Os desafios que se colocam no seio da aliança europeia no Mar do Norte para aproveitar o recurso eólico
Lucia Colaluce , Salvador |
18/10/2024 às 11:34
Tasso Paes Franco Filho, gerente de contas em Portugal da Sammy Free.
Foto: Divulgação
No dia 2 de outubro de 2024, o Primeiro Ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reafirmaram o seu compromisso com a energia eólica offshore como eixo fundamental para a transição energética na Europa após uma reunião que envolveu ambos os poderes. Com 13,9 GW de capacidade instalada e 77 GW em projetos em desenvolvimento no território britânico, a cooperação com a União Europeia surge como um passo decisivo para reforçar a segurança energética em ambas as regiões.
No entanto, Tasso Paes Franco Filho, Portugal Account Manager da Sammy Free, destaca à Energía Estratégica España que esta colaboração não está isenta de desafios técnicos e regulatórios que devem ser resolvidos para garantir o seu sucesso.
Um dos principais desafios mencionados por Paes Franco Filho é o alto custo financeiro envolvido na construção de interconectores elétricos subaquáticos entre o Reino Unido e a UE. “A construção e manutenção de interligações subaquáticas são extremamente caras”, salienta, sublinhando que tanto os governos como as empresas privadas terão de se comprometer com investimentos multimilionários.
Neste contexto, a utilização eficiente dos recursos, como a partilha da infraestrutura existente, torna-se essencial. “O compartilhamento de infraestrutura, como cabos submarinos e interconectores, reduz custos e permite uma integração mais eficiente da energia nas redes elétricas”, acrescenta Paes Franco Filho.
Além disso, as condições geográficas e climáticas das águas do Norte acrescentam uma camada de complexidade técnica a estes projectos. “A distância e as condições do Mar do Norte representam dificuldades na instalação de cabos submarinos”, comenta. Ventos fortes, ondas e profundidade variável do mar criam um ambiente difícil para a construção e manutenção das interligações, o que pode atrasar a sua implementação.
Outro grande obstáculo advém das diferenças regulamentares entre a União Europeia e o Reino Unido, exacerbadas pelo Brexit. “Os padrões e regulamentos energéticos entre a UE e o Reino Unido podem não estar totalmente alinhados”, explica o executivo. Estas divergências podem complicar tanto a coordenação como o financiamento conjunto de projectos, o que destaca a necessidade de estabelecer um quadro regulamentar que facilite a colaboração entre ambas as partes.
Por fim, Paes Franco Filho destaca que a integração das redes elétricas de ambos os lados será crucial para garantir o sucesso da cooperação energética. Ou seja, “garantir que as redes elétricas de ambos os lados sejam compatíveis e capazes de lidar com a troca de grandes quantidades de energia” é um dos desafios técnicos mais significativos, segundo Paes Franco Filho. Se não for alcançada uma integração adequada, os benefícios desta cooperação poderão ser severamente limitados.
Apesar destes desafios, a colaboração energética nesta área promete benefícios significativos para ambas as partes, não só em termos de eficiência, mas também de segurança energética. “Fortalece a segurança energética da região, ao diversificar as fontes de energia e melhorar a resiliência às flutuações do mercado energético”, explica o executivo.
A cooperação no Mar do Norte também oferece oportunidades de inovação tecnológica. “A cooperação facilita o desenvolvimento de tecnologias avançadas e a otimização dos parques eólicos offshore, aumentando a sua capacidade e eficiência”, destaca. Isto é especialmente relevante num momento em que o Reino Unido e a UE se comprometeram a alcançar metas climáticas ambiciosas. “Contribui de forma mais eficaz para os objetivos climáticos da UE e do Reino Unido, ao acelerar a instalação de novas infraestruturas renováveis”, conclui.
Este compromisso com a energia eólica offshore faz parte de uma estratégia mais ampla para fortalecer a segurança energética e acelerar a transição para energias limpas.
O Reino Unido, com a sua Estratégia de Segurança Energética, já estabeleceu a meta de atingir 50 GW de capacidade até 2030, dos quais 5 GW provirão de tecnologias flutuantes avançadas. Esta expansão promete criar milhares de empregos e atrair investimento privado de até 100 mil milhões de libras, estabelecendo o Reino Unido como líder global em energia eólica offshore.
Por fim, Paes Franco Filho reflete sobre o impacto que uma reintegração do Reino Unido teria em fóruns como a Cooperação Energética do Mar do Norte, da qual ficou parcialmente isolado após o Brexit. “Se o Reino Unido voltasse a ser membro de pleno direito em fóruns de cooperação como a Cooperação Energética do Mar do Norte, isso teria uma série de impactos positivos”, comenta.
Esta reintegração facilitaria a coordenação e o financiamento de projetos conjuntos, bem como melhoraria a colaboração entre a UE e o Reino Unido em projetos energéticos importantes. Num contexto de elevada volatilidade nos preços da energia, esta colaboração torna-se ainda mais crucial para garantir um abastecimento estável e sustentável para o futuro da Europa.