Chuva com sabor de título paulista. É o que levaram os santistas neste domingo de vitória por 2 a 1 sobre o Corinthians, na Vila Belmiro, com gols de Arouca e Neymar. Logo o volante santista, que nunca havia marcado, é que abriu o marcador, ampliado por Neymar em outra tarde inspiradíssima. Assim, a galeria de conquistas estaduais do Santos já tem seu 19º troféu, o segundo conquistado em dois anos.
Com uma superioridade muito grande apesar da ausência de Paulo Henrique Ganso, o Santos construiu a vitória com melhor futebol desde o início. Mesmo nos momentos em que o Corinthians é que parecia ter o controle do jogo, os santistas ficavam atrás bem posicionados e depois chegavam com mais facilidade. Principalmente por Neymar, que absorveu a ausência de seu fiel escudeiro para erguer mais uma taça.
A do Campeonato Paulista de 2011 ratifica a condição da terceira geração de Meninos da Vila em conquistar títulos. Depois da dobradinha de Paulista e Copa do Brasil no último ano, Neymar e Ganso se juntaram mais uma vez a nomes experientes, como os rodados Léo e Elano, remanescentes do time de Diego e Robinho que encantou em 2002, 2003 e 2004. Mas também do capitão Edu Dracena e seu parceiro inseparável Durval, do goleiro revelação Rafael, do herói Arouca e tantos guerreiros.
E depois de perder Dorival Júnior e desperdiçar meses e meses de procura, o Santos também tem novamente um treinador com história e que se ajusta ao DNA santista. Muricy Ramalho enfim reconquistou o Campeonato Paulista que não vencia desde 2004, quando chegou ao topo com o São Caetano, e colocou fim à história de falhar em mata-matas. Muricy ensinou ao ofensivo time alvinegro a receita para se defender, e assim avançou diante de Ponte Preta, São Paulo e Corinthians tendo sofrido apenas um gol.
Agora, o Santos se volta para um compromisso ainda mais valioso. Já na quarta-feira, vai até o Pacaembu para confirmar a vaga nas semifinais da Copa Libertadores diante do Once Caldas. Voltar a conquistar a América é um desafio de todos na Vila Belmiro, mas especialmente dos garotos Neymar e Ganso e também de Muricy Ramalho, atrás do principal troféu continental, ainda ausente em sua galeria.
O Corinthians, apesar dos dois gols sofridos, termina o Campeonato Paulista com seu melhor desempenho defensivo do século, com 16 gols sofridos em 23 jogos, média de 0.69 gol por jogo. Um pequeno consolo para uma equipe que se reergueu de um dos maiores vexames de sua história - a eliminação frente ao Tolima ainda na fase preliminar da Copa Libertadores - para caminhar até a decisão contra o Santos.
Tite deve ser mantido no cargo e provavelmente ganhará reforços importantes para tentar a sorte no Campeonato Brasileiro que tem início já no próximo sábado. O primeiro deles e já confirmado é o meia Alex, ex-Spartak de Moscou e Internacional. Nomes novos serão fundamentais para tentar fazer um time mais forte, já que a decisão diante dos santistas escancarou limitações do vice-campeão.
Primeiro tempo: Santos abre vantagem
Apesar do placar sem gols no Pacaembu, Muricy Ramalho e Tite praticamente não mudaram as formações de suas equipes para a medição final de forças do Campeonato Paulista agendada para a Vila Belmiro. Desfalques só do lado santista, que se viu fragilizado pela suspensão do volante Danilo e pela lesão de Paulo Henrique Ganso, seu jogador mais cerebral.
O meio de semana do Santos ainda incluiu uma viagem à Colômbia, onde na última quarta-feira um gol de Alan Patrick assegurou vantagem na disputa por um lugar na semifinal da Copa Libertadores diante do Once Caldas. Desgastados, os santistas jogaram com mais inteligência e força na chegada ao ataque ao longo da primeira etapa na Vila.
Tite repetiu os titulares do Pacaembu, apenas recolocando Alessandro, suspenso há uma semana, na lateral direita. Ele jogou ao lado de Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos no competente sistema defensivo corintiano, protegido por Paulinho à direita e Ralf pela esquerda. Dúvida do lado paulistano, Dentinho seguiu puxando a linha de armadores titulares, com Bruno César centralizado e Jorge Henrique pela esquerda. Liedson fez como sempre a função de camisa 9.
Muricy Ramalho também preservou o sistema de jogo habitual dos santistas desde sua chegada no início de abril. Jonathan e Léo foram os laterais, mais marcadores que apoiadores. Edu Dracena e Durval completaram a primeira linha. Adriano foi o volante mais defensivo, incumbido de marcar Bruno César. Elano, pela direita, Arouca, à esquerda, e Alan Patrick, à frente, fecharam o meio. Neymar novamente teve a companhia de Zé Eduardo.
Em 45 minutos, o Santos desperdiçou a chance de praticamente liquidar os corintianos na Vila Belmiro. Com 15min, já eram três as ocasiões de gol claras para o time da casa. Neymar, aos 6min, cabeceou por cima bom cruzamento de Zé Eduardo. Em seguida, foi Léo que recebeu de Arouca entre Chicão e Alessandro, mas bateu por cima. Depois, Zé Eduardo converteu diante de Julio Cesar, mas estava impedido.
Enquanto o Corinthians tocava a bola e tentava investir, o Santos recuperava e tinha mais qualidade para chegar ao gol. Foi o que aconteceu aos 16min, quando um lançamento de Léo desviou na defesa e morreu nos pés de Zé Eduardo, livre na ponta esquerda. Com precisão, ele tocou para trás e Arouca só cumprimentou. Em seu jogo de número 66 como jogador santista, o volante marcou pela primeira vez.
Iluminado, Arouca quase também fez o segundo, já aos 33min. Com o jogo truncado, ele apareceu na entrada da área após sobra de escanteio e acertou a trave de Julio Cesar. Àquela altura, o domínio santista era constrangedor para os cerca de 700 torcedores corintianos localizados na Vila Belmiro.
Nos instantes finais da etapa inicial, se ampliou o domínio do Santos, com Zé Eduardo batendo para fora após receber bom lançamento em profundidade com 39min. Segundos depois, Neymar abençoou Alan Patrick com um passe genial, como havia feito na Colômbia. O substituto de Ganso, dessa vez, bateu por cima.
A única ocasião realmente clara para o Corinthians pintou com 41min. Do centro, Chicão cobrou falta venenosa e Jorge Henrique, pequenino e livre, só raspou - a bola passou a centímetros do gol de Rafael. Neymar, em seguida, desperdiçou a chance mais evidente. Livríssimo, teve tempo de pensar e até fez firulas. Competente, Julio Cesar defendeu.
Segundo tempo: Santos leva o bi
Dentinho talvez foi quem mais simbolizou a falta de agressividade do Corinthians na primeira etapa. Por conta disso, não voltou do intervalo, e Tite apostou em seu amuleto da sorte, Willian. O homem dos gols decisivos nas quartas de final, contra o Oeste, e semifinal, diante do Palmeiras, saiu do banco para tentar salvar os corintianos desde o reinício da partida.
Mas foi ainda o Santos, como no primeiro tempo, quem ameaçou primeiro. Com 4min, Elano cobrou escanteio venenoso na cabeça de Durval, que desviou bem - no pé da trave, e também impedido, Alan Patrick empurrou para dentro, mas a jogada foi invalidada.
Apesar do lance agudo, seria o Corinthians a equipe a se lançar de verdade para o ataque. Com 15min, Willian buscou o gol de fora da área em finalização fortíssima que Rafael alvejou. De verdade, foi a única chance clara dos corintianos durante mais da metade do segundo tempo. Assim, queimou seus últimos dois cartuchos: Ramírez e Morais saíram do banco para tentar criar mais nos lugares de Paulinho e Bruno César.
Com 26min, o Corinthians trocou passes no cerco da grande área santista, mas desta vez conseguiu finalizar. Fábio Santos rolou para Ramírez, que mesmo de frente para o gol, do grande círculo, chutou muito distante.
O Corinthians até martelou, e Jorge Henrique desperdiçou chance clara, mas foi o Santos que conseguiu seu gol. Aos 38min, Neymar encaminhou o bicampeonato paulista e ratificou sua condição de grande craque do Santos. Pelo lado esquerdo da grande área, chutou seco no chão e Julio Cesar, desatento, deixou a bola passar. Foi um frango.
O Corinthians respondeu imediatamente e continuou vivo na partida com chute de Morais que, no susto e na falha de Rafael, acabou entrando. O gol colocou fim em uma sequência de 8 jogos e mais alguns minutos da equipe santista sem sofrer gol. Mesmo assim, o Santos resistiu bravamente e celebrou mais um título paulista.