Economia

OPINIÃO DO LEITOR: A SEFAZ E O SINDICATO ALMOCREVE, POR ANTONIO VIEIRA

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| 14/10/2009 às 15:12

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Depois de meses sem escrever para este site volto a me apoiar em Machado de Assis, minha eterna muleta intelectual, para me comunicar com vocês. Quem leu "Memórias Póstumas..." vai se lembrar e quem não leu vai ter vontade de ler, conhecendo o capítulo "O Almocreve".

A história, resumida, é a seguinte: o personagem vinha montado em um jumento que empacou; fustigado, o animal pulou, jogando-o fora da sela. O problema é que o pé esquerdo do homem ficou preso no estribo. Quando o jumento já ia disparar, um almocreve, que ali estava, correu e lhe pegou na rédea. Dominado o bicho, o protagonista se desvencilhou do estribo e se pôs de pé, aliviado. Escapara de ter ferimentos graves ou quem sabe até morrer.

Enquanto o almocreve, zeloso, cuidava de consertar os arreios, o cavaleiro resolveu dar-lhe três moedas de ouro das cinco que trazia consigo; cogitou, em seguida, se tal gratificação não seria exagerada. Talvez bastassem duas moedas, ou melhor, uma já seria suficiente para deixar o pobre contente. Mais alguns segundos e resolveu dar-lhe apenas um cruzado de prata. Nada de ouro.

Feito isso, montou no animal e seguiu viagem, incerto do efeito da gorjeta. Distante alguns metros, olhou para trás e viu o almocreve muito contente, a sorrir e fazer-lhe grandes cortesias. Será que lhe pagara demais? Meteu os dedos no bolso do colete, sentiu algumas moedas de cobre e pensou: eram os vinténs que eu deveria ter dado ao miserável.

Infelizmente, coisa parecida acaba de acontecer na outrora respeitada Secretaria Estadual da Fazenda. Na mesma oportunidade em que passou com seu trenzinho da alegria por cima da Constituição Federal, o secretário daquela pasta teria prometido (e isso está registrado em inúmeros boletins oficiais ainda hoje disponíveis na internet) que o limite remuneratório dos servidores estaduais seria reajustado a partir de março de 2009.

Tal como o personagem de Machado, olhou pra trás e viu os agentes tributários de nível médio, representados por seu sindicato, em tantos salamaleques, mesuras e rapapés, que certamente pensou: março? Não, maio está bom demais! Olhou de novo e, vendo os agentes mais uma vez curvados e sorridentes, não pode evitar o pensamento: para eles julho já é mais do que merecem. Por fim, propôs que o reajuste vigorasse em agosto, mas até hoje nem isso se concretizou.

Ora, quem conta com um sindicato que disputa pequenos cargos e se orgulha de ser mais governista que o próprio governo, ao qual chama de "redentor", tem na verdade um inimigo de alta periculosidade. Enganam-se assim, gravemente, os que pensam que a subserviência da entidade dos agentes é apenas improdutiva.

Ela é danosa e está corroendo as estruturas da máquina arrecadadora. Hoje, para o bem da sociedade baiana, a parte da Sefaz que não apodreceu (representada pelos Auditores Fiscais que não se vincularam a essa desastrosa administração nem ao sindicalismo almocreve - precisa continuar lutando, por mais que isso lhe custe, para manter vivo um órgão sem o qual nenhum governo conseguirá promover, no futuro, o desenvolvimento de que a Bahia precisa. Trata-se de uma missão difícil, mas honrosa. (Antonio Vieira, economista)