Economia

COOPERATIVA PINDORAMA COMEMORA 53 ANOS COMO EXEMPLO PARA NORDESTE

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| 16/02/2009 às 11:03
Klécio dos Santos apresenta números da Pindorama
Foto: Foto: Divulgação
Em 2009, a Cooperativa Pindorama, que fica entre as cidades de Penedo e Coruripe, comemora 53 anos de existência. Com 1.160 cooperados, a empresa faturou R$ 86 milhões no ano passado.
 
"É a maior reforma agrária do Nordeste, e talvez do país, consolidada", resumiu o presidente do grupo, Klécio dos Santos. Para saber mais desta experiência, que reúne usina, fabricação de sucos e derivados de coco, confira a entrevista com Klécio dos Santos concedida à Agência Alagoas.

Como o senhor definiria
a Cooperativa Pindorama?


Eu acho que existem várias definições para ela: a cooperativa enquanto um projeto; a cooperativa quanto a sua participação efetiva no município e a cooperativa quanto a sua contribuição dentro do estado de Alagoas e, por que não dizer, no Brasil. É a maior reforma agrária do Nordeste e talvez do país, consolidada. É um projeto com 54 anos de existência. Conseguiu superar todas as dificuldades e as turbulências inerentes ao mercado. O grande desafio nosso é exatamente pensar a Pindorama para mais 50 anos.

O faturamento da Pindorama em 2001 foi de R$ 32 milhões. No ano passado, a empresa ficou na marca dos R$ 86 milhões. Em sete anos, houve quase uma triplicação no rendimento. Como foi possível chegar a esse número?

Temos um planejamento estratégico que é acompanhado mensalmente. Nada ocorre por acaso. Nós sabemos onde queremos chegar, e esses números estão exatamente dentro daquilo que almejamos e enxergamos há um tempo. Nós aumentamos a produção, crescemos em área e também em produtividade. Nós verticalizamos: numa mesma área e produzimos 20% a 40% a mais.

Qual a explicação para essa verticalização?

Conseguimos com novas tecnologias, com adubação mais correta, com controle de pragas, com assistência técnica mais eficiente. É um processo contínuo. Nós temos algumas consultorias, parcerias com o Sebrae, com a Fundação Dom Cabral, que é conhecida internacionalmente no segmento da gestão empresarial; nos valemos dessas ferramentas.

No início da Pindorama, há 54 anos, viviam na região 150 pessoas. Hoje, a população é de 30 mil habitantes. Como foi alcançada a sustentabilidade dessa "cidade"?

São 30 mil hectares que comportam uma comunidade de 30 mil pessoas. É um homem por hectare. É a maior densidade demográfica rural do Brasil, onde você tem um homem vivendo com dignidade. Não se vê ninguém pedindo esmola, um menino de rua. Há distribuição de renda. Nós somos a única usina do mundo que pertence a 1.100 usineiros.

Quando foi criada essa usina?

Nós começamos com frutas, e ainda temos. O processo industrial foi iniciado na década de 60. Na década de 80 foi a nossa primeira moagem, produzindo 80 mil litros de álcool por dia. Hoje, nós produzimos 350 mil litros/dia e mais 6 mil sacas de açúcar. Foi um avanço significativo.

A Pindorama conta hoje com 1.160 cooperados. Como é feita a comunicação com todos eles? Qual é a chave da integração?

Esse é o grande desafio. É o eterno desafio: manter essa comunidade em equilíbrio, em harmonia. Para isso, o papel da liderança é fundamental. É preciso que a cada dia, nós estejamos abertos, voltados para o coletivo.

Existem ainda os trabalhos que potencializam a figura do cooperado. Há espaço para o artesanato, a piscicultura, o corte e costura. Qual é a razão dessa multiplicidade?

Tudo acontece lá dentro. É uma comunidade que busca uma autossustentação de fato. Parte do que se produz fica entre eles e outra parte é comercializada. Mas alguns negócios são feitos unicamente para os cooperados, como a tilápia, que é um trabalho artesanal, mas que alimenta a todos. Temos o projeto de costura, da horta, do vinagre, do doce. A cooperativa ainda facilita essas ações, com a compra de matéria-prima a um preço mais baixo. Todos ganham.

Hoje o mundo atravessa um momento de crise financeira. Como vocês irão enfrentá-la?

Nós entendemos que é em função da crise que nós nos preparamos e nos fortalecemos mais para enfrentar novas crises lá na frente. Não podemos ficar cabisbaixos; temos que ter a nossa capacidade de empreender, de raciocinar, de bom senso, muito mais aguçada, para poder enxergar algum desperdício, as falhas. Se enxergarmos a crise dessa forma só temos a ganhar com ela. Temos que ter o senso de oportunidade. Eu não me assusto com crise. É inevitável e temos que estar preparados.

Vocês produzem suco, derivados de coco, açúcar, álcool. Qual é o segredo para conciliar toda essa variedade?

Um ajuda o outro. Nós temos 30 mil hectares e entendemos que só a cana-de-açúcar não é interessante, porque gera ociosidade na família. Temos sempre procurado manter as outras atividades vivas e até crescendo também, como é o caso das frutas; do leite, segmento que teve uma atenção maior este ano. Leite é todo dia, conseguimos gerar uma renda todos os dias.

Quais as novidades para este ano?

Vamos lançar quatro produtos novos: a barra de cereais; a farinha da casca do maracujá, que combate as altas taxas de glicose; as geleias de abacaxi e maracujá e a granola. Queremos focar também numa linha mais saudável, que consideramos promissora.

Como o senhor avalia o trabalho do governo do Estado? Existe parceria com a Pindorama?

Nós acreditamos muito nesse governo. Teotonio Vilela, no início do governo, tomou medidas necessárias no sentido de organizar o Estado, e algumas pessoas não perceberam isso. Mas essa fase já foi superada. Nós vemos agora que Alagoas está no rumo certo, sendo tratado com seriedade. Eu digo isso enquanto Klécio, não como presidente da Pindorama. A parceria do governo com a Pindorama já existe e eu espero que seja ainda maior. Nós conversamos diretamente com os secretários, que estão muito alinhados com a nossa proposta.

Na cooperativa, vocês têm uma área destinada à preservação ambiental. Quando surgiu essa preocupação?

A cooperativa está cravada numa área de 30 mil hectares e já modificamos muito o espaço ao longo desses 50 anos. Nós todos temos um débito com o meio ambiente. Há dois anos fomos buscar uma parceria com o Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA). Hoje,, nós temos um plano de ações nesse sentido: reflorestamento, recuperação da mata ciliar, educação nas aldeias - queremos preparar os jovens para cuidar das nascentes. Trabalhamos também para dar o melhor destino ao lixo produzido.

Para o senhor, qual é o maior patrimônio da Pindorama?

É a reforma agrária, a inclusão social. Quando Bertholet (René Bertholet) criou a cooperativa, as pessoas que receberam os lotes tinham, necessariamente, que não ter terra e casa própria. Eram os excluídos do campo, que estavam sendo explorados pelos coronéis, pelos latifúndios. Bertholet teve essa sensibilidade e fez esse trabalho acontecer, de forma planejada. Em 1984, todos esses 30 mil hectares estavam já ocupados. No início eram 150 pessoas e, hoje, são 30 mil habitantes; enquanto que a história do Brasil é marcada pelo êxodo rural. Bertholet pensou nas pessoas antes de pensar nele. Deixou esse recado; mais do que isso, essa responsabilidade, que nós temos que manter e até ampliar.