Soube do acidente (Casagrande capotou seu carro em São Paulo em 22 de setembro de 2007, um sábado) apenas na manhã de domingo, quando a irmã dele me ligou, muito assustada, pedindo para que eu fosse ao Hospital Albert Einstein falar com os médicos e assumisse as medidas necessárias, dada a emergência da situação.
Decidi ajudar. Após encontrar o médico dele no hospital, agendamos uma reunião no andar da UTI para, no mesmo dia, falarmos com meus filhos. Discutimos algumas alternativas de ação, mas o mais importante é que nos comprometemos a ajudá-lo no que fosse necessário para alcançar êxito nessa nova oportunidade de tratamento. Todos nós estávamos muito abalados.
Eu e meu filho mais velho assumimos a responsabilidade pela internação do Walter. Os pais dele também estavam conosco. A Clínica Greenwood foi indicada por uma pessoa muito querida e que já passou por essa experiência na família dela. Encaramos o acidente como uma oportunidade.
Antes dele, era difícil para meus filhos e para mim vê-lo naquele estado, pois estávamos vendo-o morrer aos poucos. Mas a resistência dele a se tratar era mais forte do que nossa iniciativa de interferir na vida dele para ajudá-lo.
De lá para cá, só podíamos esperar que ele respondesse positivamente ao tratamento. Após o cuidado inicial - desintoxicar -, o mais difícil teve início: conscientizar o doente de que está doente. Agora o pior já passou, mas é um dia por vez.
Quero dizer aos familiares - e aos não-familiares, como eu - que tenham iniciativa. Ter coragem de internar um marido ou uma mulher (ou "ex"), filho, filha, irmão, irmã, etc. é muito difícil. Mas não é mais difícil do que vê-lo morrer aos poucos. O dependente tem auto-estima baixíssima e arrogância altíssima. Antes que o inevitável aconteça, colocando em risco a vida de outras pessoas, interfiram. Busquem ajuda. Internem. Façam tudo o que puderem para ajudar.
Essa doença não tem cura, só controle. Mas vale a pena ajudar. Os dependentes são pessoas inteligentes, competentes. A maioria tem emprego, é financeiramente independente, e a vida familiar parece comum como a de qualquer pessoa não dependente. Mas eles não se amam e não sabem se amar. Não tiveram carinho em alguma fase importante da vida e carregam dentro de si uma dor intensa.
Quem sabe eles poderão enxergar a ferida mortal que está dentro deles (as) e o veneno letal que estão fumando, cheirando, tomando ou injetando. O ex-usuário também é um dependente químico, mas controla a doença. Assim como quem pára de fumar por anos pode, de repente, voltar a fumar, isso é comum acontecer com qualquer pessoa que já usou drogas. Cada dia sem drogas é uma vitória.
Aos adictos e ex-usuários: só por hoje vivam bem cada segundo da sua vida. Aos familiares, desejo que consigam perdoar. Ajudem sem pensar no reconhecimento, pois o obrigado nem sempre vem para quem o merece verdadeiramente.
A todos os mencionados no depoimento do Walter (Casagrande agradeceu, na reportagem de ÉPOCA, a diversas pessoas pelo apoio ao tratamento), meus parabéns e obrigado por contribuírem para uma sociedade melhor. Aos parentes de dependentes, desejo muita luz, paz e coragem. Vocês são maravilhosos e podem falar aos outros sobre este assunto devastador.
Beijo no coração,
Monica"