Nordeste da Bahia aposta no caju para crescer e se desenvolver. Conta agora com um produto nativo da região e que até então era desperdiçado ou vendido a atravessadores: o caju. Foram inauguradas, no último dia 14, em Cícero Dantas, Banzaê e Olindina, três minifábricas de beneficiamento da castanha do fruto, com capacidade para a produção diária de três toneladas do alimento, muito usado na produção de doces, tortas e outros pratos.
Na oportunidade, ações de incentivo à cajucultura foram anunciadas pelo governador Jaques Wagner. Dentre elas, a ampliação do serviço de assistência técnica, a distribuição, ainda este ano, de 100 mil mudas do cajueiro-anão - espécie com alto nível de produtividade -, e a articulação para a comercialização da produção.
O comerciante José Valter dos Santos, 55 anos, há 22 proprietário de um mercado em Cícero Dantas, vê na cajucultura uma possibilidade de crescimento para toda a região. "O caju daqui era jogado fora e agora vai ser aproveitado. Até a castanha, que era vendida para longe, vai ser beneficiada aqui e o dinheiro gasto no comércio local", comemorou.
Segundo o presidente da Cooperativa da Agricultura Familiar no Nordeste da Bahia (Cooperacaju), José Roberto de Souza, as unidades vão beneficiar os 366 sócios da entidade, distribuídos por 21 municípios da região. "Cada um deles obtém atualmente uma renda anual de aproximadamente R$ 3 mil. Com as fábricas, esperamos que este valor suba para até R$ 5 mil por ano", contabilizou.
Além do aumento da renda para os agricultores familiares, cada fábrica está empregando trinta funcionários. São pessoas simples como Maria de Lourdes Ferreira de Matos, 49 anos, mãe de dois filhos, que até então trabalhava nos serviços domésticos. "Meu marido é diarista, às vezes não tem trabalho. Na roça, a gente tirava uns dois sacos de feijão, outro de milho. Mas não tínhamos renda certa. Agora tenho o meu salário, que uso nas despesas de casa e outras necessidades".
Parceria
O Projeto de Revitalização da Cajucultura está sendo desenvolvido nos estados da Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte pela Fundação Banco do Brasil em conjunto com o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a organização Unitrabalho. O objetivo é recuperar e implantar minifábricas de castanha de caju, além de montar módulos agroindustriais para seleção, classificação e exportação da amêndoa.
O assessor pleno da Diretoria de Trabalho e Renda da Fundação Banco do Brasil, Amarílio Carvalho, disse que a entidade atua nas áreas de cadeias produtivas acompanhando todo o processo, desde o campo até o produto final. Segundo ele, as regiões foram escolhidas em função do baixo Índice de Desenvolvimento Humano. "Trabalhamos dentro da filosofia do desenvolvimento sustentável regional, por isso não trazemos projetos de fora para serem desenvolvidos, mas discutimos na sociedade o que aqui se pode fazer respeitando a cultura local", informou.
A produção baiana de caju gira em torno de 20 mil toneladas anuais, sendo que 90% está concentrada na região nordeste do estado. O quilo in natura da castanha é vendido por R$0,80 a R$1,00 mas, processado pela fábrica, esse retorno aumenta. A iniciativa faz parte do programa Sertão Produtivo, da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia (Seagri). Suas ações de incentivo à fruticultura têm por meta o benefício de 15 mil famílias.