Há dois anos aconteceu o trágico acidente num naco de arquibancada da Fonte Nova e o estádio foi fechado e abandonado. Nenhuma vida por lá.
O gramado está crescido e cheio de praga, o mato desponta sadio nas frestas do cimento, as traves enferrujam, as dependências estão deterioradas... Desperdício de equipamentos e do dinheiro público.
Na dor dos acontecimentos, como a justificar o desleixo com a manutenção, tudo foi condenado. Num repente, nada ali mais prestava pra nada. Seria preciso implodir, já, demolir pedra por pedra, deletar da memória o velho ‘Octávio Mangabeira', a Fonte Nova, templo maior do nosso futebol. Uma era (1951/2007) a ser apagada, riscada do mapa, rasgando-se páginas da história.
Foi decretada a morte da Fonte Nova e de tudo e todos os que giravam em torno de seus espetáculos, de sua pujança: os torcedores, os guardadores, ambulantes, vendedores de camisetas, bonés, bandeiras, churrascos, picolés, roletes, amendoins, os bares, as rodas de cerveja, os encontros, o alarido, a procissão, as cores, os hinos, a disputa, o louvor, as lágrimas, o gol!!! ... Tudo! Acabou.
Nada para ser respeitado, nem a poesia de sua ferradura aberta diante do dique dos Orixás, nem a estátua do semi-deus Pelé, nem a alegria do povo. Lacra-se o Balbininho de vez, não presta nem prum baba, treino dos meninos das escolas públicas. Fecham as salas de aula, os cursos, desalojam tudo. Condenação! Uma assombração que deve ser esquecida para sempre!
Ah, restaram as piscinas olímpicas! Pois que sequem suas águas, entupam, destruam.
No entorno do velho e imponente estádio, só a solidão, o abandono dos miseráveis! Apenas. Ao longe, a dor pelos que sumiram no buraco da ganância e da incompetência, naquele dia. Ninguém foi punido. Aliás, perdoem-me: Foi punida a cidade amada. A Bahia, seu povo, amante da bola, esse símbolo maior do Deus-todo-poderoso e criador, sem princípio nem fim.
O que vai acontecer com o espaço da Fonte Nova? Quem sabe um ‘arenão germânico' para a Copa 2014, conforme as conveniências eleitoreiras? Mas isso é outro negócio, delírios, bilhões, olhos gordos... E haja cascalho para entupir lagoa, haja tijolo pra cimentar interesses.