Cultura

MORTE DE RUBINHO DOS CARNAVAIS É TAMBÉM FALECIMENTO DE UM MODELO (TF)

Ainda há alguns sobreviventes mas são poucos
Tasso Franco ,  Salvador | 16/10/2025 às 10:11
Rubinho e a turma dos Internacionais com Vinicius de Moraes, década de 1970
Foto: Arquivo pessoal
   A morte de João Rubem Carvalho de Souza, 87, "Rubinho dos Carnavais", vai sepultando também e no decorrer do tempo carnavalescos pós surgimento do trio elétrico - a partir da década de 1950 até o final do século XX - e que brincavam e cultuavam o Carnaval como manifestação da cultura popular da cidade, sem os objetivos mercantilistas que a festa se estruturou, creio, também a partir dos anos 1980/1990, com viés empresarial. 

   E tem sido assim, nos anos últimos 30/40 anos e quando morre um carnavalesco sem esse perfil, da empresa, do lucro, da camarozitação, da ganância, das marcas, balões e outras estripolias do marketing, choram-se lágrimas de corcodilo.

   Digo isso porque Rubinho já estava fora do circuito carnavalesco há mais de dez anos, abatido pela velhice e por doenças, e ninguém se lembrava dele nem lhe prestou uma homenagem devida quando vivo. 

   Agora, morto, é provável que prestem. Mas, vale pouco ou nada porque fora de tempo. 

   Rubinho deu uma grande contribuição ao Carnaval de Salvador, um Barão de Mococof dos tempos mais recentes, carnavalesco nato desprovido de ambições, puro, autêntico, e que deixou a vida encaminhar seu destino como foi-lhe o mais sensato sem nunca se meter em falcaturas, puxadas de tapetes e outras mumunhas que aconteceram nas entidades carnavalescas baianas inclusive as que fundou.

   O conheci bastante embora não fosse seu amigo pessoal. Desde quando fui colunista carnavalesco de A Tarde, a partir dos anos 1970, acompanhei todo o movimento de mudanças no Carnaval, o surgimento da Axé e das novas gerações de cantores e cantoras, das bandas, das produções, dos grupos afros, e onde tinha Carnaval estava Rubinho como incentivador, produtor cultural, radilaista e folião que amava a folia como uma manifestação da cultura popular. 

  Nunca sai no Internacionais embora frequentasse o bar da Mouraria, mas tive a oportuniade de subir no trio elétrico do Tiete Vips com Cebola, Pastore e Silvio Mendes vestido de baiana graças a Rubinho, e durante 8 anos como secretário de Comunicação da PMS (1997-2004) em que pude ajudá-lo, ajudei-o a ele e o seu parceiro de rádio Ivanildo Pontes. Fomos a vários bailes juntos em especial ao do Clube Periperi, na época do vereador Castelo Branco, e no Clube Fantoches.
  
   Morreu pobre, desprezado pelo meio carnavalesco e ambientes culturais, esquecido, protegido pela familia e amigos. Era um símbolo e ainda há outros poucos assemelhados como Rubinho que buscam manter as tradições carnavalescos dentro de um ambiente mais voltado à cultura do que ao mercantil, ao lucro, ao empresarial.

   Salvador sempre deixou rolar e não há freios. O Carnaval vai se movimentando num eixo próprio e certa ocasião perguntaram a Antonio Rizério o que iria acontecer (ou irá) e ele, que é estudioso da cultura baiana, disse que não saberia responder. Ou melhor, seu sentimento era de que havia um descontrole no ar. 

   E assim, ao que vemos, segue nessa linha mais recentemente com a intervenção do estado patrocinador do que se chama trios para os foliões pipocas, o que vai sepultar as produções, o surgimento de novas agremiações, grupos e assim por diante. Um Carnaval estatizado.

   Rubinho era o avesso desse modelo. Criou blocos, difundiu o Carnaval o quanto pode, incentivava o reino para o Momo, as rainhas, as fantasias, os tipos populares e deixa um legado enorme. Mas, creio, hoje, apenas na memória de quem o conheceu.

   Salvador não dá atenção aos seus filhos da cultura. Na próxima semana ninguém falará mais em Rubinho. 
   
    Recentemente, faleceu a socióloga Maria David de Azevedo Brandão, 92 anos, precursora nos estudos sobre o impacto da urbanização na população baiana. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamentou profundamente o seu falecimento e prestou-lhe homenagens. Na Bahia, a deputada Fabiola Mansur (PSD) apresentou uma moção de pesar. E só. 

   O estado e a cidade do Salvador tem órgãos de Cultura, mas, nada aconteceu com alguma relevância salvo as notas de pesar, assm como aquelas direcionadas a Rubinho, de lamentar seu falecimento. (TF)