Apodi foi o grande personagem do BaVi que acabou com a invencibilidade do Bahia em Pituaçu (2 x 1) e deixou o Vitória bem mais próximo do título de tri-campeão baiano.
O ala-direita baixinho, velocista e abusado foi decisivo.
O ‘indio maluquinho', como é carinhosamente tratado pelos rubronegros, começou a aparecer antes mesmo de a bola rolar em campo. Ainda no aquecimento, foi provocado e hostilizado com xingamentos e propostas indecorosas pela galera da torcida uniformizada Bamor que fica instalada nos fundos do gol que dá para a Paralela.
A resposta veio já aos sete minutos, quando o danado antecipou-se à zaga num cruzamento vindo da esquerda e dentro da pequena área tocou para o gol mas o goleiro Fernando salvou milagrosamente.
Aos 12, já bem aberto pela direita, recebeu um lançamento longo de Carlos Alberto, deixou Rubens Cardoso para trás e cruzou certeiro para a cabeçada fatal de Ramon, à frente do distraído Patrício. 1 x 0.
Ainda no primeiro tempo, Apodi protagonizou a primeira confusão do clássico, entrando de sola pelas costas e na nuca de um atacante tricolor, já fora do lance de bola.
O juiz não viu, o bandeira comeu mosca e quase o pau quebra entre os jogadores. No empurra-empurra, sobrou cartão amarelo para o capitão Nem do Bahia e para o atacante neto Baiano do Vitória que, na discussão, quase trocaram tapas. Já pra ele, Apodi, nada.
Mesmo com os nervos à flor da pele o Bahia conseguiu empatar num chute cruzado do lateral Rubens Cardoso que o goleiro Viafra bateu roupa. Na sobra, Reinaldo jogou a bola nas redes, igualando o placar.
No segundo tempo, quando o tricolor parecia mais calmo, pressionava e esboçava uma reação... Apodi apareceu de novo, decisivo. O tricolor desperdiçou um escanteio, Ananias perdeu a dividida na intermediária rubronegra e o ‘velho' craque Ramon meteu o passe longo na esquerda. Apodi disparou com Rubens Cardoso no encalço, ganhou na corrida e foi puxado pela camisa já nos limites da grande área. Pênalti, Ramon cobrou e fez 2 x 1.
Daí por diante, só deu Vitória. A torcida inflamava deixando os atletas tricolores ainda mais nervosos, sem conseguir finalizar no gol adversário. O ‘índio maluquinho', na correria e na catimba, desestabilizava a defesa tricolor. Driblou, chutou, caiu, cavou pênaltis, irritou os zagueiros... de tal sorte que, após o apito final, viu-se cercado de jogadores adversários que o empurravam e o xingavam, descontrolados. Quase sai porrada geral.
*
O Vitória, enfim, ganhou porque foi mais equilibrado emocionalmente em campo. Porque no seu elenco tem jogadores experimentados e malandros como Ramon, Jackson, Neto Baiano, Carlos Alberto.
Venceu porque ganhou todas as bolas divididas no meio-campo, ganhou a maioria dos rebotes defensivos e ofensivos.
Porque marcou melhor o adversário, não deixou o Bahia jogar e conseguiu sempre sair jogando com Bida e Carlos Alberto, livres. Tática e fisicamente foi superior.
O Bahia parecia desarrumado em campo, errando os passes, sem achar a bola, como se a cobrança da torcida perturbasse os jogadores.
*
Num jogo difícil, disputado acirradamente, catimbado de parte a parte, louve-se a boa arbitragem do baiano-paulista Sálvio Espínola.
*
Domingo tem mais. O título sai no Barradão que, certamente, será um inferno rubronegro.
Mas, futebol é jogo e jogo de bola, bola não juízo e cada jogo é diferente.
Se quiser sair do jejum de sete anos sem títulos, o Bahia vai ter de se superar, superar os nervos e a pressão na Toca do Leão. Precisa fazer um resultado com dois gols de diferença. Difícil, mas não impossível. Este ano mesmo o tricolor enfiou 2 x 0 no adversário lá dentro. Nem a torcida acredita muito... mas a esperança dos mais apaixonados ainda está viva. Quem sabe?
Esperamos todos que não haja ‘sujeira' no Barradão. O torcedor baiano merece um grande espetáculo em campo e uma festa digna para o campeão.
*
No âmbito nacional, dois destaques:
A goleada, mais uma, do Cruzeiro diante do ‘galo mineiro', 5 x 0, no Mineirão cheio.
É esse mesmo Atlético comandado pelo posudo treinador Leão, esse mesmo ‘galo depenado' que enfrenta o Vitória na quarta-feira, no Barradão, pela Copa do Brasil.
O destaque maior é para o Ronalducho corintiano, que fez dois golaços e arrasou o Santos dentro da Vila Belmiro, diante dos olhos do Rei Pelé, que aplaudiu de pé.
No primeiro gol, o domínio de bola fantástico. No segundo, o drible e o toque de gênio encobrindo o goleiro. Pinturas do ‘gordo', que mostra ainda muita alegria em jogar futebol, apesar da fama, apesar da grana. Um fenômeno de superação, sem dúvidas.