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Vitória fez sua melhor partida desta temporada e enfiou 4x0 no líder
Foto: ECVitoria
Na maresia, pedindo aos céus para desanuviar o medo desses dias de greve (de um magote da PM baiana), não fui ao Barradão ver a surpreendente e expressiva goleada do rubronegro ( 4 x 0 ) sobre o atual campeão baiano, líder do certame, o Bahia de Feira. Assim, fiquei de olho na telinha e ouvidos nas emissoras de rádio, acompanhando a rodada.
O bicho quase pega feio em Itabuna. Aproveitando-se da visibilidade de um jogo que seria televisado para todo o estado, os policiais grevistas aprontaram na cidade grapiuna. Bloquearam a chegada dos ônibus que levavam as delegações dos times, forçaram a suspensão da venda de ingressos nas bilheterias, proporcionaram o arrombamento dos portões e a invasão dos torcedores às arquibancadas, entraram na tora no vestiário do árbitro fazendo pressão e quase não há jogo.
Os jogadores entraram no estádio a pé, mas sem serem molestados. Enfim, depois de muitas negociações, telefonemas capital-interior, dirigentes e políticos, cartolas e autoridades, interferências lá e cá, altos interesses em jogo, a partida começou, com 15 minutos de atraso, depois da chegada de uma suficiente tropa, bem armada, da Força Nacional de Segurança. Aplausos da galera pros homens de farda. A Rede Bahia/Globo, que transmitia o jogo, passou olímpica sobre a questão, como se nada tivesse acontecido. Nem aí!
O pessoal do Itabuna ficou tiririca, queria a suspensão , o adiamento da partida, em função do prejuízo financeiro. Mas, parece, alguém negociou e alguma entidade (rede de tevê ou FBF) deve ressarcir o clube, já que dois terços do público presente nas arquibancadas entraram na tora, portões violados , abertos.
O JOGO
Beleza, sete gols, bons lances, velocidade, alternância de placar, um belo presente para o público que compareceu, superando o medo dos acontecimentos. Com um minuto, apenas, Wescley detonou de fora da praça para uma grande defesa de Omar, que jogou no lugar de Lomba (machucado nas costelas e fora de combate por um mês, no mínimo). Sem Joel no banco, com o auxiliar Eduardo Souza Barrocas no banco, o time tricolor parecia mais solto, marcando mais na frente, criando mais chances de gol, atacando mais. O Bahia, mais técnico, penetrava tocando e o Itabuna arriscava sempre de fora da área. Uma partida boa de se ver, a despeito das lombadinhas do gramado, desnivelado.
O primeiro gol, do Bahia, saiu aos 34, após bom cruzamento de Moraes: Fabinho enfiado no meio da zaga testou e fez 1 x 0. Ainda no primeiro tempo, o Itabuna perdeu duas boas chances com Helder e Wagner - um parou em Omar e outro chutou pra cima, de cara. Era só uma mostra de que a defesa do tricolor ... estava entregando fácil.
Na segunda etapa, o Bahia foi pra cima, tentando ‘matar' o jogo: logo de cara Fabinho perdeu, ele e o goleiro; Gabriel fez festa na defesa adversária mas não finalizou bem. Aos 6', num contragolpe rápido, Moraes arrancou, Lulinha recebeu e tocou para Souza completar com competência na saída do goleiro: 2 x 0.
Parecia que era uma vitória tranqüila, o Itabuna acuado. Mas... Aos 16 minutos , o árbitro Gleidson Santos Oliveira viu pênalti num carrinho de Titi (que só alcançou a bola) e marcou: Helder (vindo das divisões de base do Bahia), cobrou bem : 2 x 1. O esperto treinador Ferreira modificou o time, enxergou bem o buraco e começou a explorar o contragolpe em velocidade nas costas de Gabriel (improvisado na lateral direita) e em cima do grandalhão, pesado e desengonçado Donato. Numa cobrança de escanteio, a defesa tricolor, mal posicionada, deu mole e a bola foi cabeceada, bateu na trave e no joelho de Helder, empatando: 2 x 2, aos 22'. Quatro minutos depois, na velocidade em cima de Donato, Vagner arrancou e desempatou, virou o jogo, para delírio nas arquibancadas do Estádio Luis Vianna Filho, em Itabuna, e também no Barradão, onde o Vitória deitava e rolava em cima do líder: 3 x 2, para o Itabuna, de virada.
Na raça, na vontade, o Bahia chegou ao empate já aos 41 minutos, novamente com o oportunista Souza, recebendo na área e colocando no canto: 3 x 3. O árbitro deu cinco minutos de acréscimos e, já aos 49', marcou uma penalidade máxima do zagueirão em cima de Vander (ele viu o menino ser segurando e derrubado na área, numa bola alçada). Souza, com calma, fez os 4 x 3, placar que garante o Bahia na vice-liderança do campeonato, a um ponto apenas do líder Bahia de Feira.
Destaques para Souza, com três gols, para o melhor toque de bola do Bahia com a presença de Moraes, Lulinha, Souza, Gabriel ...; O time marcou mais na frente e criou mais. Em compensação, a atuação de Donato, o zagueirão, foi desastrosa, bizarra mesmo. Diones e Helder também não jogaram nada, pareciam perdidos em campo.
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A saída de Joel Santana, no meio da semana, não me parece que foi sentida em campo. Achei o time até mais solto, mais liberto do esquema defensivo de ‘papai', mas... francamente, não dá para suportar Helder de lateral; tampouco ver o time atuar com três frentes de zaga: Fahel, Fabinho e Diones. E Donato de zagueiro é uma piada, compromete, é um risco.
Até a noite desse domingo não tinha ainda nomes acertados para substituir Joel Santana, que largou as sardinhas (tricolores) e foi cuidar das traíras (rubronegras, do Rio). Deus o acompanhe. Mas falava-se nos microfones de rádio no nome de Falcão, aquele meia gaúcho da seleção de 82 de Telê Santana e que era comentarista de Tevê. Há alguns meses ele treinou o Inter de Porto Alegre. Será ? É um rapaz educado, um gentleman e foi craque em campo. Conhece de bola, mas seu currículo como treinador não é grande coisa. Será ?
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No meio da semana, o Bahia recebe o Vitória da Conquista, em Pituaçu. No domingo, no mesmo estádio, acontece o primeiro grande clássico do ano, o Ba X Vi.
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O QUE OUVI
Num Barradão sem problemas de policiamento mas com poucos torcedores nas arquibancadas (cerca de cinco mil pagantes) , o Vitória surpreendeu o bom time do Bahia de Feira e enfiou uma bela goleada, de 4 x 0. Como assim?
A partida foi praticamente definida na primeira etapa, quando o Bahia de Feira foi melhor, teve o domínio do meio campo, tocou mais a bola e criou boas chances de marcar. Mas o placar foi 3 x 0 para o rubronegro. Dinei, oportunista, fez 1 x 0 num vacilo defensivo do tricolor de Feira (a zaga parou pedindo impedimento que não houve) , aos 33 minutos. Aos 35', o árbitro Lúcio José de Araújo inventou uma penalidade máxima em cima de Artur Maia. Neto Baiano bateu e fez: 2 x 0. No finalzinho, Uéliton completou para as redes um rebote do travessão: 3 x 0, liquidando a fatura. O goleirão de nome Dionathan falhou feio no primeiro e no terceiro tento dos rubronegros.
Na segunda etapa, o Bahia de Feira continuou tocando bem a bola, mas sem ameaçar, inoperante, e o Vitória fechou o caixão já nos minutos finais numa jogada bem trabalhada por Marquinhos ( olhe ele, o craque, de volta!), Uéliton, Neto Baiano ... que Artur Maia arrematou, fazendo um golaço : 4 x 0, assim quebrando a espinha do líder, até então invicto no campeonato.
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Com a goleada, o Vitória vai com moral para a semana do Ba Vi e fica na terceira colocação do certame, a um ponto do Bahia, o rival, e a dois pontos apenas do líder, o Bahia de Feira. Na quarta-feira, o Vitória visita Juazeiro e pega o Juazeirense.
Destaques para Uéliton, Artur Maia e a volta do esperto Marquinhos. Nota negativa foi a contusão de Welinton Saci, o lateral esquerdo, que machucou o joelho após uma dividida com um zagueiro, ainda no começo da primeira etapa. Tomara não seja nada grave.
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No restante da rodada, três empates de 1 x 1 : Feirense X Juazeiro, Serrano x Atlético de Alagoinhas e Juazeirense X Camaçari. Em Feira, dentro de casa, no Joia da Princesa, o Fluminense mais uma vez decepcionou: levou 3 x 0 do Vitória da Conquista.
No meio da semana, o Bahia de Feira recebe o Serrano; o Atlético recebe o Feirense, o Camaçari enfrenta o Itabuna e o Fluminense vai a Juazeiro. Domingo, em Pitauçu, o bicho pega no clássico Ba Vi, casa cheia. O Bahia, sem treinador; o Vitória, com Cerezzo, parece mais bem arrumado e inflado com a goleada em cima do Bahia de Feira. Clássico é clássico, imprevisível.