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O Esquadrão de Aço e a determinação e vontade de vencer
Foto: Wilton Diniz
Salvador dorme no domingo e acorda na segunda vestido com as cores da bandeira do estado, o vermelho, azul e o branco, as cores do Bahia, time da maior e mais vibrante torcida no Nordeste, Bahêa que é o Campeão Baiano de 2012, depois de um jejum de 11 anos.
O título foi conquistado com um empate dramático de 3 x 3 contra o maior rival, o Vitória, num jogo emocionante em um Pituaçu lotado, palco de um espetáculo histórico: Foi o primeiro título baiano conquistado no estádio, casa cheia, um domingo luminoso, 13 de maio, dias das mães e dia do aniversário de fundação do Vitória - que fez um belo jogo, lutou até o último instante. No mais, cinco expulsões, sete cartões amarelos, muita provocação e empurra-empurra, choro e alegria em campo e fora dele. Faz parte do Ba X Vi, um clássico para o torcedor não esquecer.
O título, sem contestações, está em boas mãos, com justiça, pois o tricolor foi o melhor time durante toda a competição e superou o rubro-negro nos dois jogos finais, jogando com inteligência e pelos resultados.
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Um jogaço !
Foi um jogo de arrepiar, engasgar, chorar e sentir o coração na boca até o apito final. O Bahia entrou em campo todo de branco, com um esquema de jogo fechadinho no meio campo, explorando os contragolpes em velocidade pelos lados do campo. A partida começou muito nervosa, a bola queimando nos pés dos jogadores, muitos passes errado.
Mas, o Vitória, com uma escalação ofensiva (Marquinhos, Tartá e Neto Baiano na frente), logo abriu o placar, aos 5 minutos, na manjada bola alta (enfiada da defesa por Vitor Ramos) para a área adversária: Neto Baiano, esperto, enganou com o corpo o becão Rafael Donato (que ficou procurando a bola e o atacante e não achou nada), subiu com elegância e testou do lado oposto do goleiro Lomba, sem defesa: 1 x 0.
Esse placar favorecia o rubro-negro e isso obrigava a equipe tricolor a sair mais, a atacar. Ninguém tinha conseguido por a bola no chão ainda, trabalhar melhor a bola, quando saiu o gol de empate, aos 8 minutos, também numa jogada manjada, ensaiada, conhecida: Gabriel bateu falta pelo alto, a defesa não cortou e Fahel apareceu livre atrás da zaga, dominou no peito e chutou forte no canto onde o goleiro Douglas estava - a bola bateu ainda nos braços do goleiro e entrou entre ele e a trave - 1 x 1.
Aos poucos, além das emoções fortes nos lances de área, os jogadores foram colocando também os nervos no lugar e conseguindo trocar passes no meio campo, melhorando o nível técnico do jogo. O Vitória sempre com bolas longas, buscando a velocidade de Tartá e o cabeceio de Neto Baiano entre os zagueiros adversários; e o Bahia triangulando, tabelando, explorando mais o lado direto com Gabriel, Madson e Diones.
Aos 12, mais um cruzamento alto na área tricolor, Tartá pegou a sobra mas chutou alto. Aos 16, Neto Baiano disputou outra pelo alto, ganhou da zaga, Titi rebateu mal e o atacante enfiou o pé direito, mas a pelota, para sorte do goleiro Lomba chocou-se no poste esquerdo do guarda-metas. O Vitória perdeu o lateral Romário por lesão e entrou Gabriel Paulista no lugar.
Por volta dos 25 minutos o Bahia conseguiu acalmar mais o ritmo, pôs a redonda no chão e começou a envolver a defensiva rubro-negra, com mais posse de bola. Aos 33' , Diones e Fahel tabelaram pela direita, o cruzamento rasteiro saiu, Lulinha se antecipou aos zagueiros e tocou de letra, ensejando uma ótima defesa de Douglas, que assim se redimia do primeiro gol, quando não conseguiu deter o chute de Fahel; seria um golaço, foi uma bela jogada! Aos 36' Souza livrou-se dos zagueiros e enfiou uma bola limpa para Lulinha, na corrida: ele entrou em velocidade, livrou-se do goleiro mas, desequilibrado, chutou para fora, perdendo outra grande chance de desempatar. O Bahia era melhor em campo.
Aos 45', Gabriel cobrou da intermediária uma falta pelo alto, buscando a cabeça de Donato ou Souza, o goleirão subiu para cortar a bola de soco, chocou-se com os zagueiros e a bola passou, foi direto para as redes : gol de Gabriel, não houve falta no goleiro, como reclamaram os jogadores: 2 x 1 Bahia. Houve muito empurra-empurra, e demonstrações de valentia, de nervosismo dos atletas rubro-negros e tricolores na ida para os vestiários ( Souza, Uéliton, Neto Baiano, Helder se pegando ... e a turma do ‘deixa disso' tentando apartar a encrenca ) .
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O segundo tempo prometia... e foi ainda mais emocionante que o primeiro. Precisando virar o jogo, vencer, o Vitoria voltou ainda mais ofensivo: trocou Marquinhos por Dinei, mais alto, mais ativo, com mais ritmo de jogo. Mas antes do primeiro giro dos ponteirinhos do relógio, quase o Bahia amplia: Madson fez ótima jogada pelo lado direito e bateu rasteiro para área; a zaga do Vitória cochilou, Souza dominou, girou e bateu forte, no canto, mas a pelota caprichosa carimbou a trave e saiu. Aos 2' Helder tentou de bico e errou; e aos 5' Diones arriscou de fora, mas Douglas pegou bem.
Aos 8' o árbitro Seneme viu pênalti numa jogada de escanteio e aquele manjado agarra-agarra dentro da área: Diones teria puxado Uéliton pela camisa. Os tricolores chiaram mas a pelota foi para a marca da cal e Neto baiano empatou, fazendo seu 27 º gol pelo campeonato (empatando assim com Claudio Adão, que fez também 27 pelo Bahia, nos anos 1980, os dois são recordistas em gols pelo ‘baianão'). O placar marcava 2 x 2 , o jogo pegou fogo!
Aos 10 ‘, Donato testou um cruzamento de escanteio e Douglas foi no rodapé, fazendo uma defesa milagrosa. No contragolpe do lance, Pedro Ken cruzou da esquerda e Dinei testou firme, de mergulho, desempatando : 3 x 2 , dava Vitória. O Bahia sentiu o golpe, danou-se a errar passes, e o rubro-negro começou a mascar o jogo, quebrar o ritmo, cavar faltas, cozinhar a partida, encolhendo-se , armando-se para o contragolpe apenas. Neto Baiano sentiu a coxa e foi substituído por Geovane, jogador de mais cadência.
Aos 26 minutos, mais uma falta cobrada por Gabriel, houve uma testada forte e Douglas deu rebote; DIones, esperto, cutucou para as redes, empatando de novo a partida ( 3 x 3 ), resultado que daria o título ao Bahia no final.
Houve muita gente chorando no estádio, torcedores passando mal, precisando de atendimento médico... Mas em campo o jogo continuava intenso e disputado palmo a palmo. O Vitória precisava de um gol e foi pra cima, abrindo-se aos contragolpes rápidos do tricolor. Falcão trocou Lulinha, que já não corria tanto, por Fabinho, um marcador. De tanto reclamar na beira do campo, o treinador Falcão acabou expulso pela arbitragem.
Aos 28, Gabriel invadiu livre pela direita e cruzou rasteiro para Souza, na pequena área, mas na hora do chute fatal apareceu o pé salvador de Vitor Ramos desviando a bola para escanteio. Aos 36 Helder fez ótimo passe para Souza, livre na área, mas o atacante não teve mais pernas para fazer o gol. Aos 37, Moraes entrou driblando pela esquerda mas errou o arremate final. Aos 39 apareceu o goleiro Marcelo Lomba, salvando uma cabeçada certeira de Vitor Ramos e, na sequência, um chute de frente de Mancha - duas defesas que garantiram o título.
Aos 41' o árbitro expulsou Uéliton e Vander que trocaram empurrões; aos 47 expulsou também Souza, que batia boca com o banco de reservas rubronegro e mais o goleiro Omar (reserva do Bahia) e o atacante Neto Baiano (que também agitava no banco de reservas do Vitória).
Com o apito final, aos 49', a festa começou em campo e nas arquibancadas pelo 44º título de Campeão Baiano do tricolor. O grito de campeão estava engasgado, entalado há 11 anos na goela, no peito do torcedor do Bahêa ! A partida acabou por volta das 18 horas, mas o torcedor do Bahia só começou a sair do estádio depois das 19 hs, após a entrega dos troféus, a volta olímpica, as homenagens aos atletas ... gritando, chorando, entoando cantos e o hino do clube... pura felicidade!
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Destaques:
No time campeão, Lomba foi decisivo com duas grandes defesas no final do jogo, garantindo lá atrás. O garoto Madson voou pelo lado direito, tabelando com Gabriel, este sempre preciso nas bolas paradas decisivas. Titi seguro com Fahel. Ótimo jogo de Diones e Helder. Souza lutou muito e Lulinha perdeu duas chances incríveis de golear. Moraes e Fabinho entraram bem.
No Vitória, que jogou com garra e teve chances também de vencer o jogo, o goleiro Douglas fez duas ótimas defesas, mas vacilou muito no segundo gol do Bahia, saiu catando borboletas e viu a pelota morrer nas redes sem alcançá-la. Vitor Ramos foi o mais eficiente da zaga. Pedro Ken e Neto Baiano foram os melhores na frente.
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Não há muito tempo para comemorar ou chorar. Nada de euforia e relaxamento, nada de moral baixa também. A semana vai ser quente.
Na quarta, o Vitória enfrenta o Coritiba (campeão paranaense) no Barradão, primeiro jogo do confronto decisivo pelas quartas de finais da Copa do Brasil. Tem de vencer em casa porque lá em Curitiba o bicho pega.
O Bahia, enfim Campeão Baiano, recebe em Pituaçu, na noite de quinta-feira, o Grêmio de Porto Alegre, pelas mesmas semifinais da Copa do Brasil. Tem de vencer bem em casa, se quer continuar na fita, porque lá em Porto Alegre é difícil ganhar do Grêmio, a parada é dura, todos sabemos.
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O Santos de Neymar é o Campeão Paulista: o Fluminense sagrou-se campeão carioca; o Internacional ganhou o título gaúcho e o Atlético de Minas levou o mineiro. O Coritiba papou o título Paranaense, o Goiás venceu o de lá, o Santa Cruz é o bicampeão em Pernambuco e o Ceará venceu o estadual cearense.
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Não dá pra respirar. No próximo domingo começa o Campeonato Brasileiro - Primeira Divisão. Sabe quem o Bahia pega logo de cara, em Pituaçu ? O Santos, tri-campeão paulista, de Neymar e Ganso, hoje e agora o melhor time do continente. Preparem os corações, portanto.