O que mais aflige, nesse instante, o perplexo e tonto torcedor do Vitória não é somente a derrota acachapante de 4 x 0 diante do Vasco da Gama em São Januário, no dia 13 de maio, um presente de amigo da onça português nas comemorações dos 110 anos do clube rubronegro baiano.
Claro, a goleada em si é humilhante, mas o pior para o torcedor é a percepção clara, mais uma vez, de que seu centenário time do coração ficou mais distante da possibilidade de ganhar pela primeira vez um título nacional e, assim, por uma tão almejada estrela dourada clube na camisa vermelha e preta.
Um sonho tão acalentado e que parecia tão próximo, para muitos, e que agora está bem mais distante, muito mais difícil de ser conquistado este ano.
A Copa do Brasil, sabemos, pela sua tabela e forma de competição em jogos ‘mata-mata', é o caminho mais curto para um título nacional, uma estrelinha de glória e orgulho para qualquer clube. E, este ano, os ventos sopravam favoráveis ao rubronegro de Canabrava.
Venceu o campeonato baiano conquistando um tri em cima do maior rival; o time parecia bem arrumado em campo, jogando com personalidade; conseguiu passar pelo Atlético Mineiro ganhando espaço na mídia nacional; estreou bem na série A do campeonato brasileiro batendo o Atlético do Paraná por convincentes 2 x 0 no caldeirão da Arena da Baixada... e tudo parecia que vencer o Vasco, um time de segunda divisão, seria uma tarefa menor para o Leão, já acostumado a sovar os ‘portuga' cariocas com goleadas.
Mais ainda, o time agora tem à frente um treinador conhecido de primeira linha, o Carpegianni; a tabela da competição vinha favorecendo e ir às finais, para o torcedor mais afoito e para parte da mídia esportiva baiana, nem sempre isenta, era mais que certo, uma questão de tempo, apenas.
Mas, daí... veio o desastre. E 4 x 0 não é uma derrota qualquer. Desestabiliza.
Nada está perdido, dirão, pois da mesma forma que o Vasco goleou lá pode ser goleado aqui, e o clube cruzmaltino já levou de 5 na Toca do Leão não faz muito tempo.
Isso também é verdade. Mas, convenhamos, jogar com a obrigação de meter 4, 5 gols no adversário sem direito a tomar nenhum é uma tarefa difícil. Ainda mais com a cobrança da mídia ( a mão que afaga é a mesma que apedreja) e a torcida fungando no cangote.
Uma tarefa de leão, permito-me, mas para um leão jovem, poderoso, ágil, valente, em forma. O leão que vimos em São Januário parecia cansado, meio desligado, posudo, atordoado, acuado, sem poder de reação. Um leão baleado.
A revanche contra o Vasco será na próxima quarta, é o tempo de curar as feridas.
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Só que, já no domingo, no Barradão, o Leão de Canabrava enfrenta o Leão de Pernambuco, o poderoso Sport do Recife, também rubronegro e também um super-campeão. E mais, o Leão da Ilha (como carinhosamente chamam os torcedores pernambucanos) vem mordido pela desclassificação nos pênaltis, esta semana, da Copa Libertadores de América, numa disputa renhida contra o Palmeiras de SP.
Um fracasso no domingo contra o Sport vai deixar a torcida de cabelos em pé, frustrada
e cheia de cobranças. Haja nervos.
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Para quem vê o futebol com menos paixão, a derrota do Vitória contra o Vasco foi larga no placar mas nada surpreendente. O time vem oscilando com boas e más jornadas. Senão, vejamos:
Venceu o Bahia por 2 x 1 em Pituaçu, quebrando a invencibilidade do tricolor e jogando muito bem, sobretudo no primeiro tempo. No segundo jogo decisivo, no Barradão, foi dominado pelo tricolor durante todo o primeiro tempo e levou 2 x 0, sem ver bola. No segundo tempo, sem jogar essa pelota toda, foi favorecido pela sorte, pela expulsão de um jogador adversário e por um gol, no final, em lance ilegal, de total impedimento de dois atacantes.
Tudo bem, mereceu o título, lugar de choro é no pé do Caboclo.
Continuando a análise, fez um bom jogo em casa contra um combalido Galo Mineiro, depenado pelo Cruzeiro dias antes, e jogou muito mal a revanche no Mineirão, tomando 3 x 0 do mesmo Atlético. Classificou-se nos pênaltis, graças ao goleiro Viáfara.
Ganhou bem do Atlético do Paraná, jogando fechadinho, nos contra-ataques, sem nenhum brilho mas taticamente eficiente. E caiu de quatro para o Vasco, no Rio.
O time, de fato, está bem longe de ser a maravilha que o torcedor imagina e quer como candidato a campeão brasileiro... algum dia.
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Já o rival, Bahia, joga no sábado contra o São Caetano, na Grande São Paulo, pela série B. Lá no quintal deles é tarefa difícil, mas a torcida espera uma postura de time grande em campo, pois só assim será possível escapar das trevas da segundona. Com a torcida que tem, o tricolor é clube de primeira, mas tem time pra isso? É preciso provar em campo, a cada jogo.
O torcedor não agüenta mais tanto sofrer. Devoto, leva fé que este ano vai. A estréia contra o Paraná Clube ( 2 x 0 em Pituaçu) foi boa, mas está faltando craque no time, um ou dois jogadores que possam decidir individualmente, que apareçam e façam a diferença no momento difícil.