Economia

POR QUE PRATICAMENTE INEXISTEM MULHERES ELETRICISTAS NO BRASIL?

Vide
| 03/11/2008 às 10:59
  Por que praticamente inexistem mulheres eletricistas? Quando começou a tentar responder a esta pergunta, a consultora de RH para a Inclusão Social da CPFL Energia (SP), Deise Fernandes, que é deficiente visual, não demorou a encontrar algumas respostas. "Os equipamentos são pesados até para os homens.

  Uma escada de fibra de vidro ou alumínio, que poderia substituir a de madeira, é três vezes mais cara e não é fácil convencer o diretor de uma empresa a investir tanto para termos mulheres eletricistas", aponta.

  Ela também encontrou outras lacunas em infra-estrutura, como a ausência de banheiros femininos, e o preconceito por parte de muitos homens eletricistas. "Este é só um exemplo da grande distância que há entre a realidade e o que entendemos como ideal, que é quando todas as pessoas poderão concorrer igualmente às vagas de trabalho oferecidas em nosso país", destacou a consultora durante a IV Conferência Internacional de Excelência em Gestão (CIEG), realizada em Salvador nos dias 30 e 31 de outubro.


  DESEMPREGO

  Segundo Denise, para alguns grupos, os obstáculos para conseguir um emprego, tais como o preconceito e os métodos atuais de seleção, são determinantes das altas taxas de desemprego do Brasil.  "Maiores de 45 anos; desempregados há mais de dois anos; negros; ex-presidiários; homossexuais; portadores de deficiências e mulheres formam o conjunto de pessoas com maiores dificuldades de empregar-se, de acordo com o Instituto Ethos", aponta Deise. Na contramão dessa realidade, ela defende a contratação dessa mão-de-obra e a valorização da diversidade. E disse isso aos mais de 300 gestores reunidos no Hotel Pestana na CIEG. 


Ela mesma é um exemplo positivo de inclusão. Além de ser consultora da CPFL, Denise é professora universitária (concluiu mais de 10 especializações), "bem-casada, mãe de três filhos maravilhosos e muito feliz", diz. Embora tenha ficado completamente cega aos 15 anos de idade, Deise não deixou de lutar pelo que sempre acreditou: "a diversidade é o melhor caminho para a prosperidade. A humanidade, assim como as organizações, só evoluirá se a diversidade for valorizada".


 Segundo a consultora, o objetivo de sua participação na CIEG foi estimular os participantes a levar este ideal para suas empresas e até para suas casas. "As pessoas precisam se livrar da influência das piadas depreciativas que fazem parte da cultura do nosso país e do preconceito invisível que impera dentro e fora das relações trabalhistas. Só assim as vantagens da complementaridade nas decisões organizacionais poderão ser sentidas", aponta. E completa: "Devemos acolher, respeitar e valorizar a diferença entre as pessoas".


   METAS

  Na CPFL Energia, antiga estatal privatizada em 1997 que reúne sete distribuidoras, 20 geradoras e uma comercializadora de energia elétrica, Deise atua no sentido de colaborar com o alcance de algumas metas. Segundo ela, até 2009, 20% dos colaboradores da empresa deverão ser negros, 25% serão mulheres e 5% pessoas com deficiências.
 
  "Também fazemos questão de ter outros excluídos, como pessoas obesas e de outros estados, em nossa equipe. Muitos deles têm talento e capacidade, mas em muitas empresas não têm oportunidade de mostrar isso. Nós queremos dar essa oportunidade. Estamos quase cumprindo as metas", afirma a consultora da CPFL.  Esse empenho foi responsável pela conquista do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ 2008) por parte da empresa. "Mais importante do que o prêmio, porém, é fazer com que as pessoas compreendam que os seres vivos são irmãos e que na nossa casa, o planeta Terra, há lugar para todos, inclusive para os diferentes", conclui a consultora.


  A CIEG foi realizada pela Associação Baiana para Gestão Competitiva (ABGC), Gerdau, Suzano Papel e Celulose, com o apoio da Petrobras (ABAST/RLAM). O evento reuniu gestores, gerentes, técnicos envolvidos na gestão de organizações públicas e privadas, consultores, acadêmicos, educadores, estudantes e profissionais interessados em compartilhar experiências de práticas de gestão bem sucedidas. Seu objetivo foi promover discussões e trazer ao conhecimento da comunidade empresarial e acadêmica soluções inovadoras ainda pouco divulgadas no país.