Durante toda a semana, a beneficiária do Bolsa Família Maria das Graças Paixão percorre as ruas de Lauro de Freitas, na Bahia, à procura de materiais recicláveis. A comunidade já a reconhece e deixa os produtos separados para a conterrânea.
Maria das Graças trabalha na Cooperativa de Agentes Ecológicos de Lauro de Freitas (CAEC) com mais 16 beneficiários do programa de transferência de renda do Brasil, o Bolsa Família.
Antes de entrar para a cooperativa, dona Maria perambulava pela cidade em busca de serviços domésticos e não tinha a garantia de um trabalho fixo. Agora, comemora o fato de participar - desde fevereiro de 2006 - de um projeto que promove inclusão social, geração de trabalho e renda e a conscientização da necessidade da preservação ambiental.
CATABAHIA
A CAEC faz parte do Projeto Rede CataBahia e é gerenciada e assessora pelo Centro de Estudos Socioambientais PANGEA, uma Organização da Sociedade Civil para o Interesse Público (OSCIP). A Prefeitura de Lauro de Freitas é parceira no projeto e cede o galpão para a reciclagem dos materiais. Já o patrocínio das atividades é realizado pela Petrobras.
A mobilização para a criação das cooperativas de reciclagem da Bahia - Projeto Rede CataBahia - partiu da iniciativa dos membros do Movimento Nacional de Catadores. Em Lauro de Freitas, a PANGEA promoveu o curso de capacitação aos catadores do Lixão da cidade, no segundo semestre de 2006. Em fevereiro de 2007, o projeto foi finalmente implantado.
Dona Maria e seus 36 colegas participantes da CAEC - que tem conselhos administrativo, fiscal e ético, além de estatuto e regimento interno - entendem a importância do respeito e da união entre eles. A maioria dos participantes do projeto trabalhava em lixões da cidade e não tinha noção da disciplina e da sistematização de uma atividade em grupo.
"A auto-estima dessas pessoas melhorou muito após entrarem na CAEC. Elas viviam à margem da sociedade e hoje percebem que desempenham uma importante função social", esclarece Adriana Neves Mesquita, gerente local da Cooperativa.
Papelão, plástico, vidro, ferro e alumínio são alguns dos materiais coletados por Maria das Graças. Os mais encontrados são o papelão e a garrafa de plástico. Os produtos são vendidos por quilo e custam cerca de 20 centavos. Com o dinheiro recebido mensalmente, a ex-diarista sustenta a casa e os dois filhos.
Já o benefício concedido pelo Governo Federal é utilizado para pagar o transporte e os materiais escolares dos filhos. Maria das Graças se orgulha do seu serviço e afirma que hoje as pessoas reconhecem a grande necessidade da função dela. "Eu me sinto feliz porque percebo que sou reconhecida pelo meu trabalho de agente ecológica. E também consigo entrar em locais que antes não era aceita".