Quis a fortuna que a bola decisiva caísse nos pés do melhor jogador da Copa, o baixinho Iniesta.
Técnico, clássico, habilidoso, talentoso, um amante da bola. A ‘jabulani' o escolheu, o amado eleito, porque gostou do tratamento carinhoso, respeitoso que ele lhe deu em campo, todo tempo, a cada toque de primeira, a cada dominada macia, a cada calcanhar preciso, a cada passe exato, a cada jogada inteligente, no domínio elegante e no chute fatal, já na segunda etapa da prorrogação, aninhando-a nas redes holandesas e colocando, pela primeira vez na história, a ‘fúria' espanhola no pódium mais alto do futebol mundial.
Mais que merecido. E graças aos deuses da bola que assim fosse, em nome do futebol bem jogado, limpo, em nome da boa técnica. A Espanha foi o time que mais teve a bola e que a tratou melhor em campo, a copa inteira, deixando-a rolar macia de pé em pé, pelo gosto de jogar apenas. A Espanha resgata o velho estilo do ‘toco y me voy', que outrora foi uma marca do grande futebol argentino, que também já foi grife e estilo do futebol verde-amarelo (como nas Copas de 70, de 82), e hoje é a essência do jogo cadenciado do grande Barcelona, base do escrete espanhol campeão do mundo.
Que viva Espanha, a mais nova campeã, com suas touradas, sua paella, sua realeza moderna, sua Madrid que deve estar borbulhando, sua dança flamenca, sua Barcelona catalã tão bela e viva, sua Sevilla, Santiago de Compostela... Espanha de gênios da humanidade como Picasso, Dali, Gaudi, Cervantes... Olé!!! Viva e glória a esse time campeão, com 90% dos seus atletas atuando no próprio país, com um grupo dedicado e tranqüilo, treinado por um homem simples e sóbrio, o senhor Vicente Del Bosque.
Que fique o exemplo para nós, que faremos a Copa 2014. A Copa do Mundo do Brasil já começou!
O JOGO
Desde o início o time espanhol buscou impor seu estilo, mas os holandeses marcavam, faziam faltas seguidas, mascavam o jogo, iam para o ataque apenas nos erros dos adversários. Foi assim o jogo inteiro. Das 45 faltas, muitas, da partida, 30 foram cometidas pelos holandeses. O árbitro, pusilânime, deu oito cartões amarelos e um vermelho para os atletas da equipe laranja. Poucos, pelas faltas seguidas e duras. O primeiro tempo foi truncado, os espanhóis tiveram mais a bola, mas não conseguiram trabalhar as jogadas como de costume.
Na segunda etapa, os ibéricos tiveram boas chances, de cara com o gol. Mas, nos contragolpes, Robben quase marca em duas oportunidades, parando no goleiraço Casillas. Na prorrogação, cansados de tanto correr atrás da jabulani, sempre em pés espanhóis, os holandeses apenas se defenderam e catimbaram. Os jogadores espanhóis perderam no mínimo cinco chances reais, de frente.
Até que, aos 10 minutos, a 5' de acabar a prorrogação, Navas iniciou um contragolpe, Iniesta deu um toque de calcanhar desconcertante e correu para a área, a bola foi até o lado esquerdo, é cruzada para a meia-lua da área holandesa e Xavi (ou Fábregas ¿) tocou para o craque Iniesta, que dominou e fuzilou, inapelável, marcando o gol do título e selando o fado holandês: pela terceira vez chega a uma final e é derrotada.