vide
Torcida do Vitória fez a sua parte e não merecia uma derrota dessa natureza
Foto: Ecvitoria
Foram os derradeiros cinco minutos mais chorados da história do rubronegro baiano. A torcida desceu do paraíso ao inferno, viu em instantes toda uma alegria se transformar em choro e ranger de dentes. Meia hora de acabada a partida, centenas, milhares de torcedores se recusavam deixar o Barradão, prostrados nas arquibancadas, sem entender o acontecido.
Mesmo sem atuar bem, o Vitória vencia o São Caetano por 1 x 0 até os 43 minutos da segunda etapa, o jogo aparentemente sob controle, o time do ABC paulista rondando a meta baiana bem guardada pelo goleiro Douglas. A torcida, mesmo que tensa diante de alguns ataques do ‘azulão', comemorava o placar que praticamente deixava o time classificado, em terceiro lugar, e a um passo da primeira divisão em 2012, o grande sonho do torcedor que encheu a Toca do leão (mais de 38 mil pessoas) batendo recorde de público. Era uma grande festa vermelha e preta nas arquibancadas.
Mas... como dizia o folclórico dirigente Vicente Matheu, ‘o jogo só acaba quando termina', e... de repente, deu um branco da defensiva rubronegra.
Aos 43', Antonio Flávio acertou uma cabeçada da entrada da grande área, no canto, completando uma cobrança de falta na intermediária, e o goleirão Douglas só olhou. Fez-se um silêncio sepulcral no estádio e vi muito torcedor se lamentando aos céus. Aos 48', já nos acréscimos, viria o pior: o sistema defensivo baiano deu mole e a bola sobrou limpa para o meia Giovanni na entrada da grande área rubronegra, ninguém encostou, ele ajeitou e bateu seco, colocado, rasteiro no canto direito de Douglas que nem foi nela. Nem deu mais tempo pra saída de jogo.
Os jogadores do azulão do ABC comemoraram o resultado como se fosse um título, pois a vitória lhe dá ainda esperança de escapar do rebaixamento na última rodada. Os atletas do Vitória arriaram no gramado, em lágrimas alguns, todos cabisbaixos buscando explicações para os caprichos do futebol, os desatinos da bola. Mereciam?
Eu diria que o Vitória (o treinador e a equipe em campo) não soube vencer, entregou o jogo, deixou o azulão tomar conta do gramado, tocando a bola no meio campo com liberdade desde os minutos finais do primeiro tempo. O gol do Vitória foi aos 13 minutos de jogo, o zagueiro Jean aproveitando uma bola vadia na pequena área adversária. Daí, como tem feito sempre, essa tem sido a arriscada tática de Benazzi, o time encolheu-se, chamou o adversário e foi à frente somente nos contragolpes, nos chutões, na correria.
O São Caetano trocou de camisa (vestiu azul) nos vestiário e voltou para o segundo tempo com outra postura, marcando mais à frente, ousando. O Vitória defendia-se bem, sobretudo com a raça de Neto Coruja, as boas pegadas do goleiro, a defesa se safando. Mas o rubronegro não metia medo, atuava com o freio de mão puxado, e o São Caetano foi crescendo, ganhando confiança, arremetendo.
Então... o treinador Benazzi cismou de mexer no time e substituiu mal, frouxou a marcação na frente de sua área e no meio campo (tirou Coruja e pos o veterano Zé Luis, sem ritmo, tirou Mineiro e colocou C.Vagner). Facilitou para o adversário. Em dois erros de marcação, vacilos, o Vitória levou dois gols que já se desenhavam, pois aos 37, 38 e 39 minutos o time do ABC não marcou em função de ótimas intervenções do goleiro Douglas, fechando. O azulão pressionou e buscou o resultado até o fim, até consegui-lo.
*
Destaque no Vitoria para Neto Coruja enquanto esteve em campo, pela raça e determinação. Uéliton fez falta. No São Caetano, o bom goleiro Luiz, o artilheiro Antonio Flávio e, principalmente, o treinador Mário Araújo (aquele mesmo que treinou o Bahia no ano passado) que engoliu Benazzi, deu-lhe um banho tático, envolveu o time baiano nos 45/49 minutos finais do jogo.
*
Com a derrota e a apenas uma rodada do final da Série B, o Vitória foi ultrapassado pelo Sport do Recife e tem à frente ainda o Bragantino. Os três disputam uma vaga apenas, porque a Portuguesa, a Ponte Preta e o Náutico já se classificaram e estarão na Série A , na Primeira Divisão em 2011.
Tornou-se muito mais difícil com a derrota, claro, mas o Vitória ainda está matematicamente no páreo. Precisa vencer o ASA, em Arapiraca. Só que o ASA ganhou do Bragantino nessa rodada, em Bragança, e vai comer grama em casa pelo resultado, pois precisa vencer para fugir do rebaixamento, não vai ser fácil. Além de vencer em Alagoas, o torcedor rubro-negro precisa torcer por derrotas do Sport (contra o Vila Nova) e do Bragantino (contra o Paraná).
Depois do que se viu no Barradão, um jogo ganho perdido, tudo é possível. Acreditar não dói.
O mais difícil vai ser Benazzi, desacreditado pelo torcedor, pela imprensa esportiva e também por muitos dentro do clube, conseguir levantar o moral dos atletas, abatidos com a derrota imprevista e surpreendente, de virada, no finalzinho. Dói. Cabe ao Vitória ir pra cima do ASA e arriscar tudo, jogar ofensivamente, sem medo, diferente do que tem feito, e ... esperar, torcer para que Sport e Braga derrapem.
Quem sabe?