Uma comida de ótima qualidade e com fartura para os seus clientes
Tenho por hábido quando estou passeando pelo centro histórico de uma cidade eu mesmo pesquisar o restaurante que desejo saborear alguma comida. Lisboa, por posto, tem um centro antigo dos mais admiráveis que conheço não só por sua amplitude entre a Baixa Pombalina e o Bairro Alto, mas, também, porque tem um aglomerado de casarões, praças e ruas concêntricas o que permite que façamos os passeios a pé.
Foi aassim que depois de paletar pelas ruas dos Sapateiros, Garret, Prata e outras deparei-me em Restauradores com o restaurante Sebastião, no modelo clássico pró-moderno. Já gostei, de cara, pelo nome.
Não saberia dizer se o dono do restaurante ou a empresa colocou esse nome inspirado no rei Dom Sebastião, o "Desejado", monarca jovem que embarcou numa canoa furada ao querer conquistar o Norte da África no século XVI e foi derrotado e morto pelos mouros na Batalhão de Alcácer Quinir, em 4 de agosto de 1578, numa das maiores tragédias da história de Portugal, sendo ele e seu exército degolados.
Daí que gerou uma crença ou lenda difundida por um sapateiro de que o rei estaria vivo e iria algum dia voltar a Portugal, sendo, assim, o "Adormecido", e já no século XIX essa lenda também se espalhou pelo Brasil com o que se chama "Sebastianismo", uma luta entre mouros e lusitanos, a cavalos, o que ainda existe até os dias atuais no Nordeste brasileiro e em Goiás, em festas folclóricas.
Sebastião, portanto, é um nome emblemático em Portugal e no Brasil também apelidado pelo diminutivo "Tião". E há um outro, o santo, que é natural da França e é o padroeiro do Rio de Janeiro, no sincretismo carioca o orixá, Oxóssi, (na Bahia, Oxóssi é São Jorge) e foi um soldado romano quando decidiu morar na Itália. E sendo cristão acabou sendo sacrificado e morto a flechadas.
Em Salvador, pouca gente sabe, a Basílica do Mosteiro de São Bento é dedicada a São Sebastião e chama-se Basília de São Sebastião.
Veja, portanto, como esse nome tem uma força espiritual e folclória muito grande e então decidimos, yo e a madame Bião de Jesus, experimentarmos a comidinha do Sebastião da Restauradores.
Fomos atendidos por um garçom brasileiro chamado João, muito atencioso, que nos serviu um vinho Maria Joaquina jovem tinto alentejano de sabor frutado e que acolhemos com croquetes de vitela.
Pela entrada senti que a comida do Sebastão era fabulosa e João, ademais, ofereceu-nos o couvert da casa um mix de pães com azeitonas negras e molhos de manjerição, tomate e atum, todos saborosos.
Fiquei na dúvida em qual dos bacalhaus experimentaria, se o Braz, o Gomes de Sá e/ou o assado e João, com sua experiência no Sebastião disse-me que o assado do Sebastião é glamuroso servido com camas de batatas e vegetais picados, em telha aquecida. E yo que adoro sugestões de quem conhece embarquei nessa canoa e dei-se muito bem.
O bacalhau assado do Sebastião é de tirar o chapéu e só não tirei o meu boné porque já estavam sem ele na cabeça. A madame Bião solicitou uma perna de pato acompanhada de risoto de cogumelos e aspargos. Segundo a dignissima senhora, o pato estava macio, novo, delicioso.
A comida do Sebastião além de preciosa, elegante no empratamento e deliciosa, é farta. Deixamos o Sebastião e saimos a andar pelo centro antigo de Lisboa até horas a tardar tal o apetite que tivemos.
O Sebastião tem uma decoração clássica, lustres modernas, poltronas nas laterais, cadeiras confortáveis e um serviço de primeira qualidade. Se espera pouco e os garços, todos jovens, são atenciosos e rápidos. Ao piscar de olhos eis que João estava a reabastecer as taças do tinto Maria Joaquina.
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Restaurante Sebastião
Praça dos Restuaradores, 80
Lisboa, Portugal
Croquetes de vitela 6 euros
Couver 4,5 euros
Bacalhau assado 22 euros
Perna de pato confitado 22 euros
Maria Joaquina 20 euros
Classificação 4 DONS