Esporte

QUE OS DEUSES DA BOLA PROTEJAM O FENÔMENO, POR ZÉDEJESUSBARÊTO

ZédeJesus Barrêto é jornalista
| 08/05/2009 às 14:18
Quando ninguém mais acreditava, Ronaldo deu a volta por cima no campo do futebol
Foto: GP
 

Ele é o cara!


Não falo de política, Deus nos livre e guarde dessa gente. Meu tema é o mundo mágico da bola. A arte do futebol, emoção, paixão, devoção de um povo.


E o ‘cara' é Ronaldo, aquele ex-dentucinho, quase gorducho, dito fenômeno.

Ele é o grande acontecimento do futebol brasileiro neste ano, às vésperas de  mais uma  Copa do Mundo, na África do Sul.


Um Ronaldo já aos 32 anos, depois de uma segunda delicada operação nos joelhos destroçados, quando foi dado já por muito como acabado para o jogo de bola.


Um ex-atleta, acabado de vez, diziam, mostrando as fotos de sua pança dobrada sobre a bermuda, em férias. Fim-de-linha, comentavam diante de fotos suas em baladas noturnas, copo cheio e cigarro nas mãos, mulheres ao colo, olhos embaçados pelos prazeres da naite.


Agora ele decretou o fim, era o assunto nos botecos da vida depois do escândalo daquela madrugada no motel com drogas e travestis, garotão perdido...


Ninguém mais esperava, poucos arriscavam um tostão furado na sua volta aos campos, assim pesadão, o olhar triste e distante, arrependido das ‘façanhas' noturnas, milionário, barriga cheia, sem mais o que conquistar no reino da glória dos boleiros...

Como acreditar?


Pois ele, o fenômeno de superação, voltou. E voltou por cima, num dos clubes de maior torcida do país, talvez a mais fiel e fanática de todas, o Corinthians paulista.

Estreou ainda meio gordinho, arquejando a cada corrida, mas já fazendo gol, e gol decisivo no último minuto, de cabeça, contra o grande rival Palmeiras, como se estivesse dando um recado:  Estou de volta, aguardem.


A cada jogo, mais enxuto, mais gols. A cada jogo, mais exibição de sua arte. A cada jogo, mostras de sua paixão pela bola, na cara risonha e feliz, nos olhos brilhando com a bola a morrer de gozo nas redes adversárias.


Veio o golaço na bola enfiada, um pique como nos velhos tempos deixando o jovem zagueiro pra trás, o toquinho de classe na saída do goleiro. Hum! Ele voltou.


E, já em seguida, o reconhecimento do mundo diante das imagens, o quedar respeitoso dos adversários diante da majestade daquele meninão graúdo e feliz, um dos maiores atacantes de todos os tempos. 


No jogo das finais do campeonato paulista, contra o Santos, dentro da ‘Vila Sagrada' onde Pelé reinou como um semi-deus, até o Rei curvou-se diante da arte do Ronalducho depois de dois gols maravilhosos, irretocáveis, dignos do Rei, reconhecido.

No primeiro, em velocidade e com o zagueiro no encalço, conseguiu com o pé direito matar uma bola longa que caía arisca sobre suas costas num giro de corpo, e na matada, a bola dócil, já tirou o adversário da jogada num simples e sutil toque, ajeitando a pelota para o disparo de esquerda imediato, colocado, no canto do goleiro, sem chances de defesa.

Quem jogou um pouco de bola sabe a dificuldade daquelas movimentos executados pelo ‘gordo' como um passe de balé, um brinquedo, uma pintura.


No segundo gol, que o mundo inteiro viu boquiaberto, o Rei Pelé levantou e saiu do estádio dizendo: ‘ Ver mais o quê, depois dessa obra de arte?'  Um drible com um toque de calcanhar por entre as pernas do zagueiro, limpando a bola, um toque longo, macio, caprichosamente lento por cima do goleirão adiantado e o salto de alegria vendo a ‘criança' dormir no balanço da rede.


Corinthians, campeão invicto do Paulistão 09, todas as torcidas de joelhos e venerar o ídolo. 


Sim, ele voltou. E voltou no auge. Encantando o mundo com sua arte, a  de fazer gols.


Semana seguinte, contra o Atlético do Paraná pela Copa do Brasil, foi mais uma vez decisivo.  Mano a mano com o zagueiro, na entrada da área, ameaçou o chute, o adversário levantou a perna para travar, ele esperou o tempo certo, aquela fração de segundo para bater seco entre as pernas do zagueirão no canto de goleiro, sem chances de defesa.  


Era pouco.  Mais adiante, com dois defensores colados em suas costas, recebeu a pelota e deu toque de calcanhar por baixo das pernas de um deles, forçando a passagem entre os dois. Sairia de cara com o goleiro, mas foi derrubado. Bateu o pênalti com a arte de uma paradinha de classe, matando o goleiro e o jogo.


Dia seguinte, o país inteiro perguntava: E aí, Dunga, o fenômeno voltou, vamos convocá-lo de novo para a seleção?


O treinador parece render-se e já sonha com Ronaldo vestido com a 9 amarelinha na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.


Apresentem-me alguém que saiba fazer gols como ele!


Ronaldo é o cara!

Um fenômeno, um exemplo de superação.

Que os deuses da bola o protejam e o iluminem. E que ele jogue enquanto for feliz ao lado dela, a bola, de fato sua única e maior paixão.


O mundo o admira. O povo agradece.