Nada de interior ou litoral. O programa preferido dos são-paulinos para o feriado de 7 de setembro nesta quarta-feira foi acompanhar o time do coração em dia histórico. Para o futebol e para o São Paulo. Dia de Rogério Ceni completar mil jogos, contra o Atlético-MG, em Morumbi superlotado. Uma festa que começou antes de a bola rolar e, graças a um belo gol de Dagoberto, terminou com vitória por 2 a 1 e a liderança, por ora momentânea, do Campeonato Brasileiro.
Bem antes de o jogo começar era possível perceber uma festa preparada para Rogério Ceni, com direito a rock'n roll, estilo musical predileto do goleiro, rolando nos alto falantes. O público que chegava era agraciado por braçadeiras de capitão e se formava uma atmosfera que o São Paulo havia esquecido desde a última Copa Libertadores.
Bandeiras tremulando, estádio cheio e a expectativa de que ele entrasse em campo.
Na entrada ao gramado com as filhas pequenas Clara e Beatriz, Ceni foi recebido pelo time do São Paulo reforçado por Luís Fabiano - infelizmente, para os são-paulinos, ainda de calça jeans e não de shorts. Um corredor se formou com todos os jogadores vestidos de vermelho, a cor predileta de Rogério. Correndo e muito focado, ele passou por todos, agradeceu o público e se dirigiu ao gol para que a bola pudesse rolar logo.
Em 90 minutos, Rogério Ceni praticamente não teria sido notado se não fosse o personagem do jogo. Aos 3min, fez a primeira defesa e, minutos depois, nada poderia fazer para impedir o gol de Réver, já que estava distante da bola. Solitário como de costume, festejou de forma efusiva, e com tom de alívio, os gols de Lucas e Dagoberto. Apesar de apelos da torcida em uma falta de muito longe, também não quis deixar a meta e pouco usou os pés no dia de sua festa.
Rogério Ceni, aliviado pela vitória no dia especial, foi abraçado por cada um dos jogadores e procurou Dagoberto, no meio-campo, para agradecer pelo gol decisivo. Foi a cada um dos setores do Morumbi e reverenciou, sobretudo aquele onde tinha uma enorme bandeira em sua homenagem. Em êxtase, se ajoelhou e beijou o símbolo são-paulino na beirada do gramado. Com microfone na mão, agradeceu: "vocês são a alma desse time. Isso aqui é a minha vida", disse aos torcedores.
Cercado por repórteres, lembrou da família: "meu pai foi quem me trouxe até aqui, na primeira vez que andei de avião 20 anos atrás. Dedico a ele e a minha mãe, que só viu um jogo meu aqui em vida. Nos outros 999, está lá de cima me abençoando", recordou o pai de Clara e Beatriz, reverenciado pelos colegas. "Ele merece tudo isso, é um grande amigo", definiu Rivaldo. "É uma pessoa maravilhosa. É prazer fazer parte desse jogo, fazer gol nesse jogo. Ele tem 38 anos e tanta vontade de vencer, por que não vou ter também?", questionou Lucas.
Como ele mesmo definira na véspera, Rogério Ceni teve apenas mais um dia de trabalho. Dia também de coincidências, pois foi em um 7 de setembro de 1990 que ele foi aprovado em um teste e começou a treinar pelo São Paulo. E foi contra o mesmo Atlético-MG, em 27 de julho de 2005, que se tornou o jogador com mais partidas vestindo as cores são-paulinas - àquele momento, o jogo 619. Agora, com a milésima partida, voltou a fazer história. Algo tão simples para ele quanto ter mais um dia de trabalho.