Um restaurante popular que serve mocotó de primeira qualidade com a marca de Tereza
Uma comida para os bravos. O mocotó de Tereza é servido chova ou faça sol no seu restaurante situado em Monte Gordo há 25 anos. Uma tradição nesse distrito de Camaçari que, em tempos idos era habitado somente por pescadores que vivam da pesca no mar aberto do Atlântico e nas barrancas do Rio Jacuipe.
Só que o tempo avançou, o povoado cresceu, se transformou num dos distritos de Camaçari e hoje tem comércio próprio, ruas asfaltadas e toda ambientação da vida contemporânea. A violência também chegou por lá no corredor das drogas que vai de Portão a Praia do Forte.
Nem por isso, Tereza pensa em se mudar de Monte Gordo ou alterar sua rotina na venda do mocotó acordando todos os dias antes do sol raiar, aí por volta das 3h30min, pois, seus clientes começam a povoar sua tenda a partir das 6 da manhã.
- Eu costumo dizer que passei 8 anos casada com meu marido e tenho duas décadas e meia vendendo mocotó, então sou casada com o mocotó" faz pilheria situando que homem, pra botar em sua casa, casar, nunca mais.
- E se o amor bater mais forte - perguntei.
- Bate nada - diz a experiente cozinheira destacando que seu único filho tá criado e formado em dentista, que ela é feliz da vida como se apresenta, adora seus clientes, curte sua cozinha, seus amigos, se diverte, e a vida tá de bom tamanho para ela.
- Duro foi quando eu era pequena. Meu pai era pescador e boêmio, se chamava Benício, e passava seis dias no alto mar e quando retornava da pescaria passava mais 6 dias na farra, de roupa de linho, alinhado. Até que morreu num acidente de carro e a gente ficou, eu, minha mãe e cinco irmãos (filhos) se virando como podíamos - comenta.
Para Tereza, Monte Gordo é sua vida. Nunca saiu de lá desde que passou uma parte da 'mocidade' em Salvador e nem pretende sair mais, nem se casar. Seu Restaurante tem o sugestivo nome de Tereza do Mocotó e o slogan 'Melhor que comida de mãe'.
- Aqui já foi mais tranquilo. Agora, com frequência tá aparecendo jovens mortos embaixo das mangueiras e nas dunas. São as drogas, um horror. Mas, ninguém mexe comigo. Ando de madrugada para o mercado e depois venho para o restaurante. Faço tudo a pé. Eles sabem quem eu só" frisa Tereza com extraordinário bom humor.
Papo rosado, conversa animada, então como não fui a sua tenda apenas para conversar, a jovem Letícia, que nos observava e é a assessora para assuntos da boa mesa da Casa, perguntou se eu não queria 'molhar a palavra' com uma Boazinha.
- Pois sim minha chiquitita - respondi.
Quando ela foi servir a Boazinha só tinha um dedo na garrafa. Desculpou-se e emendou: - Tenho algo melhor para o senhor, uma Velha Januária.
- De todo corazon - disse eu.
Aí foi que a conversa com Tereza fluiu bem, ladeira acima, quase que íamos parar na Igreja de São Bento, o padroeiro do local, ela me dizendo que seu restaurante, há três anos, está situado na Rua Bom Jesus, s/n, a principal de Monte Gordo, em função da reforma do Mercado Municipal, mas, seu desejo é voltar pro mercado.
- Quero voltar pra meu cantinho, ter uma vida mais sossegada, deixar de pagar aluguel alto, a minha idade tá chegando e não tem porque ficar fazendo mais força demais - situa.
Ponderei se o mocotó estava de boa têmpera com pirão sob medida.
- Claro. Meu mocotó é delicioso todos os dias. Vou mandar fazer um prato pro senhor no estilo 'light' com 'livro', cartilagens, carne-de-sal presa, salada, pirão, limão, arroz branco solto e pimenta.
Então voltamos a falar de pescadores e da gente da política.
- Aqui em casa já veio todo tipo de gente, os politicos de Camaçari , de Mata, de Salvador, até o ex-governdor Wagner trazido por meu amigo e colega Franco do Raso da Catarina" - comentou.
- Algum político já prometeu alguma coisa por aqui?
- Alguns politicos de Camaçari estão passados. Mas, me dou com todo mundo e vivo do que teço. Deixe eles pra lá - sorriu.
Nesse papo amigo, fluente, a chuva caindo e as mangueiras rosas brilhando num pé à nossa vista, Letícia trouxe o mocotó e aí foi que a Velha Januária falou mais alto.
O 'livro' aberto parecendo um compêndio de Rui Barbosa, pirão de dar gosto quando colocado no céu da boca, aquele arroz solto que tem seu segredo no fazer, as carnes no ponto, a pimenta ardilosa, estava diante da 'bomba de Hiroshuima', no bom sentido, pois, o mocotó desceu mais redondo do que aquela marca de cerveja.
- Que tal, perguntou dona Tereza, a qual tem até tem sinas da Baptista Cansada de Guerra da literatura amadina - mulata cestorsa, riso largo, cabelos revoltos, firme no falar e no pisar.
- Uma delícia. Melhor não poderia ser. Ainda mais com essa prosa, com essas histórias que me contas de Monte Gordo.
- Agora, dia 23 próximo tem a festa de São Francisco - padroeiro dos pescadores - e vai ser uma beleza, com desfile de baianas, autoridades e muitos pescadores. Se o senhor puder, venha.
- Vou tentar. Se conseguir sair vivo de uma 'tatuzada' que está sendo organizada pelo marques da Placa Ford nesta sexta-feira.
- O senhor será bem vindo e vou lhe apresentar a alguns pescadores. Tudo lenhado porque a pesca não dá camisa a ninguém, mas, felizes da vida. Assim é Monte gordo... falou.
- Prazeroso, seu dúvida - fechei a conserva - e só não pedi mais uma cumbuca de pirão porque fiquei com vergonha.
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Restaurante Tereza do Mocosó
Rua do Bom Jesus, s/n
Monte Gordo - Litoral Norte de Camaçari
Fone 71. 9628-4477
Mocotó R$28,00 - serve uma pessoa
Velha Januária - R$4,00 a dose
Estacionamento na frente da casa
Pagamento em efetivo
Local arejado, pé direito alto com cobertura de telha de cerâmica
Restaurante tipo popular
Classificação 2 DONS