Antes de prosseguir, faço um corte.
Há exatamente três anos, nas "eleições" para o Conselho, pedi desculpas publicamente ao ex-presidente Marcelo Guimarães. Admiti que extrapolei da seara política para a crítica pessoal. Em seguida, no espaço ultra-democrático do site ecbahia (09.01.2006), narrei o episódio e reiterei as desculpas, estendendo-as aos familiares e amigos do ex-presidente, que também se sentiram ofendidos com as palavras.
Em momento algum, mesmo nas mais agressivas críticas, falei mal de qualquer parente do citado ex-presidente. No dia 13 de julho de 2005, inclusive, há um agradecimento público, sem ironia, à D. Alda por ter convencido o filho a deixar a presidência do clube.
E as críticas foram ultra-contundentes, porque movidas pela raiva: o ex-presidente tinha todas as condições para tirar o Bahia da crise, mas preferiu fazer um pacto de morte com o já afamado grande coveiro do Esporte Clube Bahia, Paulo Virgílio Maracajá Pereira. O resultado é o desastre que não vale a pena nem ser recapitulado.
Ao desculpar-me publicamente não houve sequer a intenção de escapar do processo que o ex-presidente move contra mim, na Justiça Criminal, por suposta "calúnia e difamação".
E se faço toda essa digressão, antes de voltar à análise dos últimos acontecimentos no Fazendão, é para dizer que não estou pleiteando uma vaga de conselheiro. Acredito, sinceramente, que já contribuí muito mais na oposição. Sem essa, às vezes tão incompreendida, "oposição" - que não é um grupo de pessoas, mas todos aqueles que não concordam com um Bahia raquítico e perdedor - nenhuma destas novidades estaria acontecendo.
Além do mais, sem nenhuma demagogia, não sou eu quem precisa entrar no Bahia, porque ele já está em mim, no sangue que corre em minhas veias, nos meus sonhos.
Quem precisa entrar no Bahia é a torcida do Bahia: é Irmão, o vendedor de sorvete; é o cientista Elsimar Coutinho; é Josué Tricolor, o garçom do Po-Só, em Morro do Chapéu; é Caetano Veloso e Gilberto Gil, que partiram pro exílio, nos anos negros da Ditadura Militar, cantando o Hino do Bahia para uma multidão em delírio no Teatro Castro Alves. O Bahia precisa é contar com o talento de Marcelo Barreto, Nelson Barros Neto, Renato Pinheiro, Dr. Tolentino, Ênio Carvalho, Lucas Neves, Fernando Passos, Samuel Celestino, Sidônio Palmeira, Mário Kértesz, Marcos Viana, Ricardo Serrano, entre tantos outros.
Sem a incorporação dessa massa fantástica, ávida por contribuir, por cooperar, desde que haja uma real mudança, a crise do Bahia vai se arrastar. E nós vamos sofrer.
Escrevi tudo isso, afinal, para dizer que o atual presidente do Bahia quer ser o novo sem nada mudar. Não há o vento da transformação, mas um simples sopro da sujeira pra debaixo do tapete.
O discurso é de mudança, mas tudo está se mantendo como está. Entregou-se ao engenheiro Paulo Carneiro a responsabilidade sobre o futebol, mas o presidente não sabe ou não pode fazer a reengenharia do clube. A experiência do futebol ensina que se pode montar uma seleção e perder um título por causa de um gol mortal do imortal Piolho.
Apostei, entre os meus pares, que Marcelo Guimarães Filho não seria candidato. E perdi. Achei - e ainda acho - que é uma jogada kamikaze, ainda mais depois das primeiras atitudes. O projeto em curso no Fazendão parece não ter projeto algum. É um tiro, é uma aposta. É como um remédio do mercado popular: mistura muita superstição com uma dose cavalar de esperança. Se a poção não fizer nascer cabelo, pelo menos deixará a careca lustrosa.
O engenheiro Paulo Carneiro entende de futebol. E muito. O seu clube do coração tem uma história antes e depois dele. Mas, o futebol atende a senhores vários, inclusive ao capricho. Ele próprio já o sentiu de perto: montou um time pra chegar à Série A e ardeu no inferno do rebaixamento para a C.
Não se pode falar em mudança quando se mantém no Fazendão os piores exemplos de incompetência e mediocridade que já se produziu no futebol brasileiro. Gente que há dez anos só faz afundar o Bahia, que retira do clube os parcos reais que lhes falta para manter a folha de pagamento dos atletas, a alimentação, a manutenção dos campos de treinamento.
Gente que se serviu e serviu ao grande coveiro, que, em silêncio, espreita, esperando ainda arar a terra do seu eterno latifúndio.
Não é meia dúzia de gatos pingados da oposição no Conselho que vai sinalizar algum tipo de mudança. É preciso arrebentar toda a estrutura arcaica, antidemocrática, e obscura do Esporte Clube Bahia. O nosso Muro de Berlim precisa ir ao chão.
A mudança não é uma vontade, mas uma necessidade. Inadiável, porque a grande torcida do Bahia não almeja somente um time, mas um verdadeiro clube de futebol.
Sem isso, temo dizer que a nossa triste saga vai prosseguir, enquanto o grande coveiro, com a boca já ressequida e murcha, masca a palha do tempo, esperando que os caprichos do futebol façam a sua parte.
Verdade, poderão não fazer. E se fizerem?