou aliviada. O que parecia drama virou uma vitória tranquila no primeiro set. Pela mão pesada de Fabiana, fim de papo: 25/18.
Na segunda parcial, não teve essa história de placar amarrado. O Brasil logo abriu 6/2 e segurou os 8/5 na primeira pausa. Na segunda, a vantagem já era de cinco pontos, com a equipe jogando solta e o ataque muito bem dividido entre Sheilla, Garay, Fabiana, Thaisa e Jaqueline. Desse jeito, ficou fácil. Com mais um bloqueio certeiro, a equipe de Zé Roberto fechou o set em 25/15.
Garay ergue o braço: vitória com autoridade sobre as japonesas põe o Brasil na final (Foto: Reuters)O ritmo não caiu na terceira parcial. Com Dani encontrando Sheilla, Thaisa e Garay, o Brasil manteve o pé no acelerador e não deu chance às japonesas em nenhum momento. Quando o placar chegou a 12/8, a torcida no ginásio cantava "O campeão voltou", e na segunda parada a vantagem já era de 16/11. Zé Roberto é que não relaxava. Até o fim, com 25/18, o técnico não parou de se mexer à beira da quadra: aplaudiu, deu instruções, reclamou, orientou o saque. Ele sabe que o caminho para o ouro não permite cochilos, nem quando tudo parece fácil. E a seleção já esgotou sua cota de sonecas na primeira fase. Agora só falta um passo. O maior de todos.