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Na cooperativa do Carioca, a Coopercaps, antes da crise mundial um
cooperado chegava a tirar, por mês, mil reais. No auge da crise, entre
novembro e fevereiro, o ganho caiu 80%.
"Com duzentos reais, fica difícil sobreviver, principalmente a gente
que mora de aluguel", reclama Carioca, que presenciou uma debandada de
cooperados nos últimos meses. "Éramos 120 cooperados, fazíamos três
turnos para separar e prensar o material; chegamos a contar apenas 40
associados em janeiro", revela ele, pondo a culpa na crise, sim, mas
também nos atravessadores. "Muitos aproveitam a crise para explorar
ainda mais a gente".
Eva, da Cantareira Viva, diz que sua cooperativa não sentiu tanto a
crise. "Já vivemos em dificuldades há dez anos, desde que fundamos a
cooperativa", observa. Segundo ela, além de problemas logísticos, pois
não tem espaço adequado para guardar o material coletado, a
cooperativa enfrenta desinteresse dos associados. "Éramos 23 no
início, muitos não entenderam o espírito do negócio cooperativo, e
hoje somos só cinco cooperados atuantes", diz Eva.
A aproximação com a Ocesp é um fato alentador para a secretária da
Cantareira Viva. "Há alguns anos, por não entendermos direito as
obrigações legais da cooperativa, o governo praticamente nos expulsou
de um espaço razoável, recolhendo a nossa prensa e acabando com o
nosso projeto inicial", conta ela. Agora, com a documentação da
cooperativa em dia, Eva acredita a Ocesp possa abrir caminhos, tanto
em termos de orientação como no relacionamento com os poderes
públicos.
Apesar das dificuldades, a Cantareira continua viva e atuante. Aliás,
até substitui o governo em algumas ações, como é o caso da educação
ambiental. "Colhemos uma tonelada de material por dia em mais de mil
casas; em todas elas ensinamos os moradores a separar o lixo e também
damos aulas sobre proteção ambiental para as crianças da comunidade",
ressalta Eva, seguindo o seu sonho: "um dia, ainda vou ver toda a
minha comunidade atuar de forma cooperativa".