Biografia que mostra a vida de Elon Musk e como se dá a corrida tecnológica nos Estados Unidos espelho mundial
Rosa de Lima , Salvador |
24/10/2025 às 13:14
Recentemente, comentamos sobre a autobiografia do radialista Mário Kertész (Riso Choro e tudo mais que vem no meio) e o auto retrato do jornalista Diogo Mainardi (Meus Mortos) e neste final de semana vamos analisar a biografia do africano Elon Musk, um "workaholic" - viciado em trabalho que opera além do expediente normal, negligenciando outros aspectos da vida como família, saúde e lazer - um jovem que saiu do nada em termos financeiros e hoje é considerado um dos homens mais ricos do mundo, fundador de empresas com marcas mundiais como a Tesla e Space X e empreendedor CEO do X (ex-Twitter) entre outros investimentos.
O fato, em si, de Elon Musk ser bilionário é visto por segmentos da sociedade brasileira como pecaminoso especialmente por integrantes da esquerda raivosa, aquela que se diz a politicamente correta. Isso não norteia nosso comentário nem tem alterado o comportamento de Musk, o qual segue investindo e implantando projetos de alta tecnologia goste-se dele ou não.
É um empresário que tem verniz próprio e conhece o chão das fábricas não por apenas andar nele, mas, trabalhar, suar a camisa, atuar incessantemente às vezes 24h no ar, para que seus projetos sejam vitoriosos.
O relevante é que a biografia intitulada "Elon Musk por por Walter Isaacson" (INTRINSECA, RJ, 2023, 650 páginas, tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane Correia de Freitas, foto da capa de Art Steiber, várias fotos internas, R$60,00 nos portais) representa um extenso trabalho de pesquisa, entrevistas, depoimentos, análises de documentos sobre a vida de Musk escrita por um historiador CEO da CNN considerado um dos mais destacados biógrafos da atualidade, autor entre outras obras das biografias de Steve Jobs e Leonardo da Vinci.
O livro, portanto, tem profundidade e conteúdos bem documentados desde a vida familiar dos Musk na África do Sul, os conflitos com o pai Erool (descendente de mãe inglesa), a relação com a mãe Maye (filha de canadenses), com os irmãos Kimbal e Tosca, com os primos, a ida para morar nos Estados Unidos (1989, aos 18 anos de idade), os estudos em física e matemática, a vida familiar e pessoal com várias mulheres e filhos, a ousadia no empreendedorismo e a obstinação pelo trabalho.
Enfim, uma biografia completa em que o autor não exagera nas tintas com elogios gratuitos pelo comportamento do biografado; nem alivia nelas quando mostra algumas crises vividas por Musk na família e nos negócios. Nada, no entanto, que abalasse a sua convicção de trabalhar com uma visão de futuro, inclusive com a miragem de explorar o planeta Marte, o que para os leitores se configura mais como uma ficção científica do que como uma realidade científica.
Livro de uma crueza intensa que desnuda de ponta-a-ponta a vida de Elon Musk. O sonho de alcançar Marte, que inicialmente foi-lhe movido pelos livros de ficção, no sentido mais prático da realidade científica ajudou-lhe a ter essa visão de futuro, do uso das tecnologias avançadas, mais recentemente com a IA, e isso, creio, foi uma espécie de luz adiante do seu tempo que foi iluminando seus caminhos e projetos tão inovadores.
Creio que, o mais importante no livro de Isaacson é revelar a obstinação de Musk pelo trabalho e fé que tinha nos seus projetos. Não uma fé cristã, pura e simples, divinatória. Mas a fé baseada na ciência, na tecnologia, na certeza de que se o trabalho for feito com determinação, empenho, uso adequado das técnicas e dos materiais, dá bom resultado. E são muitos exemplos que tem no livro desde a Tesla a Space X, seus projetos mais importantes, com abrangências mundiais.
Vale também observar que o biografado portador de uma vida familiar tão desorganizada do ponto de vista formal do que normalmente se conhece - já está na terceira esposa e tem 10 filhos - isso poderia, de alguma maneira, desnortear seus objetivos empresarias, porém, isso não aconteceu. E mais sintomático ainda, Musk atua num campo da tecnologia de ponta - carros elétricos automatizados, lançamento de foguetes com satélites para uso das telecomunicações, robótica, etc – onde existe complicado e voraz disputa pelo mercado mundial, quase uma guerra.
Como então Elon Musk conseguiu essa façanha de ter uma vida pessoal agitada envolvendo alguns conflitos com mulheres e o pai e ao mesmo tempo ter uma disciplina rígida nos empreendimentos, a pontos de ser um CEO presente em todas as decisões, impor pontos-de-vista que pareciam improváveis de serem cumpridos com metas arriscadas e tecnologicamente difíceis de serem implementadas, modificar estruturas de materiais na fabricação dos foguetes, etc, e ter tanto sucesso.
Essa é uma questão que merece até uma análise mais aprofundada por sociólogos e psicólogos do comportamento humano, pois, o que vimos na biografia são narrativas com enredos complexos e exitosos, de um empresário com uma capacidade incrível de se autocontrolar e exigir de suas equipes o máximo de esforço físico e aprimoramentos técnicos para alcançar seus objetivos.
E, para tanto, não titubeiava em demitir profissionais de alta capacidade técnica, mas, que, em determinados pontos chaves dos negócios não correspondiam as expectativas. E foram muitos os que demitiu e contratou, pilotando uma turma de engenheiros de alto nível com conhecimentos em física, matemática, computação quântica, em plantas empresariais que envolviam 400/500 profissionais.
Diria, que havia (e ainda há) uma engenharia (se é que se pode chamar assim) na cabeça de Elon Musk das mais audaciosas que já vi. Sabe-se que projetos tão complexos como lançamentos de foguetes espaciais, que era uma atribuição exclusiva da NASA e o governo dos EUA abriu para a iniciativa privada (e não é só Musk que atua nesse campo; Jeff Bezos (CEO DA Amazon e a Blue Origin) também atuam nessa competição e isso exige uma grande equipe de técnicos bem qualificada.
E, como ninguém faz nada sozinho, trabalhar em conjunto, em equipe, tem um valor inestimável para que se obtenha êxito. Isso acontecia (e acontece) nas empresas de Musk, porém, todas as decisões finais (ou até mesmo complementares) passam pelo crivo de Elon.
Quando da escolha - por exemplo - do design e matérias a serem utilizados na Cybertrucks - a caminhonete da Tesla - ele praticamente interferiu na equipe para que prevalecesse um design que fosse antenado com o tempo e usar aço inoxidável na sua fabricação (foram cogitados alumínio e titânio pela equipe), que teve grande consequência para a engenharia do veículo. “Vamos colocar a resistência na parte externa, usar como um exoesqueleto, e fixar todo o restante pelo lado de dentro”, sugeriu Musk.
O uso de aço inoxidável abriu novas possibilidades para a aparência da caminhonete. No lugar de usar máquinas que esculpiram a fibra de carbono para fazer painéis com curvas e formas sutis, o aço inoxidável fornecia superfícies planas e ângulos afilado e a equipe de design conseguiu formatar ideias mais futuristas e ousadas.
Fico, prematuramente, pensando como é possível uma pessoa com uma capacidade de trabalho dessa natureza ainda ter tempo de se meter na política, apoiar Donald Trump (em parte sua ajuda foi decisiva para eleição do Republicano) e até mesmo fazer parte de sua equipe de governo tendo uma cabeça empresarial tão forte na iniciativa privada, em projetos de ponta, que, sem ele à frente não teriam acontecido (ou se tivesse acontecido teriam outro padrão). Vejam que, até agora, nem gigantes como a Chrevrolet e a Ford conseguiram competir com a Tesla.
E estamos falando de uma pessoa que tem 54 anos de idade nascido em Pretória, África do Sul, em pleno “apartheid” – movimento racista - e que migrou para os EUA aos 18 anos de idade. Vê-se, pois, que se trata de uma proeza das maiores. Pois, como se diz no popular, chegou aos EUA com as mãos abanando e hoje é um dos homens mais poderosos no comando de empresas de alta tecnologia.
Recentemente, no Brasil, fomos invadidos por oferta da Starlink um serviço de internet via satélite desenvolvido pela Space X que oferece conexão de banda larga de alta velocidade e baixa latência inclusive em áreas remotas e rurais ao redor do mundo. Utiliza uma constelação de satélites em órbita terrestre baixa (LEO) para fornecer sea internet via satélite por R$275.
E sabem de quem é a Starlink? De Musk. E sabem qual a plataforma de vendas da Starlink? A X. E sabem de quem é o X (ex-Twitter)? De Musk.
Falar no Twitter (atual X) parece uma coisa simples. Ah! Musk comprou o X em 27 de outubro de 2022 (está completando 3 anos). Mas foi uma operação super complexa envolvendo 44 bilhões de dólares (em real para se ter uma ideia algo em torno de R$220 bilhões – o orçamento do estado da Bahia é de R$70 bilhões ano), reunir um grupo de investidores, modificação da plataforma em tecnologia (revisão dos códigos) e mudança de local físico.
E tudo isso foi feito no momento em que Musk lançava o robotáxi (táxi sem motorista), a Neuralink, o Optimus (robô) e em IA projetos envolvendo a inteligência cerebral.
Poderia escrever muito mais sobre o livro, mas, fico por aqui. É uma obra super recomendável para se entender essa corrida tecnologia que tem mudado as plantas mundiais de muita coisa, mexido com os empregos (eliminando profissões e criando outras), enfim, ficar ao menos sabendo o que está acontecendo. De repente, o sonho de Musk e colonizar Marte não é tão impossível como se imaginava há 30 anos, quando ele começou.