Olhando pro mar não se pode esperar, meia lua ligeira é bom se esquivar. Eu vi marinheiro na beira do mar, roupa tá toda branca, olha pode jogar", o canto ‘Baseado nas Ruas' foi entoado por mais de duas mil crianças de escolas municipais de Lauro de Freitas que entre atabaques, agogôs e  berimbaus receberam o batismo na Capoeira Regional, neste domingo (22).

De acordo com o Mestre Sérgio Vieira, as crianças receberam o cordão, após meses de ensinamentos e muita disciplina. "Hoje mais do que uma luta cultural, a capoeira é uma ferramenta de resgate social. Quantas histórias eu já ouvi de jovens que saíram dos maus caminhos com a ajuda e o incentivo que esta arte traz", conta.

O trabalho com a capoeira é desenvolvido pela Associação de Capoeira Filhos da Bahia em parceria com a Divisão de Projeto e Ações Complementares (DIVIPAC), da Secretaria Municipal de Educação, e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, que contemplou as escolas municipais Santo Amaro, Jardim Tarumã, Santa Rita, Nossa Senhora Valentina, CAIC, Vida Nova e Escola de Cadetes Mirins de Portão com o kit de capoeira contendo fardamento para os alunos, um atabaque, um berimbau e um pandeiro para incentivar a prática do esporte nessas unidades escolares.

"Temos apostado na capoeira e os resultados tem sido muito positivos. Notamos que o aluno que pratica a capoeira é mais concentrado e mais disciplinado, rendendo positivamente no ambiente escolar", relata a coordenadora do DIVIPAC, Roseli Silveira. Madrinha da cerimônia, a secretaria municipal da Educação, Suely Calixto entregou o cordão aos novos capoeiristas e falou da importância da arte afro para a educação. "Este é um poderoso instrumento que nós temos em nossas mãos. Nossas crianças amam a capoeira e não estão mais nas ruas no turno oposto ao das aulas; Elas estão praticando o esporte no programa Mais Educação, ou no Escola Aberta, formando a consciência cidadã", comemora.

No momento mais importante na vida do educando de capoeira, a emoção estava presente em cada olhar. Pais e filhos, jovens e idosos, homens e mulheres reunidos para comemorar a graduação. "Meu filho era um menino muito inquieto e nervoso, vi sua transformação a partir da capoeira. Ele hoje pratica o esporte e está bem mais calmo e concentrado, suas notas na escola melhoraram bastante", celebra a dona de casa Damiana Santos, mãe de Danilo Santos, de 9 anos, e Tainá Thais, 6 anos.

Pela primeira vez, oficialmente em uma roda e jogando com capoeiristas mais experientes, Jeferson Santos, 10 anos, mostrou tudo que aprendeu. "Eu tenho treinado bastante. Para mim é um prazer jogar a capoeira", disse. No meio da multidão estava a pequena Isabela, de 1 ano. Nos braços da mãe a menina já ensaiava os primeiros passos. "Minha família tem tradição na arte da capoeira. Na minha casa, os ensinamentos são passados de pai para filho. Nós lutamos para manter a cultura sempre viva", revela Ana Carla monitora de capoeira.

O Batizado de Capoeira está dentro da programação do VI Encontro Nacional de Capoeira, que segue nesta segunda-feire (23) com roda de capoeira feminina, na sede da Associação Filhos da Bahia, 18h, e dia 25, com o Festival de Capoeira, samba de roda, maculelê, acrobacias e toques municipais, no mesmo local e horário. Neste sábado (21), foi realizada a Caminhada da Capoeira, em Itinga.