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O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, negou hoje veementemente que a empresa esteja com problemas de caixa e acusou de irresponsável quem afirmar o contrário. Em entrevista coletiva à imprensa, após participar de evento promovido pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) em São Paulo, ele disse que o empréstimo tomado pela Petrobras junto à Caixa Econômica Federal - e denunciado pelo senador Tasso Jereissatti (PSDB) em plenário - foi trivial, normal e corriqueiro.
"Eu queria chamar a atenção para a irresponsabilidade de tentar caracterizar como excepcional uma operação que é absolutamente trivial, que foi anunciada quando divulgamos nosso resultado em 11 de novembro, e que é uma operação que não tem relevância. Não há porque esconder ou criar situação excepcional em cima desse fato. Se fosse verdade (que a Petrobras está com dificuldade de caixa), aí sim é que não se deveria fazer este escândalo. Se estivéssemos em situação dramática, nós quebraríamos e a irresponsabilidade seria ainda maior", afirmou em tom exaltado.
"É preciso em primeiro lugar perceber que qualquer empresa, e particularmente uma empresa do tamanho da Petrobras, funciona com fluxo de caixa que vem das suas atividades operacionais e com os fluxos que ela obtém de atividades de empréstimos", disse, lembrando que a companhia combina a geração própria com empréstimos para cobrir as suas despesas operacionais, as amortizações das dívidas passadas, pagamento de dividendos e investimentos novos.
A diferença para com outras empresas, destacou Gabrielli, é que a Petrobras, no que se referia a acesso ao mercado bancário, precisava atender a um limite de crédito (de R$ 8 bilhões) junto aos bancos nacionais, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "A Petrobras estava dentro dos limites de empréstimos impostos ao setor público como um todo. Portanto, ela fazia estas operações no mercado internacional cotidianamente, trivialmente, normalmente, rotineiramente", frisou Gabrielli.
Ele destacou que a grande mudança que ocorreu é que diante da crise que atinge as fontes tradicionais de recursos da Petrobras, o CMN, em decisão "absolutamente correta, considerando a solidez do sistema financeiro brasileiro e a capacidade que o País tem de responder otimamente a esse cenário", alterou o acesso da companhia, permitindo que ela tomasse crédito no mercado bancário brasileiro sem limites.
Além disso, Gabrielli lembrou que no mês de outubro houve ocorrências de alguns "fenômenos" de ordem financeira que exigiram o empréstimo. Um destes fatores foi o de que a companhia teve que pagar royalties de petróleo referentes aos três meses anteriores, quando o barril ainda estava cotado a US$ 150. Além disso, o volume de óleo importado ainda estava em estoque - não havia tido seu contrato pago neste valor - e teve o acréscimo da valorização do dólar sobre o real. Outro ponto citado por Gabrielli foi a valorização dos ativos da companhia no mercado internacional que, apesar de não gerarem caixa, exigem um pagamento de tributos sobre o valor adicionado.
"É uma irresponsabilidade tentar fazer deste fenômeno um fenômeno gigantesco. Porque é um fenômeno normal de uma operação para empresa do tamanho da Petrobras. Para mim esta questão se reflete apenas em campanha de caráter absolutamente político e irresponsável que tenta distorcer um fenômeno regular e normal de operação financeira", disse, frisando que "se tiver necessidade nós voltaremos ao mercado".
FornecedoresEle ainda criticou as denúncias de que a Petrobras teria atrasado o pagamento de fornecedores. "Eu quero negar veementemente as insinuações de que estamos em crise financeira. O que é importante ficar muito claro é que a Petrobras não está em crise de caixa. É absolutamente mentirosa denúncia de que estamos atrasando pagamento de fornecedores. Alguns senadores disseram até que a Petrobras estava atrasando o pagamento de fornecedores de cana. A Petrobras nem sequer compra cana", comentou.
Ele também descartou qualquer ligação entre a necessidade de ajuste de cronograma de investimentos da empresa à sua condição atual de caixa. "Há um ajuste necessário diante da crise financeira mundial. Não tem nenhuma ligação entre uma coisa e outra (o empréstimo da Caixa e a revisão do plano de investimentos)", disse.